10 Desvantagens de estudar em Milão!

Publicado por flag-pt Ana Carolina Helena — há 4 anos

Blogue: Dolce Milano
Etiquetas: flag-it Blogue Erasmus Milão, Milão, Itália

Aqui há uns tempos fiz um post onde desenvolvi bastante 10 tópicos que eu achava revelarem as 10 maiores vantagens que eu encontrava por estudar em Milão. Finalmente de férias entre semestres - cá o 1º Semestre terminou sensivelmente um mês mais tarde do que na minha faculdade em Lisboa - parece-me a altura ideal - e depois de já ter passado pelas minhas primeiras avaliações - para fazer o exercício contrário.

Milão é uma cidade fantástica. Apesar de não ser uma cidade na qual me vejo a viver no futuro - apesar de eu achar muito boa para estudar - é uma cidade com muitos pontos fortes. Veremos se sou capaz de encontrar igualmente 10 pontos não tão positivos sobre os quais escrever. Este exercício conterá quase de certeza informação útil a futuros estudantes Erasmus, que vêm ou estão a ponderar vir para Milão, e gostariam de saber um pouco mais quais são os principais pontos negativos e positivos, vistos também por outro estudante.

Lembro-me que quando fui eu, me deram informação bastante vaga sobre alguns temas aos quais gostava de ter tido respostas mais concretas para fazer uma decisão mais consciente.

Nota: Isto é baseado meramente na minha opinião pessoal e influenciado pelos meus gostos. Já estou em Milão à cerca de 6 meses, julgo já ter material suficiente e recolhido a informação necessária para poder opinar de uma maneira informada. Apesar de tudo, aquilo que para mim é uma vantagem para outro estudante pode ser uma desvantagem e vice-versa. É por este motivo que vou detalhar bem cada tópico de modo que tenham a informação na vossa posse e possam tirar as prórpias conclusões. Aqui vamos nós!

P. S. Disclaimer: A minha experiência da faculdade está relacionada com o Politecnico de Milão e essa é a única sobre a qual posso dar um feedback mais aprofundado. Contudo, noto, por conversa com outros estudantes, que muitas coisas são semelhantes noutras faculdades desta cidade. (Já mencionado no outro post das vantagens).

1 - As turmas tendem a ser gigantescas;

No Politecnico, isto é bastante comum. Claro que em Lisboa as minha turmas já eram um pedacinho maiores do que aquelas que tive durante o Ensino Secundário e o 3ºCiclo. No entanto, isto sucedia maioritariamente com as cadeiras teóricas, em que o professor expõe oralmente e o número de alunos bão influencia muito esse processo. Certo que é chato no final da aula ter de esperar uns bons quinze minutos, se não mais para poder falar com o professor, mas de resto é algo fazível.

No entanto, aqui, nas cadeiras mais práticas, como por exemplo, todas as cadeiras de Projecto, iso também acontece. Turmas que em Lisboa nunca excederiam os 30, 35 alunos, aqui chegam muits vezes até aos 70.

Pelo menos no que à Arquitectura diz respeito, aqui em Milão o ensino é muito mais massificado. Existe um grande número de alunos e também um grande número de estudantes em mobilidade, não sendo por isso fácil controlar exactamente o número de alunos em todas as cadeiras.

10 Desvantagens de estudar em Milão!

Turma na Facoltà di Archittetura - Politecnico di Milano - Fonte

Contudo, este é um aspecto muito pouco positivo deste sistema. É mais complicado falar com o professor e ter a ajuda específica de que necessitamos para levar o trabalho para a frente. Muitas vezes, sente-se inclusivamente que entre os vários alunos e os vários grupos de trabalho presentes, há competição pela atenção do professor.

Muitas vezes esta situação tenta ser contornada através dos professores auxiliares, geralmente professores mais novos e não tão experientes, que contribuem com mais mãos e disponibilidade mental para acompanhar a evolução de todos os grupos, mas que também tem a desvantagem da discontinuidade.

Na minha opinião, esta é uma situação não muito benéfica já que é fundamental que não só o professor responsável pela avaliação final do aluno esteja "por dentro" de todo o trabalho desenvolvido ao longo do semestre, como também possa dar indicações preciosas ao desenvolvimento do trabalho. Por exemplo, este semestre tive uma cadeira chamada "Urban Restauration" - muito interessante por sinal - onde para além de termos aulas teóricas com a professora principal sobre documentos importantes, medidas que podem servir de exemplo para futuras intervenções e caso de sucesso, tínhamos de desenvolver a pares ou em grupos de 3 pessoas, uma análise urbana sobre uma localidade à nossa escolha dentro de território italiano.

