Na ânsia de uma resposta que não chegava
Em Maio de 2017, já passados quase três meses de incerteza e frustração, eis que finalmente surgiu a tão aguardada resposta confirmativa de Milão dizendo “sim, podemos recebê-la para o estágio de dissertação”, no meio de uns quantos e-mails desencontrados e por intermédio de vários intervenientes...
Lembro-me de ler a mensagem no telefone e quase chorar de alegria. Em casa, na sala de estar, pus-me aos pulos tal era o contentamento. Aqueles meses tinham sido uma desconsolação; via os meus colegas a obter respostas positivas, uns inclusive a ter desde logo entrevistas por videochamada e a ver os temas de trabalhos definidos, e eu continuava na sombra de um sonho…
Acerca de fazer Erasmus
Há já muito tempo que eu sabia para onde e quando queria ir, e o dizia a qualquer pessoa que perguntasse. Sem dúvida alguma Milão, e para realizar a tese de mestrado.
Na piazza Duomo - entrada da galeria Vittoria Emanuele. (Foto tirada em Março de 2018)
Isto porque no meu curso – Mestrado Integrado em Engenharia Biológica do Instituto Superior Técnico – existe uma maior propensão para os programas de mobilidade decorrerem no 5º ano de estudos, de modo a conjugar a experiência de intercâmbio com o último momento curricular, que é a unidade de dissertação.
Ainda que seja também possível fazer Erasmus durante a licenciatura, a oferta de universidades de acolhimento para tal é pouca e com algumas condicionantes associadas. Deste modo, e atendendo ainda às especificações do curso, torna-se muito mais vantajoso “ir para fora” com o intuito de um estágio final. É uma excelente oportunidade para abrir o caminho daquele que desejamos ser o nosso futuro profissional, tanto a nível académico como de mercado de trabalho.
Os acordos internacionais que o Técnico estabelece neste sentido, não só a nível europeu via Erasmus, mas também a nível mundial, como exemplo da mobilidade no Brasil, Japão, China ou Índia, são de elevadíssimo cariz, e a oferta de universidades de acolhimento é neste caso bastante variada e apelativa.
Depois existe toda a envolvência Erasmus, a valiosa “Erasmus Life” que nos contagia e entusiasma, e que deixa um milhão de saudades quando temos de vir embora... Este é um tópico que dá pano para mangas, sobre o qual poderia eu escrever um livro contemplando as minhas aventuras, mas, como tal, por agora deixo-o fora deste texto.
Erasmus+SMS vs. Erasmus+Placements
Concretamente falando de Erasmus, fora as opções de base estipuladas, naquilo que é o programa dito de estudos - Erasmus+SMS, existe ainda a hipótese Erasmus+Placements, na qual são os alunos que procuram e propõem uma universidade, laboratório ou empresa para desenvolver o seu trabalho e, desde que sejam aceites pela entidade, estabelecem um acordo temporário. Claro que cada uma das alternativas têm as suas vantagens e limitações…
A bolsa Placements é muito mais atractiva por ser mais avultada. Contudo, requer que toda a burocracia associada ao acordo seja tratada com uma brevidade extrema, que muitas vezes não é compatível com a realidade laboral das entidades. Falando-se de um projecto a desenvolver dali a um ano, torna-se complicado receber respostas (e que sejam positivas), principalmente quando se trata de empresas, dada a dificuldade em compactuar com programações a longo prazo.
Com a bolsa normal, por mais pobrezita que seja (infelizmente é assim, mas sempre é melhor do que nada), a grande vantagem é que nos é atribuída uma das vagas publicitadas - com base na nossa ordem de escolha das universidades e seguindo um critério de seriação dos alunos consoante a média do curso até ao momento - e à partida estamos confirmados.
