Capítulo 7 - HUGO
Em toda a minha existência nunca tive um animal de estimação, frequento várias casas e tenho familiares que têm animais de estimação, mas seja pela circunstância da vida ou por nunca ter, na realidade, surgido essa vontade, não sei o que é viver com um animal em casa.
Vá, tenho que corrigir o tempo verbal, não sabia, passado. Como uma grande experiência de vida que se preze, além de conhecimento cultural e crescimento pessoal, também o Erasmus me proporcionou uma nova descoberta de mim própria e me testou os limites ao colocar-me um gato no contrato de casa.
Como referido anteriormente, no processo da procura de casa, e aquando da publicação do anúncio de que estávamos à procura, rejeitámos à partida o contrato que veio a ser a nossa casa hoje em dia, não só porque o preço estava acima do estipulado que estávamos capazes de pagar, mas porque numa das suas linhas citava que a casa tinha um gato, e que tínhamos que tomar conta dele.
De todo que eu quisesse morar com um gato e tomar conta dele, não estava mesmo na minha lista de afazeres em Erasmus. No final de contas, como puderam ver, lá teve que ser.
Apresento-vos agora o Hugo.
Não me perguntem porque é que um gato sueco, numa família sueca tem um nome português porque eu não faço ideia, o que lá no fundo até tem a sua piada.
O meu pai teve um gato, não em nossa casa, mas num outro espaço que nos pertence, e de todo eu alguma vez criei uma relação de grande empatia com o bicho. Nunca me cativou esse tipo de relações.
Aqui teve que ser. Foi-nos introduzido o gato no nosso primeiro dia, gordo, pacífico e com um pêlo tão macio quanto algodão, dava vontade de passar a mão e ficar ali, ele mal se mexe, coitado, assim à primeira vista não faz mal a uma mosca.
Dia após dia já verificava sempre a água e a comida, já o tinha a rondar as minhas pernas e a olhar para mim com o ar de mafioso que todos os gatos têm e que me fazem pensar: daqui a uns segundos saltas-me para cima e arranhas-me a cara.
Nunca aconteceu por acaso, mas acho que ainda hoje lhe tenho medo, são animais que a meu ver têm o seu quê de mafiosos.
Fosse a cozinhar ou a comer, a estudar ou mesmo quando estava a chegar a casa, já se via e ouvia o gato. Ele é sem dúvida uma presença assídua e audível cá em casa. Honestamente, tornou-se um hábito tê-lo em casa e, quando por alguma razão estava sozinha em casa, era a minha companhia.
Cheguei a estar a falar com ele, só porque sim, podia simplesmente estar a dizer que ele era chato e gordo, que muito provavelmente não percebia português e, consequentemente, nada do que eu dizia lhe fazia sentido diretamente. Tinha alturas em que mudava o idioma, talvez ele entendesse melhor o inglês quando dizia para parar de me chatear, mas nem assim conseguia fazer as minhas coisas, e a minha vida em sossego sem que a bola de pêlo, que ele na realidade é, andasse a rondar.
Tentei relacionar-me melhor com ele, até descobrir que há uma forte possibilidade de ser alérgica devido a várias reações já demonstradas por parte do meu sistema. Chateio-me quando ele salta para cima dos meus apontamentos, ou computador, e não me deixa trabalhar. Irrita-me quando cozinho e ele não para de miar, mas ainda ontem cheguei a casa e foi a primeira coisa em que pensei.
Ele até podia ser esse gato normal que todos julgam e facilitar-nos a vida, uma vez que a nossa missão, basicamente, era, e é, manter o gato vivo até que deixemos a casa pela última vez. Mas ele sempre gostou de ser assunto, na minha opinião, e principalmente no verão, quando desaparecia por uns dias, se não chegasse a ser mais de uma semana.
Nunca nada lhe aconteceu, felizmente, e voltou sempre são e salvo para que desse modo respirássemos de alívio. É ainda de notar que toda a gente que nos veio visitar conheceu o Hugo e, por sua natureza e bom comportamento, as pessoas acariciavam-no e diziam que, para além dele ser gordo, era super fofo.
Como se já não bastasse confraternizar com o gato que vive em nossa casa, o nosso vizinho do lado tem uma gata, a Sissi. Mais elegante, mais astuta e a arqui-inimiga do Hugo.
Em nossa casa, a porta traseira tem uma daquelas portinhas para ele sair e entrar quando quiser, dar o seu passeio e fazer as suas coisas, mas permite também a entrada e saída da gata vizinha. O que acaba por acontecer é ela vir dar uma espreitadela ao que ele tem para comer, dar um passeio e ir embora. O problema reside quando os dois se cruzam e começam a bufar um para o outro deixando-me a pensar que posso ser eu o alvo.
Informo com todo o gosto que nunca nada do género aconteceu e que depois de se comunicarem lá como eles se entendem ela se vai embora e tudo segue calmamente e dentro da normalidade.
Hoje, passado todo este tempo, entrando ele em dieta ou não, eu, ao deixar esta casa, não deixo só a melhor casa que podia ter-me aparecido, deixo para trás uma senhoria super querida com um filho amável, mas deixo também o Hugo, o gato mais gordo e chato, o meu sempre fiel e vadio companheiro, o que sabia quando eu devia parar de estudar e aquele que, por várias vezes, me fez pensar que tenho algures escondido dentro de mim um carinho por gatos.
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