Problema: esta minha turma tinha mais de 200 alunos, que apesar de caberem num auditório, são tantos que é impraticável a professora poder ter tempo de qualidade com cada grupo e falar sobre as diferentes localidades e o andamento do trabalho. A meio do semestre apercebeu-se de tal e pediu apoio a outras duas professoras do mesmo departamento, para que todos os grupos pudessem ter acompanhamento semanal.

No entanto, os alunos que foram obrigados, de repente, a trocar de professora a meio do semestre, foram, na minha opinião, prejudicados, já que é preciso voltar a explicar novamente como é que se processou todo o desenvolvimento do trabalho até ali e não é pouco frequente que o novo professor dicorde da metodologia aplicada pelo anterior.

2 - O alojamento universitário é caro e insuficiente;

Encontrar sítio onde ficar não é nada fácil para estudantes em Milão, especialmente para quem vem só por um semestre. O mercado privado de arrendamento acaba por ter grande controlo sobre os preços praticados - nada simpáticos comparando com Portugal - pois para o universo de estudantes universitários existentes na cidade, o número de residências é claramente insuficiente.

10 Desvantagens de estudar em Milão!

Casa dello Studente, umas das mais conhecidas residências do Politecnico di Milano - Fonte

Abriu este ano lectivo (2016-2017), uma nova residência mas mesmo assim é necessário marcar com muita antecipação para apanhar uma vaga e a maior parte dos estudantes terá mesmo de procurar por algo junto de uma agência ou de privados.

Quando vim de Erasmus ponderei uma residência e é com muita pena que concluo que não será possível ter essa experiência. Acrescendo a tudo isto, os preços praticados são elevados e muitas das vezes até superiores que quartos do mesmo género em apartamentos partilhados. Em Milão, o conceito de residência inclui uma série de mordomias que encarecem os preços.

3 - O curso de italiano na Faculdade é pago;

Pelo menos no caso do Politécnico, o curso de italiano oferecido pela Faculdade passou a ser pago (100€/semestrais) se não me engano. Claro que este se trata de um serviço extra prestado aos alunos que estão em mobilidade e pretendem melhor o seu nível do italiano escrito e falado. Contudo, no final, os alunos não têm dreito a nenhum certificado que comprove o nível de língua completado.

Assim sendo torna-se preferível procurar por opções fora do circulito académico, que para dizer a verdade ainda não investiguei bem mas que ma parecem a melhor escolha, pois o certificado é sempre garantido e isso é uma mais-valia para comprovar as minhas aptidões linguísticas.

No 1º.Semestre cheguei inclusivamente a inscrever-me no teste de nível e a ser colocada numa turma, mas optei por desistir pois não tive o melhor feedback (disseram-me que o curso em si varia muito consoante o profesor responsável por cada turma e por cada nível). Optei por comprar alguns livros e outro material didático e ir fazendo, sozinha, alguns módulos em casa.

Outra queixa que recebi e que realemente verifiquei quando consultei o calendário das aulas deste curso, visto que grande parte das aulas são leccionadas nos meses que antecipam os períodos de exames de ambos os semestres (Janeiro e Junho). Conheço quem tenha acabado por ir a muito poucas aulas e a não ter sido capaz de usufruir das aulas como gostaria.

As aulas duram duas horas e de momento decorrem duas vezes por semana, havendo dois horários que os estudantes podem escolher (Segunda e Quarta ou Terça e Quinta). No entanto, as aulas começam às 18h o que não é conciliável com aulas de Projecto e professores menos flexíveis, já que o horário é até às 19h.

4 - É difícil encontrar opções saudáveis nas imediações da faculdade;

Não existe propriamente um bar escolar, pelo menos não perto do edifício onde tenho a grande maior parte das aulas. Os espaços comerciais que vendem produtos alimentares nas imediações da faculdade são todos explorados por empresas externas, sem qualquer relação com o Politecnico di Milano.

Excluídas estas opções, existem as roulottes que vem almoços rápidos a preços em conta (un panino a 3,5€) e as máquinas de vending. As máquinas de vending, então, são para esquecer: estão carregadas de produtos muito salgados e muito açúcarados - parece que em Itália não há legislação que regule as quantidades máximas permitidas. A minha maior crítica ainda é que não existe em nenhum lado opçºoes para dietas vegetarias ou vegan (geralmente a única opção é pedir que nos façam um panino personalizado).

