10 Desvantagens de fazer Erasmus em Grupo!
No seguimento do post anterior, em que falo das vantagens de fazer Erasmus em grupo, faço este exactamente com o contrário, em que falo das desvatagens ou, pelo menos, dos constrangimentos iniciais que resultam de termos de pensar no equilíbrio e felicidade de todos.
Eis, então, a reflexão contrária, em que procuro ser o mais rigorosa e correcta possível, não omitindo nem os pontos mais negativos nem valorizando em demasia os pontos mais positivos.
1 - Aprender a lingua é um processo mais lento
Aprender a língua de maneira rápida e eficaz obriga a prática constante. Sermos todos os dias forçados a falar Italiano, mesmo quando ainda não dominamos a língua é uma excelente forma se nos forçarmos a sair da nossa zona de conforto.
É normal que nos primeiros tempos haja alguma inibição em falar a língua, que à partida não vai passar por obra e graça do Espírito Santo. É preciso insistir mesmo quando nos respondem em Inglês - o que é muito comum aqui em Milão, -, é preciso cometer erros e deixar que se riam das nossas calinadas ingénuas.
Optar por ter aulas em Italiano é uma excelente forma de praticar e de falar com colegas que são nativos, que compreendem que estamos de Erasmus e que estamos a aprender a língua. Em Milão, no Politecnico, é possível escolher entre ter as aulas em Inglês ou em Italiano, o que é uma excelente vantagem para quem, como eu, queria optar por uma estratégia mais equilibrada e ter metade das cadeiras em Italiano e a outra metade em Inglês.
Bem sei que esta é das poucas, senão a única, faculdade em que é possível fazer isto, mas há que aproveitar essa vantagem. Fazer Eramus sozinho obriga-nos a procurar grupos de trabalho que nunca escolheríamos caso fizessemos grupo com outros colegas na mesma situação que nós e nos refugiássemos na nossa língua materna ou no inglês por "default".
2 - Temos mais tendência para nos mantermos na nossa zona de conforto
Com excepção de pessoas extremamente extrovertidas, a maior parte de nós tem algumas reticências quanto à excessiva socialização que parece fazer parte da experiência de Erasmus. Parece suposto passarmos de repente a sair à noite todas as noites da semana, mesmo que originalmente isso fosse uma grande miragem. Parece que é suposto falarmos e travarmos conhecimento com tanta gente quanto for possível.
Claro que a socialização com novas pessoas é inevitável e ainda bem que o é, no entanto, não deve ser forçada. Quando estamos em grupo é fácil cair no erro de forçarmos uma extroversão que na verdade não existe, só para igualar o nível de diversão que é suposto vivermos. Sozinhos, por experiência própria, tendemos a ter uma abordagem muito mais moderada, optando por uma abordagem mais tímida mas também mais genuína.
Por exemplo, estando eu a fazer Erasmus em Milão com um grupo de outros portugueses ainda numeroso, a verdade é que no início combinavamos e íamos às festas, aos aperitivos e todas as iniciativas da universidade juntos. Acabava por ser uma experiência pobre, pois continuavamos ligeiramente fechados no nosso mundinho português. Uma das melhor e mais divertidas noites que tive, ocorreu quando numa Sexta-feira, perante um convite para um Jantar Polaco, todos os meus colegas se "cortaram" e eu estava com imensa vontade de ir.
Arrisquei. Apareci e claro, que no início, tive de recorrer às minhas piadas em inglês, nem sempre muito bem construídas, para quebrar o gelo. Comecei a falar com uma rapariga belga, estudante de Cinema, e tive uma noite muita agradável pois ela sabia imenso sobre o tema e ensinou-me muito sobre uma área de que nem sei muito. Não tive a sorte de a voltar a encontrar, antes do seu regresso a Liège, mas foi uma boa lição: por vezes, é preciso desapertar as amarras e apostar em algo que não faríamos caso estivessemos acompanhados pelos mesmos colegas de sempre.
Construir uma sequência de relacionamentos um pouco fora da caixa, abre horizontes. Milão é o sítio ideal para tal, já que tem mais de 120. 000 estudantes universitários e arrisco dizer que é possível encontrar pessoas de praticamente todos os países do mundo por estas bandas. É possível experimentar muitas gastronomias diferentes, trocar impressões sobre diferentes aspectos culturais e objectivos de vida. Basta que nos lancemos a essas oportunidades!
3 - Não nos força a ser tão independentes e desenrascados
Não ter ninguém com quem contar na cidade onde estamos, obriga-nos a desenrascar da melhor maneira possível em todos os campos da nossa vida quotidiana e universitária. Não há ninguém que nos apare os golpes e nos ajude nas tarefas em que não somos tão bons. Faz-nos confrontar com os nosso medos e com os nossos maiores fracassos, obrigando-nos a "crescer" bastante em pouco tempo.
O Erasmus também serve para ganhar este tipo de competências, isto é, não é só experimentar como é que academicamente as coisas funcionam numa faculdade "irmã" da nossa. Também faz parte desenvolver competências que nos levem em breve, de preferência num futuro próximo, a sermos independentes e a dispensar o conforto e amparo, geralmente dos pais, reminiscência do nosso tempo de adolescentes.
