ERASMUS 101 – o que devemos evitar
A experiência Erasmus oferece-nos vivências incríveis, que certamente guardaremos toda a vida no coração e na memória.
No meu anterior texto “ERASMUS 101 – algumas sugestões”, abordei aquilo que de melhor podemos retirar desta experiência, sugerindo algumas dicas para desfrutar ao máximo.
Neste texto, pretendo falar noutra perspectiva, listando alguns tópicos sobre coisas que devemos evitar durante Erasmus. Não só referentes à minha experiência, como também da recolha de opiniões de amigos que fizeram Erasmus.
1. Dramas
É logo a primeira coisa que menciono porque é, sem sombra de dúvida, a mais importante. E digo isto porque eu não fui capaz de fugir aos dramas, tanto que o meu Erasmus se tornou (se bem que somente no final) psicologicamente desgastante, o que acabou por colocar uma nuvem negra por cima de toda a experiência, que até então tinha sido praticamente perfeita.
De facto, já tinha apontado no outro texto a questão do nosso grau de envolvimento com as pessoas, e é muito importante que saibamos dar um passo atrás e cuidar de nós e dos nossos interesses nos momentos-chave.
Claro que dramas podem surgir em qualquer lado, fruto de situações que, sobretudo, estão dependentes do comportamento das pessoas; não têm de obrigatoriamente acontecer em Erasmus. E do que sei de muitos amigos que dispersaram um pouco por toda a Europa e até além continentes, poucos foram os que tiveram realmente problemas. Eu devo ter sido carapau-de-corrida e eleita mártir de serviço em Milão…
Brincadeiras à parte, sejam dramas com “rapazes” ou amigas, sejam chatices com colegas de trabalho, o melhor remédio é nem sequer dar hipótese a que aconteçam, cortando cedo o mal pela raíz. Isto é, remover da nossa proximidade as pessoas que aparentam, ou dão a entender, vir a causar óbices; ou assim que sucedam conversas desagradáveis ou acontecimentos específicos, como por exemplo demonstrações de falsidade, actos de má-fé ou mesmo ameaças.
Erasmus é para ser vivido com felicidade, pelo que carregar com dramas é um peso totalmente desnecessário.
Momentos felizes, logo desde início (Foto tirada em Fevereiro de 2018)
2. Aceitar/recusar "todos" os convites para programas sociais
Preparem-se antecipadamente para a realidade de que irão “chover” opções todos os dias. Eventos variados, mas tudo dentro do mesmo cariz social: convívios, jantares, saídas à noite, festas, viagens, etc
Somos impelidos a querer fazer tudo, a dizer sempre que sim a todos os programas, a estar com toda a gente, porém, se for em demasia, deixa de ser algo positivo da experiência, e passa a ser uma obsessão desmedida - a chamada “vida louca” de Erasmus. Esta é uma experiência multi-facetada, como tal, não devemos focar os nossos interesses somente na vertente social, nem procurar andar sempre em festa, porque isso é verdadeiramente redutor do fantástico panorama geral de Erasmus.
Não obstante, por outro lado, é muito importante também que não tentemos esquivar-nos constantemente dos convites que recebemos, pois um dos aspectos-chave de Erasmus não deixa de ser socializar, conhecer pessoas novas, dar azo a sairmos da nossa zona de conforto e superar barreiras. Isolarmo-nos é o pior!
"Statale on Ice" - patinagem no gelo organizada pela ESN Statale (Foto tirada em Março de 2018)
Deste modo, é fundamental encontrar um equilíbrio entre aderir a actividades das organizações Erasmus e passar tempo sozinhos, como de resto referi mais detalhadamente no texto anterior.
Há que saber gerir o nosso tempo, a nossa energia, e, mais ainda, o nosso dinheiro, o que me leva ao ponto seguinte.
3. Gastar demasiado, mas mesmo demasiado dinheiro
6 meses em Milão resultaram-me num gasto de 6555€, o que dá uma média de mais de 1000€ por mês... Assustador? Bastante! Claro que este valor total inclui viagens de e para Lisboa (contando ainda com custos de bagagem extra, pois levava uma data de malas), mas mesmo assim, descontando essa questão, ter vivido lá correspondeu a um gasto de 6100€.
Como? Primeiro que tudo, as rendas são altíssimas. É impossível encontrar um quarto individual por menos de 500€, seja em que parte da cidade for. Quanto mais longe do centro, mais barato fica, mas posso dizer-vos que pagava quase 600€ por mês numa zona – Corvetto - que, apesar de conveniente em termos de localização, não é das mais recomendadas. Ainda assim, não posso queixar-me, porque de facto o meu apartamento era óptimo e com o passe mensal dos transportes ATM (22€ para estudantes) deslocava-me facilmente para todo o lado, fosse para o trabalho ou para circular na cidade.
