Trabalhar no Bairro Alto: Diversão, Prazer e Ilegalidades
O Cenário
O Bairro Alto é um dos sítios mais icónicos para sair à noite em Lisboa. Aqui encontras todo o tipo de bares: desde Irish pubs, a Erasmus bars; bares onde podes ouvir jazz enquanto fumas um charro; bares onde podes jogar matraquilhos e snooker; bares onde danças ao som de Kizomba ou Kuduro; e muitos outros.
A variedade de pessoas é ainda maior que a dos bares. Aqui não existem elites, nem hierarquias. Toda Lisboa se encontra aqui simultaneamente para uma boa noite de diversão, esteja frio, calor, ou até mesmo uma tempestade. Todas as idades atravessam as ruas inclinadas do "Bairro" contribuindo com barulho e gargalhadas.
Sempre fui um grande adepto desta zona de Lisboa. Mesmo indo para este bairro desde os meus 17 anos (agora tenho 22), não conheço nem um terço dos seus bares, porque é habitual que cada pessoa tenha o "seu", ou os "seus" bares de eleição, para onde se dirige nas noites de "Bairro", o que lhe dá sempre uma áura mágica à volta, pois nunca se sabe o que se pode descobrir. E foi mais ou menos nesta linha de pensamento que acabei por realizar um feito que não podia adivinhar: fui trabalhar num bar do Bairro Alto.
A Tarefa
Tudo começou com uma chamada do meu primo Pedro. Dizia que precisava de ajuda para estar à porta do bar e levar pessoas a entrar no bar até às três da mahã. À primeira não fiquei muito convencido, mas depois lembrei-me que não tinha mais nada para fazer, e que era uma oportunidade única para trabalhar num bar de um sítio onde tantas noites já tinha passado. De certa forma, era uma retribuição que tinha de fazer. Então aceitei, e das dez da noite às três da manhã permaneci à porta do bar 17, na Travessa da Queimada, no qual o "17" é o número da porta.
A Experiência
A tarefa não parecia difícil, e no processo podia interagir com os transeuntes e conhecer pessoas novas. Então peguei na bicicleta e pedalei para o meu serviço noturno. Ao chegar encontrei um bar vazio, a preparar-se para uma noite de festa. Conheci o espaço, pequeno, mas que se viria a revelar bastante capaz de acolher e servir muitas pessoas. Olhei à volta para a rua e vi que tínhamos competição: um Irish pub e um bar de música latina. Este último apresentava-se como o maior rival, já que possuía uma pessoa à porta encarregue de atrair clientes (tal como a minha tarefa) e que era um autêntico imân de pessoas! As suas abordagens e oratória eram tão eficazes que eram onze da noite e o bar já estava cheio!
De qualquer das maneira, nesta rua todos são amigos, e não existem rivalidades, até porque esse indivíduo começou a noite a beber um shot com o staff do bar onde trabalhei.
O Pedro explicou-me que entre as onze e a meia-noite o bar enchia, e que era preciso ter calma. Também me explicou que o meu trabalho principal não era atrair pessoas, mas sim evitar que a Polícia visse as portas do bar abertas, porque estas deviam estar fechadas a partir das onze, mas ninguém na rua o respeitava. Afinal de contas, é o Bairro Alto, os bares têm de bombar música para a rua.
Assim, fiquei mais aliviado. Já não tinha a responsabilidade de atrair pessoas, e passei a fazê-lo por prazer. Meter-me com cada grupo que passava, conhecer pessoas estrangeiras, e de vez em quando fechar a porta se a Polícia passasse.
Tudo correu bem. Começaram a entrar raparigas no bar, foram-lhes oferecidos shots grátis a noite inteira, ficaram por ali, e o bar foi enchendo à medida que mais gente ia passando e vendo a festa que por ali se encontrava.
Começei a falar com grupos aleatórios e convenci um grupo de raparigas italianas a entrar e a beber umas caipirinhas. Eram estudantes de medicina, e tinham vindo a Lisboa celebrar a sua graduação. Também conheci um grupo de Suiços e de Gregos, tudo a visitar a bela cidade de Lisboa. Holandeses também estiveram presentes. Também não puderam faltar os indianos e africanos que vendiam vários tipos de chapéus, óculos de sol e isqueiros.
Por volta da uma e meia da manhã já o bar tinha esvaziado, e pensei que o meu trabalho estivesse por terminado. Já estava cansado, e a ideia de acabar o trabalho mais cedo agradava-me. No entanto, explicaram-me que ainda iria haver uma segunda leva, coisa que não acreditei imediatamente, mas que acabou mesmo por acontecer. Do nada, já o bar estava cheio outra vez, e aconteceu exatamente da mesma maneira: as raparigas que entraram primeiro voltaram a encontrar o bar aleatoriamente (digo isto porque entretanto já se tinham ido embora para outra zona do bairro, depois de beberem a quantidade de shots que queriam, mas na sua embriaguez voltaram exatamente ao mesmo bar, como que num labirinto, e ao reparar nisso soltaram imensas gargalhadas e voltaram a entrar) pediram shots, foram oferecidos, e homens e mulheres juntaram-se-lhes novamente.
Este cenário fantástico depressa se tornou-se estafante para mim. Passei de terminar o meu trabalho à uma e meia, para o acabar às três e meia porque o bar foi o último a fechar na rua e toda a gente queria beber a última bebida da noite. No entanto, o meu trabalho estava feito. Tinha conhecido novas pessoas, contemplado novas coisas, e trabalhado num novo sítio.
Aconselho a experimentarem!
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