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Mercado Negro


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O Mercado Negro

Publicado por flag-pt Inês Melo — há 4 anos

A vigiar a Ria de Aveiro, fica um dos mais elaborados e icónicos bares de Aveiro

O Mercado Negro é uma referência para todos os estudantes e restantes habitantes de Aveiro. Uma entrada escondida não deixa antever as maravilhas deste espaço. É preciso procurar bem.

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Encontrada a pequena porta, segue-se a enorme escadaria que nos leva para o nível superior do centro aveirense, de onde se tem uma vista privilegiada para a Ria. Aqui já se começa a perceber um pouco aquilo que vamos encontrar pela frente. Finalmente, depois de muito subir, umas vezes rápido, outras vezes a tentar acertar nos degraus, visto que muitos de nós vimos da praça, chegamos ao cimo.

A primeira impressão é que nos enganámos no caminho e que entrámos numa casa de desconhecidos que por acaso tinham a porta aberta, para a qual nós, confortados pelo calor das bebidas da praça, alegremente fomos atraídos. Só o elevado número de pessoas nos indicam que tal sítio não pode ser uma casa normal. Aqui temos de tomar uma decisão:

Esquerda ou direita?

Se formos para a direita, a princípio o fumo não deixa vislumbrar o sítio a que acabamos de chegar. Aqui logo se percebe que é a zona para fumadores. E o único sitio do bar com janelas, viradas para a Ria.

Mas vamos virar para a esquerda, não há fumo. Aqui somos presenteados com um corredor sem fim, e bastante estreito que dificulta duas pessoas a andar lado-a-lado.

Contudo, o ambiente deste espaço torna-o único

À medida que atravessamos a corredor e vemos as várias salas, com entradas ainda mais estreitas, temos a impressão que voltámos ao século XVIII e que fomos convidados por Luís XIV a passar um serão em Versalhes. De aspeto antigo e clássico, entramos num ambiente completamente diferente do resto da cidade. Livros “alternativos” de que nunca ninguém ouviu falar, a não ser os “alternativos” com os mesmos gostos “alternativos”.

Mas a decoração não se fica nada atrás

Os móveis de certeza que vieram mesmo do século XVIII. Tem uma televisão que até a minha avó chamaria de velha. Como é óbvio não funciona. Nem essa nem outra que lá possa existir e eu nunca tenha visto. Sim, porque lá não há televisão. Há convívio cara a cara, que só é interrompido pelos sons de notificações do Facebook nos telemóveis.

Mesmo antes de chegar ao bar, no fim do corredor, há uma sala que nunca percebi bem o que é. Sala de exposições, talvez. Nunca percebi para que servem as coisas que lá estão. Mas a sala está lá. Não percebo é porquê. Virando à direita, antes de entrar no bar, e percorrendo outro pequeno corredor, encontramos as casas de banho. Não fui lá muitas vezes e ainda bem. Fazem-me lembrar as casas de banho daquelas discotecas que só a malta da pesada frequenta. Sujas e com mau cheiro. Não que eu tenha algum problema com a malta da pesada, mas só não gosto das casas de banho. Mas aqui não há nada de interessante.

Vamos para o bar. Onde se vendem bebidas. Segue a mesma decoração que o resto do espaço. Um pouco escuro, mas bastante acolhedor e agradável. Tudo o que for meio estranho e alternativo, é usado como algum tipo de sinal neste bar. Os preços estão escritos em garrafas, vidros, nas janelas, e no que der para escrever. Não há as típicas folhas de fundo branco impressas a Comic Sans ou Times New Roman com os preços e um desenho manhoso de um copo e um cerveja no fundo. Nada disso, a forma deles é mais gira. Mas se a forma de apresentar os preços é gira, o que lá está escrito já não é assim tão giro.

Os preços são um pouco altos para o comum e falido estudante como eu. Uma bebida ou duas no máximo, aceita-se. Mais que isso e fico o dia seguinte sem poder almoçar a sandes de panado em pão d’Avó e lanchar o croissant com chocolate do meu departamento. Uma cidra, que cerveja eu aceito, mas cidra eu desejo, e lá se foi o pão d’Avó. Mas pronto, a malta faz o esforço, porque vale a pena e bons momentos se passam lá.

