Viena é uma cidade-espelho daquilo que era o poderio do antigo Império Austro-húngaro. Caracteriza-se essencialmente de edifícios imponentes e extramente ornamentais, quer seja pelos seus vários palácios de renome, quer seja por construções destinadas ao foro político-administrativo, cultural ou religioso, como por exemplo a câmara municipal e vários museus, teatros e igrejas aprovisionados de fachadas magistrais.
Contra factos não há argumentos, e se lerem os meus artigos anteriores sobre o melhor Viena, constarão esta realidade, que confere à cidade uma atmosfera imperial. Todavia, existem também locais de interesse que distam totalmente desse tipo de arquitectura, apelando a uma arte mais contemporânea.
O melhor exemplo, e que vos darei a conhecer neste texto, é a Casa de Hundertwasser - “Hundertwasserhaus”, situada na rua Kegelgasse, no distrito de Landstrasse, já muito perto do Donaukanal. Trata-se de um complexo de casas populares construído nos anos 80, obra do arquitecto (e artista) Friedensreich Hundertwasser, em estilo completamente fora do vulgar e único no mundo.
A ideia por detrás foi a de trazer “alegria e vontade de viver” a 50 apartamentos para as pessoas menos abastadas da cidade, reportando à criação de estruturas onduladas - efectivamente, não existem linhas rectas - com as fachadas pintadas de cores vivas e decoradas com diversos objectos feitos a partir de materiais reciclados, nomeadamente cerâmicas coloridas.
De dentro das casas crescem pequenas árvores cujos ramos saem pelas janelas, salpicando verde num puzzle de tons mistos entre o amarelo, o branco, o azul e o vermelho, como podem observar na fotografia acima. As varandinhas ganham assim jardins suspensos, pondo em prática uma das ideologias deste artista: “tudo o que se expande na horizontal pertence à natureza, enquanto tudo o que se alça em direcção ao céu pertence ao Homem”.
Relativamente ao interior, o grande realce vai para as casas-de-banho, que reportam ao movimento “Toilet of Modern Art”, promovendo a utilização de elementos decorativos originais, como cerâmicas e pequenas fontes, com cores brilhantes que tornam o ambiente estiloso, mas delicado e aprazível.
O exterior destas casas é motivo de grande admiração, sendo uma das principais atracções de Viena, no espectro do “especial”. A forma e a coloração apelam à fantasia e convidam a pensar que é possível “dar vida a coisas mortas” através de pequenas transformações.
A procura pelos turistas cresceu tanto que na vizinhança das casas foi criado um pequeno centro comercial no mesmo estilo arquitectónico - Hundertwasser Village, onde se encontram várias lojas, quiosques e cafés pitorescos. Aqui podemos sentar-nos a relaxar, saboreando uma bebida ou um prato típico vienense, com o privilégio de presenciar um ambiente ímpar.
A melhor maneira para aqui chegar é usando a linha U3 do metropolitano, saindo em Rochusgasse e caminhando cerca de 10-12 minutos a pé, ou então usar o eléctrico 1, saindo em Hetzgasse, segunda rua paralela à Kegelgasse.
Fachada lateral, vista da Lowengasse
É interessante referir que os apartamentos são geridos pela comuna de Viena, sendo arrendados ao preço de 5€ por metro quadrado. Contudo, não é qualquer família que para aqui pode vir viver: a real necessidade da família é verificada com todo o detalhe, e dá-se primazia aos agregados familiares com pelo menos uma pessoa ligada ao mundo artístico contemporâneo.
É difícil dizer, porém, quantas casas estão efectivamente ocupadas, porque do meu parecer, são mais os turistas cá fora do que os habitantes…
Não deixa de ser uma construção muito particular, com uma vertente artística, assim como social, de alto valor, que dá a Viena outro ar, mais moderno e irreverente.
Sem dúvida, um “must” para quem visita a cidade!