Hola Madrid! (primeiros dias)
A nossa imaginação traça planos perfeitos para os nossos sonhos perfeitos. Idealizamos cada cena, exploramo-la até ao mais pequeno pormenor. Saboreamos cada momento da sua futura realização como se possuíssemos o poder de o recriar na realidade. É por isso que sonhar é bom. No sonho não aparecem as chatices, os obstáculos as burocracias.
Era assim com o meu querido Erasmus. Já antes de entrar na faculdade lia e ouvia relatos dos que haviam já embarcado nessa fantástica aventura. Uma experiência única, que todos deveriam ter a possibilidade de viver. Juntando a estes testemunhos a imensa vontade que sempre tive de ir além fronteiras, de sair do pequeno rectângulo português ( que, aliás, não menosprezo) e conhecer novos costumes, novas culturas e outras vivências, já ninguém me tirava da cabeça que sim, eu iria fazer Erasmus.
Destino: Madrid. E aqui estou eu. Não podia estar mais feliz por estar a iniciar a concretização de um sonho. Todavia, os planos que a minha imaginação traçou eram muito mais perfeitos e este início não está a ser como esperava.
Ir para um para um país diferente não é fácil e penso que esta é já uma premissa mundialmente conhecida. Espanha pode morar mesmo ao nosso lado, e sei que são muitos os que nos confundem. Mas, pondo de lado as semelhanças, as diferenças podem ser abismais!
Começando pela língua: NÃO, falar espanhol NÃO É falar português com sotaque. E o castelhano não é um idioma fácil. Para mim, são as semelhanças entre as duas línguas que me confundem. O resultado não é o melhor... especialmente quando o nosso interlocutor fala como se estivesse com pressa...
Mas o pior mesmo é... arranjar quarto. É aqui começam as complicações. Não imaginam como pode ser terrível encontrar um quarto barato e decente em Madrid, especialmente neste mês de setembro, quando estudantes tanto espanhóis como estrangeiros chegam diariamente à cidade para procurar o mesmo. Arranjar apartamento é quase impossível... como o meu período de estudos se vai ficar pelos 6 meses são poucos os senhorios que nos garantem um contrato que não seja por um ano.
Como menina cautelosa que sou, comecei a fazer contactos para marcar visitas a apartamentos e quartos um dia antes de vir. Porém, apesar da dezena de chamadas que realizei, só me atenderam uma, para me dizer que já estava ocupado...chegando a Madrid continuei a minha busca e no primeiro dia nada de nada... exigiam preços altíssimos por um quarto. Uma senhora muito "simpática" pediu 400 euros por mês e ainda proibia as visitas em casa. Segundo ela " hay muchas cafeterías en Madrid para estar con los amigos". Vale, chica...
Segundo dia: uma noite mal dormida de preocupação. O calor também não ajudava, pois desde que cheguei os termómetros marcam máximos de 35 graus... a emails ninguém me respondia e já tinha extinguido metade do saldo do telemóvel. Uma senhora aconselhou-me a visitar um locutório. São locais com computadores onde, pagando, se aceder à Internet, carregar telemóveis e fazer chamadas para o estrangeiro. Lá encontrei dezenas de anúncios de aluguer de quartos. Nessa manhã fiz cerca de 25 chamadas telefónicas, e todos me respondiam que os quartos já estavam ocupados. O meu azar parecia não ter fim, pois nessa mesma tarde consegui pisar duas pastilhas na rua. Finalmente, uma rapariga pronunciou a palavra que mais queria ouvir :"disponible". Contudo, o meu castelhano não é o melhor. A rapariga bem tentou dar-me indicações mas, apesar de lhe pedir para "hablar más devagar" pouco consegui perceber. Disse-me que me ia buscar ao sítio onde eu estava. Esperei 40 minutos. Envergonho-me ao confessar que demorei algum tempo a perceber que ela me tinha deixado pendurada. Quando lhe tentei ligar ela confirmou-o, desligando o telefone.