“Apenas” temos de nos preocupar em selecionar um grupo de investigação do nosso agrado e promover o contacto para saber se nos podem receber, efectivando assim a parceria de mobilidade pré-estabelecida. Na pior das hipóteses (que não deixa de ser contraprocedente aos objectivos dos acordos) nenhum grupo tem disponibilidade, e temos de abdicar da nossa vaga e ficar sujeitos às outras que não foram confirmadas para que nos seja atribuída uma nova…
Digo “apenas” e falo disto porque, para alguém que encabeçou a lista de seriação para estágio de dissertação, tendo sido por isso a aluna a quem foi atribuída a primeira vaga, eu já estava a ver a minha situação periclitante quando, naquela altura, parecia que todos viam as suas preces ser atendidas menos eu… Um certo pânico interior já se tinha instalado. Releiam-se então os dois primeiros parágrafos deste texto.
Porquê Milão?
Não me recordo de um tempo em que eu não falasse de Milão isto, Milão aquilo.
No final do 1º ano da faculdade fiz uma grande viagem por Itália e terá sido como corolário que se aguçou um certo fascínio pelo país. Não que Milão tenha sido para mim o expoente máximo do turismo italiano, porque tive a oportunidade de ver muitas outras cidades, daquelas mais fantásticas e absolutamente lindas e onde gostaríamos todos de ir um dia. Milão é outro estilo; tem uma essência especial.
Naviglio Grande. (Foto tirada em Junho de 2018)
Arco della Pace. (Foto tirada em Março de 2018)
Milão é como uma segunda Lisboa para mim. Em tanto se assemelha e em tanto me faz sentir também em casa. É uma conexão que por vezes nem consigo explicar, de tão inebriante que é. E já o sabia antes de fazer Erasmus; já o pressentia. E sem dúvida alguma que os 6 meses que lá passei foram mais do que suficiente e satisfatória confirmação. E não vejo a hora de voltar…
Piazza Gae Aulenti. (Foto tirada em Fevereiro de 2018)
Foi desde sempre o sonho porque visionei uma vida ali, nas perspectivas de carreira que me levaram a escolher o curso de Engenharia Biológica, na óptica de vivências que frequentemente procuramos noutros sítios que não a nossa cidade natal. Milão é um “hub” do Futuro. E é o caminho para aquele que eu quero que seja o meu percurso, que também de há muito apregoo como focado em I&D nas vertentes de Cosmética e/ou Farmacêutica. Tudo muito bem definido num panorama geral, e impreterivelmente de mãos dadas com esta cativante cidade.
Porque não outras, quando tantas são as que não conheço, e outras até poderiam dar mais retorno profissional? Mas também são muitas aquelas que já pude conhecer pela Europa, e nenhuma cidade chega perto daquilo que Milão representa, daquilo que Milão significa. É assim para mim.
Quando às 5h da manhã não está ninguém no Duomo. (Foto tirada em Fevereiro de 2018)
A escolha do local de acolhimento
Das universidades listadas em acordo de mobilidade para Milão (que ainda eram três), apenas uma se perfilou como realmente a única que me puxava, que parecia gritar por mim. Por entre averiguar os diversos grupos de investigação, das várias faculdades associadas à minha área de estudos, e com algumas referências que, entretanto, me tinham sido facultadas, a escolha estava feita: Università degli Studi di Milano – La Statale.
Universidade de Milão - pátio interior do edifício principal, Via Festa del Perdono. (Foto tirada em Fevereiro de 2018)
É que nem sequer coloquei as outras (Università degli Studi di Milano-Biccoca e Politecnico di Milano) na minha selecção! Primeiro porque não me interessavam assim tanto; segundo porque tinha 100% de certeza que me seria atribuída a vaga que queria.
Com isto já estava também escolhido o grupo de investigação dentro do Departamento de Ciências Farmacêuticas da Faculdade de Farmácia. Este departamento em particular, não só com vista à tese de mestrado, mas também no prisma de um eventual doutoramento em Ciências Farmacêuticas, que entrava na minha mira de projectos em Milão. A informação disponibilizada sobre as linhas de investigação agradava-me e começou a delinear-se na minha cabeça um trajecto semi-estruturado para as minhas ambições.