As minhas únicas opções, quando não quero comer porcarias e não tenho tempo de preparar nada em casa para levar para a Faculdade, são ir ao supermercado ou a um pequeno restaurante económico nas proximidades do edifício onde tenho aulas e usar o take-away.

O supermercado apesar de ser um dos mais caros - Carrefour - é a opção mais económica mas a escolha não é muito diversificada quanto a refeições rápidas. É preciso alguma imaginação e fruta da experiência deste semestre, chego à conclusão que é muito difícil evitar a tentação.

Recomendo marmitas, até por uma questão de poupança, sempre que possível. Em alguns casos, é só mesmo preciso alguma programação no dia anterior para que tudo funcione.

5 - As salas costumam estar sobrelotadas;

Encontrar um lugar para trabalhar nem sempre é uma tarefa fácil no Politecnico. Desde a junção entre os dois Pólos de Arquitectura, o número de estudantes de Arquitectura, pelo menos, aumentou bastante. Para fazer trabalhos de grupo é uma chatisse, pois perde-se quase sempre uma boa meia-hora, se não mais, para encontrar um espaço algures.

10 Desvantagens de estudar em Milão!

Espaços da Faculdade sempre preenchidos - Fonte

Existe uma aplicação, disponível para Android e IoS - basta pesquisar no Google - que permite saber em tempo real quais são as salas disponíveis de momento. No entanto, existem tantos estudantes que por vezes uma vez lá não há um único espacinho onde nos enfiarmos.

Outra coisa que me enerva é que muitas vezes apenas uma pessoa do grupo chega mas reserva logo duas meses para os colegas que só chegarão duas horas depois, o que é muito injusto para quem chega a horas e mereceria ter sítio onde se sentar.

6 - Em alguns casos dá mesmo jeito saber falar italiano;

Quando fiz a minha candidatura para o Politecnico di Milano, não tive de fazer nenhum curso de italiano obrigatoriamente. Pediam apenas que eu me comprometesse a atingir um nível médio - B1 - de italiano de modo a garantir que era autosuficiente nos primeiros tempos. Antes de vir, tive tempo apenas de completar o primeiro nível - A1 - mas estava confiante que seria capaz de comunicar. Esqueci-me que ainda levaria algum tempo a ganhar confiança para comunicar com os locais.

O Politecnico di Milano, como já mencionei, tem muitos estudantes internacionais e a grande parte dos funcionários fala inglês para que a comunicação possa ser possível. No entanto, nem sempre o nível de inglês dos italianos é elevado o suficiente para se equivaler à forma despachada como falam italiano.

Quando me comecei a aperceber-me que era muito mais fácil se simplesmente tentásse ser eu a fazer o esforço de falar italiano com ele, tudo mudou. Para além de tenderem a ser mais simpáticos, senti-me também mais ouvida e mais rapidamente atendida.

Para formar grupos de trabalho com estudantes locais - e não sempre com outros estudantes Erasmus - também ajuda bastante saber falar italiano.

7 - O primeiro impacto é difícil com os colegas italianos;

Vinda de Lisboa e conhecendo mais ou menos como era fazer Erasmus por lá, achei, inocentemente, que por aqui seria semelhante. Lisboa é uma cidade mais pequena, é muito mais fácil sentir-se parte e acolhido por lá. Nisso Milão é totalmente diferente; já que a cidade é grande, existe gente de todos os lados do mundo, de todos os lados de Itália, culturas muito, muito diferentes em coexistência directa.

Viver fora do nosso país sem grande rede de apoio é difícil. Ajuda sempre começar a ter alguns colegas com quem contar; ajuda fundamental nos primeiros tempos de adaptação.

Em Milão, isso não aconteceu, e seu eu me "atirei aos leões"! Escolhi inclusivamente cadeiras em italiano, para me obrigar a falar todos os dias e a apresentar os meus trabalhos na língua. Cadeiras em italiano equivalem a turmas maioritariamente com alunos em italiano, o que não quer dizer logo à partida logo grande convivência. A minha turma deste semestre de Projecto, por exemplo, era bastante simpática. Se tivessemos alguma dúvida, ela era-nos respondida. Se não soubessemos bem como trabalhar com o sistema online da faculdade, havia sempre alguém pronto a ajudar, mas eram sempre este tipo de questões.

Um dia tive de perder a vergonha do meu italiano ainda mal amanhado e começar a mandar umas piadas e a fazer conversa com o grupo de colegas que costumavam trabalhar nas mesas atrás da minha. Comecei, finalmente, a recer alguns convites para ir ao café e para me juntar aos almoços campais no fundo da sala de aula. No entanto, não posso dizer que fiquei amiga de algum deles ao ponto de combinarmos alguma coisa fora da faculdade parao próximo semestre.

