Lenda da Princesa Ardínia

Publicado por flag-pt Cristiana * — há 5 anos

Blogue: Uma portuguesa em Verona.
Etiquetas: Geral

Algures no século X, Lamego estava sob a influência árabe, como muitas outras cidades portuguesas.

Lenda da Princesa Ardínia

Fonte

É interessante pensar na nossa possível origem, e em como a história nos trouxe até ao lugar em que estamos hoje. Muitos de nós partilham deste interesse por conhecer melhor o que sucedeu, e é claro que isso dá lugar ao enriquecimento da história de cada terra, traçando a sua identidade através de muitas histórias, que são passadas de avós para netos, de pais para filhos.

De facto, Lamego foi sempre cidade, desde o seu reconhecimento inicial. Os nossos cruzados (militares que tinham como principal objectivo defender a religião cristã). Andavam muito ocupados com a reconquista da Península Ibérica aos árabes.

Lenda da Princesa Ardínia

Fonte

A Península Ibérica nada mais, nada menos era do que Portugal e Espanha consolidados como um só. O mais interessante é que é constituída também por Gibraltar, Andora e uma pequena zona francesa.

Os mouros, também conhecidos por povo sarraceno, eram oriundos do Norte de África, bem próximo à Península Ibérica e, dada a sua proximidade, invadiram a Península Ibérica, mas não só. Também a Sicília, Malta e regiões francesas foram alvo da sua investidura.

Durante a chamada Reconquista, foram expulsos dos territórios. Travaram-se lutas entre o islamismo e o catolicismo.

Lenda da Princesa Ardínia

Fonte

  • O Castelo de Lamego, que se localiza na freguesia de Almacave, e pertence ao Distrito de Viseu, foi parte de muitas histórias e lendas interessantes. Tem um estilo que se divide entre o românico e o gótico, perfazendo um dos mais belos Castelos de Portugal.
  • As minhas partes preferidas do Castelo são a Torre de Menagem, a Porta do Sol, a Porta dos Fogos e a Rua da Antiga Cisterna, onde moram alguns habitantes de Lamego, numa zona entre a magia e a realidade.
  • Hoje em dia, a zona do Castelo serve de local de encontro para os Escoteiros de Lamego, que têm como um dos seus objectivos, proteger e dignificar esta parte tão crucial da identidade da cidade. Lenda da Princesa Ardínia

    Fonte

Quanto à Princesa Ardínia, que também era chamada de Ardénia e Ardinga, consta que era das mais belas princesas, o que fez despertar a curiosidade por entre os reinos. Havia sido prometida a um príncipe mouro (o Califa – chefe de Estado – de Córdova, que é hoje um território espanhol), pelo seu pai, um homem duro e implacável e de nome Alboazam. Os nomes começados por “Al”, como Algarve, eram maioritariamente de origem árabe. Entre esses curiosos, estaria D. Tedom, um cavaleiro cristão (bisneto de Ramiro II de Leão), que resolveu ir até Lamego disfarçado, para ver se ela era assim tão bela quanto diziam. Não conseguiu fugir aos seus encantos e rapidamente se apaixonou. Encontrou-se com ela escondido, várias vezes, sobretudo no laranjal do Castelo muralhado. Certa noite de luar, resolveu mesmo pedi-la em casamento. A princesa aceitou sem mais demoras.

O problema era que o seu pai não aprovaria um casamento entre a sua filha árabe e um cavaleiro cristão. Era o seu pior inimigo, que lhe queria roubar o reino. Alboazam era o “vali” de Lamego, ou seja, a pessoa destinada a defender o reino de todas as interferências externas, e não estaria a cumprir o seu destino se deixasse que a filha fosse feliz ao lado de um seu opositor.

Sentindo-se desesperada, a Princesa de Lamego fugiu para o Convento de S. Pedro das Águias (em Tabuaço, Viseu), com o intuito de se casar com o seu amado o mais depressa possível. Ao invés de o encontrar, deparou-se com um abade de nome Gelásio. Ele aconselhou-a a converter-se ao cristianismo, pois só assim poderia ser bem-sucedida em ficar eternamente com Tedom, assim que ele voltasse de uma das suas cruzadas pela conquista do território.

A princesa concordou em mudar a sua religião e expressou a sua vontade de ficar com ele. Aí, na Ermida de S. Pedro, ficaram escondidos até ao evento especial.

O pai de Ardínia, quando soube do sucedido, partiu em busca da sua filha para a matar. Ela tinha-o despeitado e tinha sido desonrada da pior forma possível, pois para além do casamento, também se tinha convertido ao cristianismo. Procurou-a, até que a encontrou junto ao rio Távora. Trespassou-a a sua poderosa espada, degolando-a, e atirando a jovem para o rio.

Quando D. Tedom descobriu o crime do rei muçulmano contra a sua amada, fez votos de celibato (tornando-se monge). O rei malévolo entregou-se à caça de D. Tedom que, mesmo sendo ajudado pelos seus admiradores, acabou por ser encontrado e morto junto a um rio que, mais tarde, teria o seu nome em honra das lutas que travou durante a sua vida – Ribeira do Tedo, em Armamar, e que é um afluente do Rio Douro.

Segundo o folclore popular, os rios Tedo e Távora, em certos dias, vêem as suas águas tingidas por um vermelho forte, e que quando se vê nevoeiro no Castelo, pela altura do Inverno, é a alma da princesa Ardínia que está presente. E que, quando o nevoeiro sobe até ao Mosteiro, os dois se encontram em espírito para viver o amor que lhes foi impedido realizar em vida.

  • Estas assombrações são fruto do amor corrompido de dois jovens inocentes que se amavam. Na verdade, nenhum dos personagens fugiu ao desgosto dos seus pecados. Até o cruel pai da princesa ficou para sempre congelado na sua frieza, sem conseguir amar verdadeiramente.

Em pequena, eu gostava muito de ouvir esta história. Numa certa vez, estava eu no quarto ano da primária, tínhamos como desígnio escolher parte da história de Lamego, desenhar algo e pintar. Escolhi esta lenda e desenhei a princesa e o seu estimado D. Tedom, com o rei mouro a observá-los de forma reprovadora. O meu desenho foi muito gabado, e para sempre fiquei a admirar este pedaço de cultura do povo.

De vez em quando, há um evento no Castelo de Lamego (que já foi reconstruido várias vezes, não sendo o original do tempo da Princesa Ardínia, no século X), onde as crianças e jovens têm a oportunidade de ouvir esta e outras histórias sobre o seu passado histórico enquanto lamecenses.

Em 2016, por exemplo, pude assistir à “Hora do Conto”, um programa que decorreu das 10h às 18h no próprio Castelo, com entrada gratuita e explicação de todo este enredo, por parte de pessoas inteiradas no assunto.


Galeria de fotos



Conteúdo disponível noutras línguas

Comentários (0 comentários)


Queres ter o teu próprio blogue Erasmus?

Se estás a viver uma experiência no estrangeiro, és um viajante ávido ou queres dar a conhecer a cidade onde vives... cria o teu próprio blogue e partilha as tuas aventuras!

Quero criar o meu próprio blogue Erasmus! →

Você ainda não tem uma conta? Regista-te.

Espera um momento, por favor

A dar à manivela!