Fora do roteiro turístico de Milão - CityLife
O projecto CityLife em Milão, levado a cabo por um consórcio da Generali Properties, foi outro investimento massivo que puxou pela renovação de uma vasta zona desocupada na cidade (a par do Progetto Porta Nuova, que já expus extensivamente noutros textos) a partir de 2004, no âmbito preparativo da Expo 2015.
Com o deslocamento do espaço de exposições e feira - FieraMilano - de Portello para o novo polo de Rho-Pero, uma área gigantesca de 255 mil m2 ficou liberta para ser requalificada. O projecto ganhador deu origem ao actual CityLife, por mão dos célebres arquitectos Arata Isozaki, Daniel Libeskind e Zaha Hadid, com o objectivo de representar “Milão como portal para a Europa”.
Falamos da materialização de Milão como um hub de negócios, cultura, shopping, lazer, e no fundo qualquer actividade, mas também de uma cidade virada para um futuro sustentável, promovendo a criação de novos espaços verdes e zonas livres de tráfego automobilístico.
O CityLife marca-se de um forte impacto visual, pela justaposição dos seus arranha-céus – três torres distintas destinadas a escritórios – com a zona térrea envolvente, que compreende a maior área pedonal e o terceiro maior parque de Milão. Soterraneamente, um enorme parque de estacionamento com 7 mil lugares serve os habitantes, os trabalhadores e os utentes do CityLife.
O jardim estende-se por cerca de 170 mil m2, integrando ciclovias e passeios, e em conjunto com os parques da área noroeste de Milão, permite a activação de uma larga e eficaz rede ecológica. Seguindo o slogan "Un parco fra le montagne e la pianura", isto é, “um parque entre as montanhas e as planícies”, possibilita um enquadramento adequado dos bairros adjacentes sob o pano de fundo ao longe da cordilheira dos Alpes.
Deste modo, equilibra-se de um modo estruturado funções públicas e privadas, acrescentando-se a existência de um amplo centro comercial, dois complexos residenciais de luxo e um centro infantil, assim como de zonas dedicadas à prática de desporto, a eventos culturais e montras artísticas, tudo em arquitectura hodierna e sustentável.
Projecto CityLife para revitalização do quarteirão Portello (Fonte)
Em termos de transportes, a contemporânea linha metropolitana M5 (violeta) tem uma estação no coração do CityLife, dita Tre Torri, e duas na vizinhança, que servem os bairros residenciais de Portello e Domodossola. A linha vermelha M1 serve Amendola, no canto inferior esquerdo do parque, sendo também uma opção. De outro modo, a rede de eléctricos, com a linha 19, também permite chegar a este local, bem como o serviço de autocarros 68.
Entrada no CityLife pela Piazza VI Febbraio
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"Tre Torri"
“Lo Storto, il Curvo ed il Dritto” são os nomes dados às três torres pela sua estrutura muito particular, uma torcida, outra curva e a última direita. Tomam igualmente a designação de Torre Hadid, Torre Libeskind e Torre Isozaki em homenagem aos três arquitectos que as projectaram, e são, respectivamente, as sedes da Assicurazioni Generali (maior companhia de seguros italiana), da sociedade de consultoria PwC (no futuro, quando terminada) e da agência seguradora Allianz.
TreTorri: “Lo Storto, il Curvo ed il Dritto”, com 177 m, 175 m (após término) e 209 m de altura
Três edifícios altíssimos – a Torre Allianz é o segundo arranha-céus mais alto de Milão e também de Itália - com mais de 40 andares de escritórios, donde se gozam vistas panorâmicas incríveis sobre a cidade. O que torna as torres especiais é efectivamente o seu design original e o facto de constituírem um trio único no horizonte da cidade.
Vista completa das três torres do CityLife
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Residências Hadid e Libeskind
Localizadas em lados opostos do jardim central - Piazza Elsa Morante, fazem furor em Milão pelo seu estilo extremamente avant-garde, apelativamente inconfundível. As fachadas são assimétricas e com varandas recurvadas, e os telhados apresentam um perfil suave e ondulado, tendo sido usados na sua construção painéis de fibrocimento materiais e elementos derivados de madeira natural.
Residência Libeskind, vista do jardim
Inauguradas em 2014, compreendem vários edifícios polifuncionais, sete para a Hadid e oito para a Libeskind, diferentes entre si, alocando sistemas de automação residencial e de segurança, e espaços para o bem-estar pessoal, como seja ginásio, piscina, etc. São obviamente residências luxuosas, onde habitam diversas celebridades do jet-set italiano.