Mesmo ao lado do bar, fica uma das salas com sofás e algumas mesas, para além das do bar. Aqui a decoração ainda é mais estranha. Assentos almofadados de cadeiras antigas enchem as paredes. Sim, assentos. Parece um cena macabra do imobiliário. Os sofás e mesas que enchem a sala, condenados a verem os seus parentes esquartejados nas paredes, são diferentes uns dos outros, dando a impressão que tanto foram comprados no Ikea do MarShopping, como numa feira de rua no meio de Bombaim. E mesmo no canto, está uma daquelas coisas típicas que esperamos mesmo ver quando vamos sair à noite num bar. Uma máquina de costura antiga. Com mesa e cadeira destinadas a quem quiser, entre cervejas, dar um pontinho no casaco. Se isto parece estranho? Parece, mas é o Mercado Negro, por isso até é bastante normal.

Já cheguei ao fim do corredor. Agora vou voltar para trás, para as salas de convívio, aquelas com portas ainda mais estreitas que o corredor. Entramos na sala maior e vemos logo os típicos jogos de café. Setas e bilhar. Com sofás e cadeiras que parece que se vão partir ao mínimo toque. Parece, porque não partem. Perfeita para, como na verdade todas as outras salas, longas conversas entre amigos, para um serão bem passado. E se por acaso são como eu, que por vezes desligo um pouco da conversa, há sempre algo com que passar o tempo. Espalhados por todo o bar, estão revistas, panfletos, livros sobre os mais variados temas, como história, literatura, arte (alguma bastante estranha), tudo o que nos permita ser ficar mais cultos, numa saída à noite. A verdade é que não percebo metades das coisas que lá estão escritas, mas pelos menos é bom sair para algum sítio em que as únicas coisas que posso ler são que o Ronaldo e a Irina já não namoram e que o Benfica ganhou ao Desportivo das Aves.

Saindo desta sala, ainda há mais uma para onde ir. Uma sala perfeitamente normal e nada estranha num bar noturno. Mesmo ao estilo do Mercado Negro:Uma livraria

Ao estilo dos livros que se encontram por todo o edifício, estes livros apresentam os mais variados temas. Aqui não há Nicholas Sparks nem livros do Crepúsculo. Há, mais uma vez, aqueles livros que nunca ouvi falar e que nem percebo o que dizem, até porque alguns estão em grego e alemão, e outras línguas que não sei identificar. E outros, que pelo contrário, todos os conhecemos. Os verdadeiros clássicos de contos. Livros do Tintin e do Sherlock Holmes. Entre outros. Há lá livros de A a Z, sem qualquer tipo de preconceito ou julgamento, permitindo-nos sair um pouco do nosso culto habitual.

Mas nada aqui cheira a novo. Mas também não cheira a velho. Cheira a usado, mas não por isso mal. Isto porque muito dificilmente se encontra um livro novo. Todos os livros em que se pega foram usados, manuseados, lidos, folheados. Mas mesmo assim continuarem tratados. Isto é bom e mau. Há pessoas que não gostam que toquem nos livros, e tem medo de germes e tudo o que mexe. Quanto a mim, gosto. Acho que acrescente uma certa personalidade. É giro. Até o senhor que está a vender os livros ajuda a criar o ambiente da livraria. Grande, gordo, de barba grande e branca, com uns óculos pequenos (não é o Pai Natal). Só faltava mesmo estar vestido com roupas antigas do século XIX ou um desses séculos todos cheios de modas clássicas.

Agora voltando outra vez para o corredor. Mais uma vez. É comprido. É estreito. Mas mesmo assim, ainda deixa espaço para arte, ou não fosse este a entrada para o palacete. E esta arte, varia. Varia porque são enormes pedaços de papel colados nas paredes do corredor para que quem lá passe deixe a sua marca. Mas com uma caneta, porque não são as marcas que os cães deixam para marcar o território. Obras de arte incríveis e cheias de expressão cruzam-se e misturam-se com rabiscos de um babuíno com uma caneta. Olhando de longe, ao fim de uma sessão de pintura, parecem gatafunhos à porrada uns com os outros. Individualmente, encontram-se verdadeiros talentos que dão prazer à vista. Com talento ou não, eu gosto. Mais uma vez, é giro. Mais uma vez, dá personalidade. E mesmo antes de acabar, só falta falar da música. Seja ao vivo, seja sem ser ao vivo, música de qualidade ajuda a criar um ambiente confortável que pouca vontade cria nas pessoas de abandonarem o local. E é isto.

Se vierem a Aveiro, passem por lá. Não perdem nada se não forem lá. Mas ganham muito mais se lá forem. Até porque, não fosse esta uma área de Mercado Negro, ali há tráfico, muito tráfico. Tráfico de bons momentos e noites bem passadas que ajudam a abrilhantar ainda mais a vida aveirense.

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