Polónia + comboios = modernidade
Estou certa que a primeira coisa que vos corre pela mente quando ouvem “Polónia” não é inovação.
Pois bem, os vossos cérebros precisam de ser reformatados. O meu foi, forçosamente. Fiquei extremamente impressionada com a modernidade exibida por terras polacas. Isto, em especial, vinda de Itália. Quanto em Itália se gabam da sua componente história e “quanto mais antigo melhor” é um lema de vida, na Polónia gabam-se da novidade. Esta segunda visão do mundo agrada-me bastante mais.
Ao chegar a Gdansk, fiquei automaticamente impressionada com o Aeroporto Lech Walesa.Eu já estive em alguns aeroportos europeus e aquele era, certamente, o mais moderno em que já estive. Falem aos polacos sobre como criar primeiras impressões: eles saber sobre isso! Tudo bem iluminado, bem indicado e, sobretudo, belo. Uma enorme parede de vidro cobre toda a fachada do edifício. É, de facto, mais bonito que certas galerias. Arriscava-me a dizer que merece uma visita por si só.
(http://www.nightlife-cityguide.com/en/Guides-Travel-Destinations/poland-europe/How-to-get-Gdansk-lech-walesa-airport-link-bus-transport-ship-Center/)
Ao sair, encontramos imediatamente a estação de comboios de Gdansk Lech Wałęsa. Fica literalmente em frente ao aeroporto. “Impossible to miss”, diriam os ingleses. Ora bem, a questão agora era: como comprar um bilhete para ir para Sopot. Sabia que tinha que trocar de comboio na estação de Gdansk Wrzeszcz – esta última palavra estranha, com oito letras e uma vogal, deve ler-se como qualquer coisa semelhante a “vejés”. Cheguei-me perto da máquina. DRAMA: POLACO EVERYWHERE! Se do italiano ainda se apanha o significado da frase apenas por olhar para ela, em polaco as probabilidades são iguais a zero. A temperatura negativa e o entusiasmo pela neve também não facilitaram as coisas.
Lá consegui por a máquina em inglês, coisa que, após acalmar, foi até bastante simples. Comprei dois bilhetes e esperei que a máquina anunciasse o valor da minha primeira compra em zlotys. Estava algo emocionada com este momento, confesso. A máquina pediu-me onze zlotys. Inseri uma nota de vinte e, como estava habituada a que as máquinas italianas não oferecessem troco, fiquei algo aliviada quando ouvi o barulho das moedas a cair. A senhora máquina, eficiente como seria de esperar, cuspiu um papel que valeria para a minha viagem.
Enquanto esperava, pensei “pronto, lá terei que passar uns trinta minutos numa espelunca de comboio até ao centro da cidade”. Enganem-se. Do encoberto do nevoeiro surgiu um comboio moderno, estilizado e que era capaz de convencer se alguém me dissesse que estava a fazer a sua primeira viagem. Entrei, algo suspeita. Os bancos confortáveis. Sistemas informáticos a avisar das estações. Interior aquecido. Gostei. Acreditem que isso é pouco: adorei. A viagem começava já a valer o preço por si própria.
(http://thenews.pl/1/12/Artykul/144058,Highspeed-Pendolino-train-arrives-in-Poland)
Valeu mesmo. A paisagem era qualquer coisa de fenomenal. O nevão que tinha caído em Gdansk, da falada tempestade que estava a afetar a Polónia e a Alemanha, tinha coberto a cidade com um manto de beleza poucas vezes vista em território nacional. Um coberto frio pronto para aquecer as minhas memórias. Passou pouco tempo desde a viagem e já a recordo com saudade.
Ao sair em Gdansk Wrzeszcz– sim, aquela estação da palavra estranha e quase impronunciável – encontrei a minha prima à minha espera. A partir daqui, iria estar a salvo da língua polaca. Não porque ela a fale – não são quatro meses que capacitam um português a falar polaco -, mas sim porque já está mais que habituada ao sistema local. Ao chegar, aconselhou-me a comprar bilhetes como estudante. Deste modo, conseguiría um desconto significativo. Foi o que fiz. Para terem uma ideia, uma viagem de Gdansk Wrzeszcz para Sopot custa a módica quantia de 1 zloty e 85 “cêntimos polacos”. Sendo que quatro euros e trinta cêntimos são um zloty, façam as vossas contas. Sim: o preço pelas viagens de comboio é absolutamente ridículo.
(https://www.trojmiasto.pl/wiadomosci/Powstanie-trzeci-peron-stacji-Gdansk-Wrzeszcz-To-poczatek-budowy-PKM-n60825.html)
Falar dos comboios em Gdansk obriga-me a recordar um episódio caricato aquando da minha despedida da cidade.
Saí de casa às 6 da manhã. Meta: aeroporto. Era certo que ia ter uma aventura pelos meios de transportes polacos. Cheguei à estação de Sopot arrepiada com os doze graus negativos que tomavam conta da cidade. Como se isso não bastasse para me fazer os músculos dormitar, imaginem ter apenas quatro horas de sono em cima. Isto, obviamente, sou eu a desculpar o que se passou a seguir. Chegado o momento de pagar o bilhete, fui à minha carteira. Estava tudo controlado: tinha contado o dinheiro na noite anterior e estavam todos os trocos contadinhos. Ia dar mesmo resvés, como se costuma dizer. Pois bem, peguei numa moeda de 5 zlotys, inseria-a na máquina e, para minha surpresa, foi rejeitada. Insisti. Afinal, aquela era a moeda mais valiosa da Polónia! Eu pegar nela, as mãos congeladas e adormecidos deixaram-na cair e o filme começou. Câmara lenta. A moeda a cair. A grelha do sistema de escoamento de água por baixo. Ela caindo. E, de súbito, *poof*. Ouvia-a mergulhar e eu sem dinheiro para apanhar o meu voo de regresso a Bergamo. Ia ficar destinada a uma permanência obrigada em Gdansk. Perder as minhas viagens. Comprar outros passes A catástrofe passou-me claramente à frente. Um filme que não queria viver. Havia apenas uma solução: entrar à socapa. Sem bilhete. O meu cérebro disse *whatever* e entrei no comboio. Há que ter rebeldia. ThugLife choose me…
No entanto, a Thug Life não me escolheu quando eu avistei o revisor a fazer pequenos buraquinhos nos bilhetes das pessoas que iam à frente na carruagem.“Ficar aqui ou ir ter com ele?”, era a questão. Sabia que não podia esperar que tudo passasse. Faltavam vinte minutos para chegar ao aeroporto. Nunca sairia daquela situação sem o confrontar. Decidi ir ter com ele. Expliquei-lhe a situação, dizendo que não tinha zlotys suficientes. Mostrei-me o que tinha na carteira. Ele sorriu. Pediu que lhe desse tudo o que tinha, passou-me um bilhete e safou-me.
(http://pracadapoesia.blogspot.pt/2011/03/o-revisor.html)
Agora, vão para Itália e fiquem à espera que isto vos aconteça: é melhor não!!!
A modernidade polaca, como já havia referido, surpreendeu-me. Não só a das infraestruturas, mas sobretudo a modernidade no pensamento do seu povo.
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