Mais ainda, a sugestão para este sítio (com a referência de um nome) tinha vindo por intermédio de um laboratório privado de Cosmética em Milão que eu paralelamente tinha contactado (na ideia de manter a janela Placements aberta), para o qual soube que os alunos da Faculdade de Farmácia podiam ir para desenvolver o trabalho de dissertação. Pensei que, de algum modo, pudesse então conjugar as duas coisas e retirar o máximo proveito do acordo Erasmus+SMS...
Rapidamente estabeleci o contacto com o grupo, com todo o entusiasmo de quem ama Milão, ama Cosmética e via estrelinhas em toda esta conjuração. Parecia simples, acessível… Parecia o sonho tornado realidade. Voltemos novamente aos dois primeiros parágrafos deste texto…
A resposta confirmativa veio então por da parte da coordenadora Erasmus da Faculdade de Farmácia, mas com a nuance de que essa não era a que tinha o acordo Erasmus com o Técnico (era a de Biologia), mas nada que um documento emitido pelo coordenador em Lisboa não resolvesse.
De facto, pareceu o menor dos problemas depois de tanto tempo de angústia… Era certo que por aquela altura a possibilidade Placements já não existia (e já a tinha esquecido), mais ainda pelo facto de que já me tinha sido atribuída a vaga para a Universidade, pelo que o importante mesmo foi que aquele grupo de investigação tenha aceitado receber-me, porque, convenhamos, teria sido uma nova chatice ter de procurar outro…
Entrada principal do edifício do Departamento de CIências Farmacêuticas, Via Luigi Mangiagalii. (Foto tirada em Julho de 2018)
Não obstante as coisas terem-se agilizado a partir daquele momento, em termos da efectivação do acordo (já que mais tarde teria de entregar toda a documentação necessária), não deixava de inspirar algum cuidado a notória precaridade de comunicação por parte deste grupo. Não que não tivessem “pegado no caso” desde início e de algum modo procurado organizar as coisas (como me foi, entretanto, mencionado), apenas não se designaram a comunicar-me de forma clara e assertiva o que estava a ser tratado e como… No fundo eu estive 3 meses “às cegas”, e para avançar no nível de informação tinha de ir falando com pessoas diferentes, mas sem saber à partida quem, de modo a juntar peças de um puzzle que em teoria não devia ser complicado de montar.
A resposta confirmativa veio ainda com a nuance que não poderia desenvolver o trabalho de dissertação em conjugação com o laboratório privado, como extensão do acordo celebrado com a Universidade. Também um mal menor por aquela altura…
Enfim, o principal já tinha sido conseguido, quase “arrancado a ferros”, mas conseguido, e eu ia garantidamente para Milão no 2º semestre do ano seguinte. Claro que até realmente ir ainda outras circunstâncias pouco asseguradoras surgiram… E como vim depois a confirmar pelos 6 meses de trabalho no grupo, de facto, a comunicação e a organização em geral eram um grave problema ali.
Esta foi apenas a história da primeira parte de um longo e fastidioso capítulo da minha vida que compreende as façanhas Dissertação/Erasmus associadas a este grupo de investigação. Um capítulo que começou na ânsia de uma resposta que não chegava, se viu recheado de demasiadas situações um tanto ou quanto dramáticas e extenuantes, e cujas últimas linhas foram apenas escritas em Novembro de 2018 aquando da defesa da tese, já em solo português. Foram praticamente 2 anos de luta. Sim, diga-se luta, porque foi realmente uma batalha esta experiência.
Mas pelo menos regozijo que tenha sido equilibrada por aquilo que é o Erasmus em si, uma oportunidade de vida que não tem igual, recheada de momentos felizes, muita aprendizagem e abertura dos horizontes. Guardam-se as boas amizades travadas e a consciência de que experienciei muito mais do que previa.
Uma saída à noite. (Foto tirada em Junho de 2018)
Haja dedicação, paciência e boa-vontade.
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