Caminhei quilómetros nessa tarde, procurando por mais contactos, conhecendo a zona, e foi então que consegui visitar um quarto, relativamente perto da cidade universitária. Mas para mim esse quarto tinha um grande problema: era num apartamento de uma família da américa central, que eu teria de partilhar com a mulher e o seu filho, um adolescente grande, numa casa muito pequena. Nada tenho quanto a hispano-americanos, muito pelo contrário. Mas eu tinha idealizado passar estes 6 meses com estudantes da a minha idade, não numa família com a qual nada tenho em comum. Porém, sem mais opções na altura, fui quase obrigada a ficar lá - é necessário mencionar que os meus pais estavam comigo e não me queriam deixar sozinha com três enormes malas numa pensão.
Descobri que a porta da casa de banho não fechava bem e nem dava para trancar. Além disso, pelo chão e pela sanita estavam espalhados pêlos de aspeto duvidoso. Sentia-me tudo menos bem ali dentro. Nessa noite não dormi nada e no dia seguinte logo de manhã fui para o café mais próximo com net procurar mais contactos. A senhora nem tinha arranjado espaço para mim no frigorífico que estava cheio de todo o tipo de comida que se pode imaginar.
Fui para um café, liguei-me à net e pus-me à procura. A senhora, dona do estabelecimento, ajudou-me. Disse que conhecia várias pessoas que alugavam quartos. Ela própria fez os telefonemas mas, infelizmente, já estavam alugados. Para eu me sentir mais confortável até quis mudar a música ambiente para um grupo/músico do qual eu gostasse. A primeira coisa que me veio à cabeça foi " Não, eu não vou deixar que esta mulher ponha Chopin neste seu modesto cafezito". Ela insistiu. Tratava-se de um pequeno espaço, frequentado essencialmente por trabalhadores. Disse-lhe que pusesse Muse, mas mesmo assim, teria sido melhor deixar a música espanhola a tocar ...
Enfim, consegui um contacto e lá fui visitar o quarto... o preço era mais alto do que esperava mas ao menos tinha tudo incluído. Decidi mudar-me mesmo nessa noite. Mas aí estava outro obstáculo: eu estava num 4º andar, sem elevador, com 3 malas para carregar, mais a do computador. Nesta pequena aventura, só tenho a agradecer a uma rapariga portuguesa, que me ajudou imenso, atrasando os planos que já tinha nessa noite, e juntando o seu esforço físico ao meu, na pequena loucura que foi andar de metro com aquelas malas grandes e pesadas...
E agora aqui estou eu. Finalmente instalada, num quarto pequenino, mas num sítio agradável, partilhando teto com mais estudantes.
Mas ainda houve um terceiro problema. Aparentemente as empresas de telecomunicações espanholas ignoram fronteiras e políticas externas. Apesar de ser cidadã europeia necessito de um passaporte em Espanha para ter acesso a um número de telemóvel espanhol. Obviamente que nunca me passou pela cabeça trazer passaporte, tendo em conta que nem para viajar para aqui tal é necessário. O absurdo da situação deixou-me doida, especialmente depois de ter aturado a rapariga a explicar-me todos os tarifários e redes existentes em Espanha para no fim não poder fazer nada.
Hoje já resolvi tudo. Talvez amanhã, depois de cinco dias em Madrid tenha finalmente tempo de visitar o meu verdadeiro destino no meio de tudo isto: Facultad de Ciencias de la Informacion de Universidad Complutense de Madrid :)
Foram dias complicados, até certo ponto desesperantes. Mas acredito que o melhor caminho nem sempre é o mais fácil. Nestes dias já ultrapassei obstáculos que de facto me deixam orgulhosa de mim própria. Sei que tudo vai melhorar, e mal posso esperar para aproveitar tudo aquilo que Madrid tem para oferecer :)
Nicole I.
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