A segunda questão, compras de supermercado. Todos os meses gastava à roda de 150€ em comida. Em Milão tudo é mais caro, e por muito que existam várias cadeias de supermercado, não tinha sentido andar à procura do mais económico possível a quilómetros de distância, quando tinha um Carrefour 24/7 na porta ao lado. Nem sei se nos outros sítios os artigos eram realmente muito mais baratos – duvido – mas o que é certo é que volta e meia comprava as mesmas coisas, também porque a variedade (e a qualidade aparente) não eram assim tão sugestivas.
Acho um pouco difícil seguir uma alimentação ultra-rigorosa durante o período Erasmus, mas posso dizer que tentei ao máximo manter as raízes portuguesas e o conforto da comida caseira, preparando refeições ao estilo do que como em casa. Além do mais, tinha de levar marmita para o trabalho, o que, contas feitas, envolvia algum tempo a cozinhar.
Assim sendo, tudo o resto que gastei ao longo dos meses foi derivado de fazer viagens, ir a festas, almoçar ou jantar fora… Coisas fundamentais em Erasmus, o que implica ter dinheiro de reserva e saber balancear os gastos de forma adequada!
É essencial poupar para podermos viajar dentro e fora do país, seja em grupo ou organizado por nós próprios, pois esta é uma componente muito apelativa de qualquer experiência Erasmus. Explorar convenientemente a cidade onde nos encontramos é obviamente obrigatório, mas ter a possibilidade de visitar outros sítios é um 2 em 1!
Viagem a Verona organizada pela ESN IULM (Foto tirada em Março de 2018)
Um dos muitos "aperitivo" (Foto tirada em Junho de 2018)
Por favor, não deixem de ir a algum lado que queiram muito por causa de dinheiro ou outro motivo que não seja realmente impeditivo, porque depois vão olhar para trás e arrepender-se de não ter aproveitado a oportunidade - não vai nunca voltar a surgir o mesmo contexto, mesmo que a pessoa volte ao local.
Claro que às vezes é mesmo necessário cortar com gastos superfluos, mas há sempre um modo de conseguir as coisas. Por exemplo, houve alturas em que eu estava para receber o dinheiro da bolsa e não tinha fundo de maneio, e vários amigos ofereceram-se para emprestar ou pagar qualquer coisa, do mesmo modo que eu também já o tinha feito por eles e voltei a fazer noutras ocasiões.
Para o custo de vida em Milão e a forma como organizei a minha vida, e para a quantidade de coisas que fiz (sem ser exagerada), não acho que tenha gastado loucamente ou cometido grandes excessos; para o custo de vida em Lisboa, claramente esbanjei uma fortuna.
4. Fixar-nos excessivamente na universidade ou no trabalho
Ainda que frequentemente Erasmus seja associado à “balda” escolar, a verdade é que nem sempre isso se verifica. Depende muito da Universidade onde vamos estudar, que cadeiras vamos fazer, quantas equivalências precisamos…
Eu fui fazer a tese de dissertação, o que desde logo representava algo diferente em comparação com muitos dos amigos que fiz, pois tinha de ir para o laboratório todos os dias. (Ou quase todos… Algumas vezes não era realmente necessário ir, podia trabalhar em casa, e outras simplesmente não me apetecia muito. E também não vinha mal ao mundo porque aquele sítio, por muito que tivesse várias coisas más, tinha o bom de ser não ser de todo muito exigente, até porque se contavam pelos dedos as vezes que era supervisionada ou me diziam concretamente o que fazer, mas deixemos isso para outros relatos.)
Apesar de ter estado sempre a trabalhar (em teoria não tinha dias livres durante a semana, mas já se está a ver que muitas vezes também saía relativamente cedo), nunca estive exclusivamente focada no trabalho ou exageradamente preocupada com o que fosse, até porque teria dado em doida. E para isso, embora por outros motivos, já bastavam outras pessoas lá do sítio.
De outro modo, quem tinha várias disciplinas de estudo, com muitos exames à mistura, passou por alguns momentos de maior stress e agitação, pois tinham a obrigação de passar, e preferivelmente com boa nota.
Vi pessoas a fazer noitadas, a panicar com as provas, etc mas no final o que conta é o resultado, e será melhor se soubermos equilibrar as nossas actividades diárias e não deixarmos de dedicar o tempo necessário ao cumprimento dos objectivos universitários, que são também uma questão fulcral do Erasmus.
5. Não querer explorar a língua e os costumes locais
Falarmos apenas com pessoas do nosso país ou que falam a nossa língua, ou estar sempre só com as mesmas pessoas, é um erro tremendo!
Aproveitem para melhorar o inglês e ficar a conhecer também um pouco de outras culturas, porque há tanta gente de diferentes cantos do mundo com histórias interessantes para contar e com quem podemos partilhar risadas e divertir-nos, mas fazer amigos locais é extremamente importante para reter um bocadinho da essência do país que escolhemos.
Temos naturalmente maior tendência a restringir-nos ao grupo Erasmus/Internacional, principalmente por estarmos todos na mesma onda, mas grande parte da minha experiência foi igualmente memorável com os colegas e amigos italianos que fiz no laboratório, com quem passei muito do meu tempo, inclusive fora do trabalho.