Este semestre julgo que já começará a ser mais fácil dar-me com colegas italianos. Vou fazer todas as cadeiras em turmas em italiano e a minha capacidade e à-vontade na língua também foram melhorando naturalmente. Para além disso, já sei mais ou menos como que posso contar do primeiro semestre. Acaba por ser um pedacinho uma questão de sorte!

8 - Existe um modo muito prórpio de trabalhar;

Os italianos, pelo menos na minha área - Arquitectura - têm um modo muito próprio de trabalhar. Falo em contexto de Faculdade pois foi o único que experimentei até agora.

Não é que exista uma maneira muito diferente de fazer Projecto mas a maneira como se apresenta, por exemplo, é completamente diferente. Para dar um exemplo: as apresentações finais, na maioria dos casos, cá em Milão, são feitas deixando o nosso trabalho exposto nas mesas. Os professores analisam, em silêncio, aquilo que cada grupo entregou e depois chamam-nos cerca de meia hora depois para nos informarem das notas. Este pequeno detalhe muda totalmente a forma como os painéis devem ser feitos (os professores vêem mais de perto logo não são precisas cores tão fortes como aquelas que uso nos meus painéis em Lisboa para que sejam visíveis a dois/três metros, já que os painéis ficam afixados na parede).

Estes são pormenores que vão fazer toda a diferença nas notas no final do semestre e que ninguém nos vai ensinar ou chamar a atenção para os mesmos. São coisas que temos de ir notando e gerindo com os professores. Neste cado, julgo que na maioria, os professores italianos têm a sua maneira muito própria de trabalhar e são um tanto ou quanto inflexíveis a novas formas de o fazer. Perdi a conta ao número de vezes que durante o semestre me disseram: "Que maneira tão portuguesa de trabalhar!".

Nisto ajuda muito ser perguntador e questionar os colegas sobre tudo o que não nos seja muito claro. Na maior parte das vezes, vão ajudar e na nota final não sairemos prejudicados por coisas que são alheias ao Projecto em si e que podiam ser facilmente solucionadas.

9 - Existe excessiva burocracia

Esta é uma característica esteriotipicamente atribuída aos países do Sul e aqui por Milão verifica-se. Não que não esteja habituada que em Lisboa seja igual ou pior, mas não é possível descansar nem um segundo quanto a prazos de entrega e cumprimento de documentação.

Bem sei que o facto de estar em Erasmus envolve duas faculdades: a faculdade receptora e a faculdade de origem. Para que tudo corra bem é necessário que ambas estejam em sintonia e exista uma rápida e boa comunicação.

O Politecnico, como já disse, é uma faculdade gigantesca: ter de tratar de qualquer documento junto dos serviços responsáveis - O Studesk, no caso dos estudantes em mobilidade Erasmus - pode significar uma espera de 1h/1h30. Junto dos balcões de atendimento, há sempre imensos funcionários atabalhoados e algumas falhas na comunicação fazem com que tude se torne um pouco mais difícil.

Apesar de o Politecnico ser uma Universidade de topo, alguns processos podiam ser agilizados de modo a tornar o aluno mais autónomo quanto às decisões do seu percurso académico. Outra coisa que poderia ser ainda melhorada também é o design e a forma como está organizada a página do aluno no Servizio Online.

10 - A cidade é um pouco caótica

Milão não é uma cidade para "corações sensíveis" ou para quem não aguente muito tempo no caos citadino. A cidade é bastante habitada e existe um grande número de trabalhadores em movimento pendular, entre o local de trabalho - Milão - e os subúrbios.

10 Desvantagens de estudar em Milão!

Confusão no metro de Milão - Fonte

Não se pode dizer que seja uma cidade com uma mancha verde digna, mas existem alguns espaços que mesmo assim garantem a ligação à natureza e matam a saudade dos espaços que nos são queridos em casa.

Viver em Milão é ser um pouco um entre tantos, é preciso ser lutador e fazermo-nos notar. É uma cidade que não é amiga nos momentos de solidão e a quem ninguém, mesmo os habitantes nativos, parece ter grande apego. Resumindo: é uma cidade que não é para todos os gostos nem para todos os "estômagos". Convém fazer um exame de consciência antes de vir e ponderar se estamos dispostos e preparados para tamanho desafio. Boa Sorte!


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