Holandeses diretos e persas tarofing!!
Já estiveste alguma vez muito tempo longe da tua família ou amigos? Então podes provavelmente imaginar como é te sentires como saudades de casa. É como algo afiado, um sentimento que queima por dentro e que anda sempre contigo, mesmo que estejas bastante contente no sítio onde estás.
De algum modo já te parece normal estares longe de "casa" por tanto tempo. Começas a sentir falta de coisas estranhas, que antes costumavas odiar; os peidos do teu cão, o sarcasmo do teu irmão e o chiar da tua cama na tua casa de estudante.
Coisas essas, que agora te dás conta que eram o que completava a tua vida. Sem os peidos, não há momentos de alívio quando estes se acabam, sem sarcasmo, ninguém para repreender e sem chiar, ninguém na minha cama. Bem, pelo menos a última coisa continua a ser verdade.
Eu venho de uma família que tem laços muito fortes. Seja o que for que aconteça, nós falamos sempre sobre isso e tentamos apoiar-nos uns aos outros em todas as maneiras possíveis. Somos todos diferentes, e ao mesmo tempo todos iguais. Todos os membros da família têm algo em comum com outras pessoas, mas têm traços caraterísticos que não são iguais. O que torna a nossa famílias especial e dinâmica. Ao crescer, os meus pais ensinaram-me a discutir sobre diferentes tópicos: desde política, relações, filosofia e até sexo, nada era um taboo. Tive sorte de crescer com uns pais que têm uma mente tão aberta. Apesar de que isso algumas vezes trouxe momentos de diversão engraçados.
Quando tinha 19 anos, o meu primeiro namorado celebrava o Sinterklass connosco, que é uma celebração nacional. Nós trocamos presentes, e a minha mãe deu ao meu novo namorado três caixas de preservativos. Nós não os usamos nesse mês. Sempre que olhava para eles, lembrava-me dos meus pais.
Na Holanda, nada é taboo. Somos muito claros e honestos sobre quase tudo na vida. O que também nos torna muito críticos. Quando estás habituado(a) a dizer tudo, então muita asneira também é dita de um modo bruto, muita coisa sai da tua boca. As pessoas vivem juntas (17 milhões de almas num país 240 vezes mais pequeno do que o Canadá) e a saber tudo sobre os seus bairros. Quando andámos até ao jardim, há uma grande probabilidade de o(a) teu(ua) vizinho(a) te ver e começar a gritar através da vedação (com uma voz típica da tua zona): "-‘Hee buuf, kommie lekker effe luchie scheppe? "; "-Hey, vizinho(a) veio apanhar algum ar fresco? ". O controlo social é elevado, mas ninguém se preocupa com isso. Há um ditado: "Ik heb er schijt aan" que é parecido com "Não quero saber" - "Kiss my ass" em inglês. Literalmente, isto signfica "sinto merda sobre isso", que é o meu slogan preferido de sempre.
A honestidade e a abertura, apesar de criarem um clima de abertura para as minorias, para que possam ser eles mesmos, (pensem nas testemunhas de Jeová, estranhos, e cristianismo fundamentalista, todos a viverem juntos no mesmo país) e isso pode criar alguma atitude de otários com outras pessoas. Alguém muito individualista tem a conduta "posso dizer o que quero", que eu acredito, que foi isto que tornou muitos dos países com uma política fascista no nosos mundo, e que agora está nas bocas do mundo.
O respeito já se foi. As pessoas não querem saber e seguem os seus instintos animais. Até mesmo com familiares, o individualismo vai tão longe que as pessoas já nem querem saber dos seus pais. Apenas os deixam em lares, e vão só fazer visita de médico.
Quando tive a oportunidade de conhecer melhor os amigos do meu persa canadiano, fiquei surpreendida com a educação e o respeito que eles têm uns para com os outros. Precisas de uma cirurgia e de repente já tens uma lista de amigos que se voluntariam para te levar ao hospital. Entras numa casa e recebes beijos e abraços de toda a gente, até mesmo de pessoas que nunca viste antes. Ao ligares por chamada para um membro mais velho da família, a introdução da conversa começa sempre com palavras muito educadas, sempre que falam um com o outro, e nem vou mencionar o final da conversa, que as pessoas dizem todas as possíveis frases educadas para ti, algumas vezes dura tanto tempo que pensas que nunca mais vai acabar.
O mais engraçado sobre os persas é que são calorosos e muito mais abertos, numa maneira muito diferente dos holandeses. As pessoas não falam muito sobre sexo, e isso poderá ser devido à cultura islâmica da qual provêm. Para além disso, as famílias são muito próximas e as coisas mais privadas numa saem do seio familiar. Mas apesar disso, as pessoas falam mais sobre a aparência física, do que as pessoas holandesas, e dão uns aos outros muitos mais conselhos. É outra forma de hospitalidade e de abertura, repleta de respeito pelas pessoas mais velhas, pela família e pelos amigos.
As mulheres chamam-se umas às outras ‘azizam’ que significa "querida", tocam nos seus cabelos, falam com vozes doces e estão sempre a partilhar comida. Os meus amigos persas trazem sempre pilhas de comida, e oferecem a toda a gente. Também, eles nunca dizem "não" diretamente na tua cara. Algo muito diferente da Holanda, onde "não é não" e a maioria das pessoas ficam chocadas com uma abordagem tão direta, onde as pessoas são muito "poupadas" e "economizadas", e nunca iriam trazer todo o seu frigorífico para uma festa de aniversário de um amigo.
Na cultura persa, algumas vezes "sim" significa "não", o que torna mais difícil entender a verdadeira intenção de alguém. Este conceito é chamado "Tarof" e consiste numa interminável sequência de ofertas de educação. Especialmente para mim, que venho de um país onde as pessoas são muito diretas umas com as outras, e este fenómeno é ligeiramente estranho.
Acontece quando as pessoas querem ser simpáticos e oferecem-te algo, como comida e elogios. Eles oferecem-te comida, e dizem "não, obrigado(a), estou cheio(a)", e eles voltam a insistir e dizem "Masha, tens de comer mais! A sério, come uma laranja, elas são boas. " Algumas vezes isto torna-se numa hilariante 'luta de comida', que acaba comida a agarrar rapidamente uma azeitona para cumprir com os meus deveres.
Algumas vezes "Tarof" pode ser complicado. As pessoas dizem-te uma opinião, mas depois acabam por mudá-la. Eles praticamente nunca recusam alguma coisa, ou dizem algo negativo a alguém. O que me levou a uma situação, onde toda a gente sabia que eu não estava com as roupas certas numa festa, mas ninguém me disse nada. Estes são momentos engraçados e estranhos. que no final acabas por te rir, mas quando isso acontece, tu só queres é desaparecer por algum buraco no chão.
Todas as culturas têm o seu lado bom e mau, todas as culturas têm o seu próprio charme. Sinto-me privilegiada por poder conhecer estas duas interessantes culturas, os holandeses "caras de queijo", com toda a sua franqueza; e os persas com toda a sua cortesia.
Galeria de fotos
Conteúdo disponível noutras línguas
- English: Direct Dutchies and Tarofing Persians
- Italiano: Olandesi diretti e persiani "ta'arof"
Queres ter o teu próprio blogue Erasmus?
Se estás a viver uma experiência no estrangeiro, és um viajante ávido ou queres dar a conhecer a cidade onde vives... cria o teu próprio blogue e partilha as tuas aventuras!
Quero criar o meu próprio blogue Erasmus! →
Comentários (0 comentários)