Passeio no Lago di Garda (Pt1)
O Lago di Garda, situado na região nortenha de Itália, insinuando-se em direcção aos pré-Alpes italianos, é um dos destinos mais procurados no país, quer seja pelos próprios italianos, quer seja pelos muitos turistas que anseiam explorar as vilas pitorescas nas suas margens, de frente para uma deslumbrante paisagem.
"Lungolago Garda"
Também conhecido como Benaco, este é o maior lago italiano, particularmente conhecido pelo seu formato peculiar: a norte é estreito e afunilado, marcado de um perfil sinuoso de vales e montanhas; a sul alarga-se, tipo baía, vendo-se circundado de colinas caracterizadas de depósitos morénicos, que suavizam o recorte paisagístico.
O tipo de turismo que este incrível cenário atrai varia consoante a época do ano e a própria proveniência das pessoas, isto é, para muitos italianos que abitam nas proximidades – regiões da Lombardia, Veneto e Trentino-Alto-Adige – é o local ideal para passar um fim-de-semana ou algumas horas de lazer; enquanto que para os estrangeiros é acima de tudo meta veranil para longa permanência, atraindo principalmente alemães, suíços, franceses e holandeses, que adoram este estilo de férias no lago.
No contexto do meu regresso a Milão em Março deste ano, e já que a minha amiga teria a sua graduação universitária, tínhamos decidido celebrar desfrutando de um belo passeio de dois dias no Lago di Garda. Proporcionou-se dormir uma noite num hotel estupendo, já que descobríramos uma promoção única, e organizámos então a viagem.
Partimos de carro cedo pela manhã, com o intuito de ir tomar o pequeno-almoço a Desenzano del Garda, a nossa primeira paragem. Inicialmente tínhamos pensado seguir para Sirmione - cujo castelo é imagem de marca da vila e um dos grandes atractivos de lago - servindo-nos do sistema de barcas que liga as vilas, mas acabámos por preferir passear em Desenzano e deixar (eu) Sirmione para outra altura, visto que nunca são demais as vezes para ir ao Lago di Garda e são imensas as vilas que se podem visitar.
A nossa segunda paragem foi Gargnano, onde tencionávamos, depois de passear na vila, apanhar o barco que faz o circuito “Alto Lago” e subir até Riva del Garda. Contudo, este não estava ainda em funcionamento, pois a retoma do serviço de navegação tinha sido adiada para o final do mês de Março, pelo que mais uma vez alterámos o plano, acabando por ficar a passear descontraidamente por Gargano, que, contas feitas, foi a vila que mais gostei.
Se bem que todas as vilas sejam fascinantes, e certamente algumas menos conhecidas revelam-se das mais encantadoras, aquelas que mencionei até agora são as mais populares. Não obstante, umas das primeiras localidades turísticas foi, na verdade, Gardone Riviera, que nos receberia ao final do dia, cortesia do Hotel Villa Montefiori, para grande deleite nosso.
Ainda antes de falar sobre cada uma destas vilas com o detalha do viajante, informo que, apesar de termos ido de carro, também se chega facilmente de comboio. Na linha da auto-estrada Milão-Veneza, as estações ferroviárias servidas são as de Desenzano-Sirminone, Castelnuovo e Peschiera. Um pequeno aparte: esta última, na província de Verona, já tinha visitado há 5 anos.
Provavelmente a maneira mais cómoda e rápida de aceder às diversas vilas (pelo menos de um dos lados do lago, pois obviamente é depois necessário usar o barco se quisermos atravessar para a outra margem sem ir à volta) é com transporte próprio.
No entanto, grande parte da emoção do lago é andar de barco e contemplar a paisagem de um modo libertino e relaxado, ao sabor da ondulação. Os horários e preços da navegação no Garda estão disponíveis no sítio oficial, que aconselho consultar para saber todas as informações fundamentais e planear a jornada de modo apropriado, porque parecendo que não, o tempo voa em viagem e, como vimos, nem sempre se consegue pôr em prática as ideias originais.
Desenzano del Garda
É considerada a “capital do lago” por ser a maior e mais populosa comuna. Situa-se na província de Brescia, pertencendo por isso à secção lombarda, e presenteia-nos com diversos pontos de interesse histórico-cultural, ainda que em termos paisagísticos da vista para o lago, mesmo que relativamente bela, eu não tenha considerado a mais espantosa.
Vale mais, na minha opinião, pelo centro histórico e, noutro contexto, pela animação nocturna, tanto que no Verão ganha uma outra vida, com muitos bares e cafés abertos noite fora, sendo o local de eleição dos jovens para se divertirem.