Detalhes da Residência Hadid
Toda a zona, quer de um lado, quer do outro, é muito sossegada e recatada, podendo-se passear descontraidamente ao longo dos caminhos e pátios ajardinados entre os prédios. Penso poder dizer que aqui se vive realmente bem, tanto que a zona é conhecida por ser o centro do “benessere”, isto é, bem-estar, em Milão.
“Mi trovo bene, dai”
Dois pisos. Uma variedade enorme de lojas de roupa, decoração de lar, beleza e saúde, tecnologia, etc; bares e restaurantes de todo o género; salas de cinema. É assim que se caracteriza o centro comercial do CityLife. Com pouca afluência, torna-se um óptimo espaço para convívio e actividades de lazer.
“Um centro comercial que não é um caos de gente”
Mais ainda, é um local onde se realizam imensos eventos, por exemplo acções promocionais, concertos, festas e pequenas feiras. Para saber mais sobre a programação, consultem o calendário à disposição no sítio oficial.
O CityLife Anteo coloca em cartaz vários filmes internacionais, e, para quem nunca tinha ido ao cinema em Itália, foi uma experiência divertida quando em Março passado fui ver “A Favorita”. Mas desenganem-se se pensam que são as versões originais, pois é tudo dublado e sem legendas… Ainda bem que por esta altura já sou fluente em italiano, caso contrário teria sido complicado seguir o fio à meada.
Espalhadas pelos jardins e praças do CityLife podemos encontrar a céu aberto algumas obras de arte inusuais e sugestivas. Mas o espaço é tão grande que se não soubermos onde estão não as descobriremos…
Uma das mais populares para fotografias originais é “Coloris”, de Pascale Marthine Tayou. Procurem também “Hand and Foot for Milan”, “Filamone e Bauci”, e “Cielli di Belloveso”. Para não estragar a supresa, não coloco nenhuma fotografia! No total existem peças de oito artistas internacionais que foram seleccionados através de um concurso realizado em 2016. Para saber mais sobre este projecto, deem uma olhada na hiperligação acima.
O objectivo do ArtLine é difundir a arte na cidade, por contacto directo com os habitantes deste quarteirão, aqueles que passeiam no parque e todos os cidadãos, como um recurso para observar a realidade por outra perspectiva, com novos olhos. Gratuito e sempre aberto, visa confirmar a importância do espaço público na óptica da partilha do património artístico e cultural de Milão.
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BabyLife
Trata-se do primeiro centro infantil em Milão totalmente construído em madeira. Acima de tudo, é um exemplo inovador de arquitectura sustentável ao terem sido somente utlizados materiais eco-friendly e técnicas de baixo impacto ambiental para poupança energética e redução do consumo de água, com a utilização de sistemas de aquecimento de isolamento de alta eficiência.
Tanto o exterior como o interior são muito convidativos, e múltiplas actividades para bebés e crianças podem ter lugar de forma didática num ambiente que põe em prática valores importantes a serem transmitidos durante o seu crescimento. “Aprender, brincando” é sempre um bom mote pedagógico, aqui claramente valorizado.
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Outros recintos
No âmbito da transformação CityLife, os míticos Padiglione 3 (ex Pallazo dello Sport, agora Pallazo delle Scintile) e Velodromo Vigorelli estão a ser restruturados para tornar a albergar diversos tipos de eventos, essencialmente de carácter expositivo, desportivo e de espectáculo, com o intuito de restituir a animação que outrora se fazia viver na antiga FieraMilano.
Vizinhamente à área do CityLife, tem-se ainda o novo centro de congressos - MiCo (Milano Congressi) – instaurado como polo interno da nova FieraMilano.
Em termos teóricos o CityLife vence, e na prática quase todas as componentes do projecto foram realizadas (ou o que falta está perto de ser terminado), mas tendo ido lá algumas vezes, não pude deixar de concluir que parece faltar o mais importante: a “vida” em si.
Não me pareceu uma zona muito procurada pelos milaneses face àquilo que era o seu propósito, e menos ainda pelos turistas. De facto, acaba por ser um espaço muito bem arranjado, moderno, com oferta de comércio e serviços, mas estranhamente “morto”…
Pois bem, fica mais uma dica para sítios a explorar em Milão! Diferente do contexto habitual do centro histórico, é outra face da Milão moderna.
Com bom tempo, é sem dúvida uma zona extremamente agradável para passear, andar de bicicleta ou fazer jogging, e com mais do que relvado suficiente para estender uma toalha de piquenique. Ideal para relaxar sem ter à volta outras mil pessoas (como acontece, por exemplo, no jardim Indro Montanelli, para onde vão todos os milaneses apanhar sol), por isso aproveitem!
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