Na verdade, verifico dos casos que me são próximos, que fazer Erasmus foi um passo importante, pois não só confronta com novas questões os estudantes, que passam a ponderar muito mais se estão a seguir o rumo certo, se estão felizes com aquela que será a sua futura profissão, como também a ponderar sobre o estilo de vida que gostariam de ter, uma vez economicamente independentes.
Eu já vivia sozinha em Lisboa há dois anos, partilhando um apartamento com outras duas colegas, antes de vir para Milão em Erasmus, e como tal, julgo que devido a isso a transição de um país para outro foi mais suave do que para os meus restantes colegas que sempre viveram com os pais ou com a família.
No entanto, aqui em Milão, não tenho a minha mãe a 1h30 de distância caso me meta numa grande buracada. É, literalmente, ficar sem sistema de apoio e ter de construir um de raíz. Tive, por exemplo, de passar a tratar da minha roupa e de me certificar que continuava a ter uma alimentação saudável e diversificada.
4 - Não torna tão fácil encontrar casa
Em Milão, como já referi, os preços das casas são bastante elevados. É bastante difícil escapar ao facto de ter de partilhar quarto - o que até pode ser uma experiência engraçada, se a pessoa for escolhida a dedo e uma boa alma.
Contudo, no início do Verão, quando começámos a procurar uma casa em Milão para alugar para 4 pessoas, a nossa vida não foi nada fácil. Obviamente, que ter todos os quartos de uma casa disponíveis, é muito raro.
A maior parte das opções que encontrámos eram quartos despernados, que apesar de serem mais baratos, não nos davam o conforto de saber que estávamos perto uns dos outros caso houvesse alguma emergência nos primeiros tempos de estada em Itália.
Vimos várias opções, mas nada aparecia que estivesse imediatamente disponível para tantos estudantes de uma vez só, até que falámos com uma colega da nossa faculdade, que já tinha estado em Milão em Erasmus. A rapariga foi muito simpática e mandou-nos o contacto do seu antigo senhorio. Caso não tivéssemos tido essas ajuda, teríamos sido obrigadas a separar-nos.
É difícil garantir que num grupo, todos tenham um nível de independência semelhante e que ninguém fique ofendido com separações, à partida não esperadas, mas tudo se consegue com uma boa conversa, onde todos ficam a saber com o que podem contar.
5 - Por vezes, é difícil não ferir susceptibilidades
Viver num país diferente é uma mudança muito grande para a maior parte dos jovens em Erasmus, especialmente para aqueles que pela primeira vez, vão mudar de casa e viver sem a família. São períodos sensíveis e em que muitas vezes as emoções estão à flor da pele. Comentários que na maior parte das vezes poderiam ser levados na brincadeira, podem tornar-se muito pessoais e ofender.
É fundamental compreender que as pessoas que vão connosco em Erasmus estão em momentos diferentes da sua vida e que é preciso ser compreensivo com os desafios com que cada um vai ter de lidar, de modo a tornar esta pessoas numa rede de apoio e não criar inimizades.
É igualmente importante sublinhar que é fundamental cada um ter a sua independência e não usar ninguém como bengala, de modo a que todos se sintam livres de viver a sua experiência Erasmus à sua maneira. O ideal é que cada um encontre o seu ponto de equilíbrio, ajudando consequentemente, a que o grupo encontre o seu.
6 – Os grupos de trabalho não são tão diversificados
Esta é uma situação que dá pano para mangas e que se aplica apenas a cursos que tenham uma forte componente prática, como o meu, Arquitectura.
Tendencialmente, pedem-nos logo, mal começam as aulas, na primeira ou na segunda vez que vemos aqueles que serão os nossos colegas de turma durante o próximo semestre, para fazer grupos de trabalho. Uma verdadeira lotaria, já que não fazemos a mais pálida ideia do quão trabalhadores e dedicados são. A única coisa com que podemos contar é com o nosso sexto sentido e digamos que, nestes casos, com tanta falta de informação, é muito fácil falhar.
Para evitar constrangimentos iniciais e o não saber em que situação se estão a meter, os alunos em Erasmus tendem a juntar-se com estudantes do mesmo país ou da mesma faculdade, de modo a poderem falar as mesma língua ou a saberem como é que os colegas trabalham. Muita gente quer organizar o seu semestre, aproveitar a experiência e não ter de estar preocupado com elementos de grupo que não aparecem com a sua parte feito. Compreensível!
Contudo, para quê ir de Erasmus senão para trabalhar com outras pessoas, conhecer novas formas de trabalhar e aprender sobre novas culturas? É uma verdadeira pena limitar-se a uma relação de confiança com medo que uma nova possa não funcionar.