Tendo deixado o carro lá longe (porque é sempre bastante difícil estacionar, tanto por não haver lugares, como por ser necessário pagar parquímetro), descemos em direcção ao Desenzanino, que é o quarteirão dito mais chique, onde se localizam a “praia” e o restaurante que lhe dão nome, e donde inicia o paredão que nos leva até à vila propriamente dita.
Não se deixem enganar quando digo “praia”, porque é literalmente um metro quadrado de seixos com uma sinalética a dar-lhe tal designação. Achei um piadão. Aliás, as restantes praias de Desenzano que vêm referenciadas - Feltrinelli, d'Oro e da Rivoltella – são dos mesmo género…
Continuámos então caminho ao longo desta via principal que nos permite ter uma agradável visão alargada sobre o lago ainda antes de entrar no centro histórico.
Lungolago Cesare Battisti
O grande relevo de Desenzano vai para o porto antigo, datado do século XIII, que desde logo nos deixa maravilhados. É a parte mais pictórica e fotogénica do “borgo”, realçando-se a justaposição das construções medievais lá no alto com os edifícios citadinos originais da época da República de Veneza - altura em que Desenzano viu um grande crescimento económico, sendo um ponto de referência comercial de todo a zona do lago - que marcam a “darsena” do porto.
Porto antigo de Desenzano.
Desta perspectiva temos uma boa noção de como se dispõe o casco histórico de Desenzano – obra de um dos arquitectos mais célebres da época quinhentista: Giulio Todeschini - e somos impelidos a entrar na Piazza Malvezzi, uma das principais praças da vila, que reúne muita gente graças aos vários restaurantes e a uma série de monumentos. Aqui destaca-se notoriamente o Palazzo Todeschini (à direita na fotografia acima), pelas suas arcadas e Torre Cívica em pedra branca.
Piazza Malvezzi, realçando-se a estátua de Sant'Angela Merici, a santa padroeira de Desenzano del Garda
Piazza Malvezzi, evidenciando-se a fachada branca do Palazzo del Provveditore (à esquerda)
Aqui temos três opções para continuar a passeata pela vila.
A Via Roma, tida como a rua principal do centro histórico, segue para norte, primeiro à igreja barroca conhecida como “Duomo di Desenzano” - Chiesa di Santa Maria Maddalena, onde se conserva “A Última Ceia de Tiepolo”, famosa tela renascentista.
No seu seguimento, foi posta a descoberto a Vila Romana, avaliada como uma das mais importantes de toda a Itália Setentrional, e que, como tal, se tornou claramente uma das principais atracções de Desenzano, particularmente devido ao excepcional complexo de pavimentos em mosaico.
Na direcção contrária, a rua do castelo é uma subida íngreme que nos alça até ao ponto mais alto da vila, donde se gozam vistas panorâmicas magníficas sobre o "borgo" e o lago. O castelo data do século XI, tendo sido edificadas quatro torres em sítios estratégicos com o objectivo de defender o "borgo".
Duas das torres do castelo de Desenzano del Garda
De outro modo, de novo lá em baixo na grande praça, a Via Achille Papa leva-nos até uma zona mais moderna da vila, onde surge a ajardinada Piazza Matteoti, caracterizada por uma estátua dedicada à aviação.
"Monumento ai valorosi Aviatori del Reparto Alta Velocità"
Daqui tem-se a ligação ao porto principal, donde partem as rotas para todas as comunas do Lago di Como, destacando-se neste cenário o pequeno farol de Desenzano.
Continuando junto ao lago pela Via Anelli, surge um amplo jardim - “Giardini Marinai d'Italia”, local ideal para um piquenique ou para um aperitivo ao final do dia, desfrutando de um cocktail no bar, sempre com a estupenda vista para o lago.
Do outro lado da rua, encontram-se mais dois destaques culturais da vila: o Teatro Alberti e o Museu Cívico Arqueológico.
O museu é especialmente atractivo por conter um objecto muito importante a nível histórico, a saber, o arado mais antigo do mundo, que remonta à Idade do Bronze. Este foi descoberto nas escavações do Lavagnone (localidade vizinha de Desenzano), das quais constam outros artigos também dispostos no museu, nomeadamente referentes às construções em palafitas que caracterizavam este sítio arqueológico. Apesar de ter sido reconhecido como Património Mundial da Humanidade, o sítio foi descurado e não é propriamente aconselhável a visita, já que grande parte constitui actualmente num paul.
Por fim, deixo o apontamento de que, seguindo caminho até Rivoltella (na direcção de Sirmione), entramos numa fracção de Desenzano que é bastante animada - merecendo por isso que o passeio continue por lá. Deparamo-nos com imensas esplanadas acolhedoras, restaurantes elegantes e os principais hotéis e complexos turísticos, suportados pelo chamariz que é a homónima praia, a mais apreciada nesta zona do lago.
Acompanhem o resto desta excursão a Lago di Garda no próximo texto!
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