Quantos e quantos programas, desde "aperitivo" e jantares a jogos de voleibol e idas ao ginásio, a passeios nos lagos, (e a outras coisas que ficam melhor guardadas num cofre fechado a sete chaves do que nas nossas recordações), tornaram a minha experiência Erasmus especial.
"Serata beach volley"
Esforcei-me a 1000% para aprender italiano e falar com eles, saber mais sobre a cultura italiana, desde a gastronomia às tradições (a tudo, na verdade, porque adoro Itália) e ganhei imenso com isso, não só a nível de relações interpessoais, como também a nível dos valores sociais. É fundamental respeitarmos as pessoas que nos acolhem, e isso implica também tentar aprender o mínimo da lingua!
Outra questão é se eu fui igualmente respeitada ou houve semelhante interesse na cultura portuguesa… No geral sim, mas devo dizer que nalguns momentos me senti desapontada pela falta de tacto italiana.
De qualquer forma, agora falo mais uma língua!
6. Falar constantemente com a família ou amigos de “casa”
É normal ter saudades, mas não é saudável à nossa estadia no estrangeiro, que representa também um ganho de independência, se todos os dias falarmos com os nossos pais ou quisermos saber o que se passa na nossa cidade de origem.
Erasmus é quase como entrar numa vida paralela, na qual tudo o que se refere à vida real não tem lugar cativo. Todo e qualquer problema passado é para ser colocado de lado, porque mil e uma novas coisas vão acontecer neste outro país, nesta fase da nossa vida. Nem há tempo para pensar em coisas que saiam foram deste novo mundo!
A minha sugestão é falar com a família duas a três vezes por semana. Foi mais ou menos assim que fiz, mas posso jurar que parecia que estava sempre a falar para casa, visto que estava sempre tão ocupada que os dias passavam a correr e nem me apercebia que já tinha sido há uns quantos que tinha ligado eu à minha mãe ou ao meu pai.
Mas muitas vezes ligavam eles (e em circunstâncias inoportunas, diga-se de passagem), a querer saber novidades e ouvir-me falar com entusiasmo desta maravilhosa experiência em Milão.
Aproveitemos este tópico para fazer também referência à situação de ir de Erasmus com namorado/a. Pode não ser um problema ou pode ser mau, tudo depende de como as pessoas se organizam e da sua própria personalidade e maneira de estar.
Por um lado, pode ser um entrave ao divertimento – conheço casos de pessoas que acabavam por estar mais tempo ao telefone ou a fazer videochamadas com o par do que a aproveitar a experiência Erasmus; por outro, a distância não resulta com todos e muitas relações terminam pelo facto de uma pessoa ir para o estrangeiro. Esta segunda situação foi o meu caso, mas uma vez em Milão tudo andou para a frente (ainda que a custo em certos momentos).
Erasmus é para aprendermos a ser menos dependentes e também a conhecer-nos mais a nós próprios
7. Andar sozinhos à noite, ou em bairros não aconselhados
Esta é uma dica que eu não segui de todo… Aos molhes de vezes que andei sozinha de noite, pelo menos para voltar para o meu apartamento, quando regressava com o autocarro nocturno vinda das discotecas. Os italianos diziam que eu era louca, que jamais eles fariam o mesmo… Para mim não apresentava grande problema, talvez por hábito aqui em Lisboa, talvez por conhecer já bem Milão.
Os transportes em Milão são bastante fidedignos, mesmo à noite, e, por muito que de vez em quando a frequência seja desagradável, sempre achei preferível a andar de táxi, que sai caro e ter-me-ia levado à falência com a quantidade de vezes que saía.
Nunca me aconteceu nada, tal como nunca aconteceu em Lisboa, mas isso também não importa muito onde estamos porque pode suceder a qualquer um, em qualquer lugar. Por isso não tem sentido ter medo de andar pelas ruas, apenas há que ter o cuidado básico e necessário.
Por exemplo, logo na segunda semana de Erasmus, um dos meus melhores amigos foi assaltado, tendo-lhe sido apontada uma navalha, numa das piores zonas de Milão – Macciachini. Estávamos a caminho da discoteca Alcatraz, que é das mais populares e procuradas na cidade, apesar da zona, e pelo facto de ele se ter separado do grupo, estar alcoolizado e vulnerável, mais ainda notando-se ser estrangeiro, foi uma vítima fácil. A outra amiga, coreana, também foi roubado o telemóvel, de dia na estação central…
Mas claro que é preferível andar em grupo sempre que possível! Não só nos sentimos mais protegidos, como também é uma solução para a questão do táxi, já que pagamos menos ao dividir a despesa. Por acaso em Milão havia o “Heetch”, um serviço para o qual costumávamos ter códigos de desconto ao fazer parte da ESN, o que era sempre bom.
E estas foram mais algumas das minhas dicas, a reter na mente para quem vai de Erasmus!
E lembrem-se que irão sentir e acreditar vivamente na frase "once Erasmus, always Eramus"!
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