Este semestre já tive algumas desilusões com grupos de trabalho, mas a verdade é que apesar da chatice que foi ter de “tapar buracos” de gente que não trabalha o que devia trabalhar, foi um prazer cruzar-me com algumas pessoas que me ensinaram um par de coisas e que me proporcionaram momentos de grande alegria e diversão. Aprendi muito sobre as diferenças culturais e a importância do respeito mútuo. Descobri curiosidades muito engraçadas sobre vários países do mundo que enriqueceram, sem sombra de dúvida, o meu conhecimento geral.
7 – Cair sempre nos mesmos hábitos
Se de um dado ponto de vista, é excelente chegar a casa e ter um ambiente acolhedor, um local de refúgio semelhante àquele que temos em casa, também é igualmente bom sair da rotina. Fazer Erasmus em grupo, torna-nos, geralmente rotineiros, pois a universidade obriga-nos a dias mais banais e repetitivos em que as pausas nunca são nada de especial, não deixando espaço para grandes, novos planos.
Sair da rotina e durante seis meses ou um ano experimentar um estilo de vida mais volátil e menos acomodado é totalmente recomendável. É uma bela maneira de descobrirmos mais sobre nós próprios, redefinir prioridades e, quem sabe, descobrir coisas que nos fazem muito felizes mas que nunca tínhamos tido a coragem de experimentar antes.
Em Erasmus descobri muitas coisas sobre mim mesma que com certeza me vão ajudar no futuro a organizar o meu quotidiano de forma mais ajustada e mais equilibrada. Por exemplo, descobri que os momentos em que caminhava ao longo do rio em Lisboa eram verdadeiramente essenciais de tempos a tempos para a minha sanidade mental. Apercebi-me de tal, quando uma vez necessitada do tal passeio, aqui por Milão, não tinha por onde o dar.
8 - Comer sempre o mesmo
Claro que em período de maior aperto, seja de que nacionalidade forem os alunos, acabamos todos a comer o mesmo: o que seja mais económico, rápido e que obrigue a poucos minutos de preparação, comprometendo muitas das vezes a nossa saúde.
Nos dias mais desafogados, em que nos damos ao luxo de cozinhar por mais do que 10/15 minutos, a verdade - pelo menos eu - tendo a fazer receitas portuguesas ou inspiradas na cozinha portuguesa, que sejam aconchegantes e me façam lembrar de casa. Excepção para a regra que me impus desde o início que, uma vez por semana, - nas semanas em que não tenho exames e dá para ter um buraquinho - experimento uma nova receita italiana, o que é uma bela maneira de ir conhecendo melhor a cultura gastronómica do país e ter um momento de relaxamento depois de um dia de aulas intensivo na faculdade.
Os meus colegas que estão a viver com gente de outras nacionalidades, falam de jantares memoráveis. Um dos polacos disse-me que estava a viver com um iraniano. Diz que a cozinha cheira sempre a caril, mas que os petiscos são deliciosos e em muitos dias não se tem de preocupar com a preparação do jantar, pois o colega adora cozinhar.
9 - Fazer as mesmas viagens
Grupos da mesma nacionalidade tendem a viajar em conjunto, pois poupa tempo de logística (geralmente à sempre uma ou duas moças que tratam de toda a programação para o grupo) e não exigem grande disponibilidade mental para ultrapassar adversidades, pois estamos sempre protegidos pelo grupo.
Viajar é bom de qualquer maneira, no entanto, também é preciso espaço para outro tipo de descobertas que só se conseguem fazer a um ou que exigem o confronto mais directo com os locais para resolver problemas e para saber mais sobre a cultura.
Recentemente fui a Bucareste, sozinha, sem os meus colegas de Erasmus, com quem vivo há seis meses. Foi uma das melhores decisões que fiz! Obrigar-me a tratar de todos os pormenores, pois, caso não tivesse sido eu, ninguém teria tratado deles por mim. Estar por nossa conta é ter a possibilidade de definir os próprios horários, escolher exactamente o que se quer visitar sem ter de fazer grandes negociações com quem possa ter gostos muito diferentes dos nossos. É contactar connosco próprios de uma maneira mais profunda e conhecer a cultura "por dentro".
10 - Não arriscar tanto!
No geral, quem faz Erasmus inserido num grupo tende a não arriscar tanto! Claro que isto não é um fado inalterável, mas tende a ser verdade - pelo que bem vejo pelos restantes colegas com quem contacto todos os dias. É quase possível adivinhar quem vive com colegas da mesma nacionalidade e quem não.
No ideal, será interessante, para quem faz um ano de Erasmus, durante o primeiro semestre, viver com o grupo, para maior conforto durante o período de adaptação e depois, quiçá, no segundo semestre "bater asa" e arriscar uma casa mais multicultural. Esta era também a minha ideia inicial, mal decidi que em vez de seis meses iria ficar um ano. No entanto, a falta de tempo entre semestre e o desgaste depois dos exames, vão me deixar pouco tempo e energia para procurar por outra casa, que claro, tenha condições similares a esta e onde os preços não sejam astronómicos. Veremos o que o futuro nos reserva! Concluo dizendo que o que é preciso é procurar o equilíbrio e fazer o melhor possível com o nosso próprio enquadramento.
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