A chegada a Kosice

Publicado por flag-pt Patricia Golightly — há 11 anos

Blogue: Naz Dravie!
Etiquetas: Geral

O avião deixou-me no aeroporto de Budapeste, por volta da meia-noite do dia 12 para 13 de Setembro. Tinha já marcado um transfer para Kosice, que saíria às seis da manhã. No início, o transfer parecia ser fantasma. Não sabia o local exacto onde era suposto encontrá-lo e não tardei em tentar reunir informações acerca da empresa. Interroguei todos os húngaros que me iam aparecendo pela frente e cada um me tentava explicar, recorrendo ao seu inglês primário, que não faziam ideia do que estava a falar. O primeiro pensamento que me veio à ideia foi o de ter sido burlada, como aliás é recorrente na capital húngara. Como ainda me restavam umas longas horas até à suposta hora de partida, optei por descansar nos bancos frios do aeroporto, que se encontrava completamente adormecido.

Por volta das cinco da manhã, parti novamente em busca do transfer. Mais uma vez, sem sucesso. Nunca ninguém tinha ouvido falar dele e a busca ia se tornando mais  desesperante a cada minuto que passava. Lembrei-me, então, de analisar o comprovativo de pagamento do transfer, onde acabei por encontrar um número de informações. Foi o segundo maior momento de alegria daquela madrugada. A Diana, amiga que me acompanhou na viagem e partilhará da mesma experiência que eu ao longo deste ano, emprestou-me o telemóvel para ligar e tentar a nossa sorte. A primeira chamada teve o seu quê de engraçado. Esqueci-me de digitar o indicativo eslovaco, pelo que ouvi do outro lado da linha uma voz feminia que tagarelava em húngaro. Nesse instante, apercebi-me o porquê do seu apelido 'língua do diabo'. O chinês, ou até mesmo o grego, podem soar complicados, mas nada se compara à complexidade deste idioma, que, diga-se de passagem, apesar de tudo, é encantador. As chamadas seguintes já não tiveram a mesma piada. Após introduzir o indicativo eslovaco (+421), as ligações eram sucessivamente rejeitadas, o que fortaleceu o meu pensamento anterior. Faltavam sensivelmente dez minutos para as seis da manhã, quando finalmente alguém resolveu atender. A senhora do outro lado da linha 'arranhava' o inglês e compreender o que dizia foi uma tarefa extremamente árdua. Lá acabei por perceber que ia comunicar ao motorista. Já exaustas da busca incessante e certas de termos perdido o maldito transfer, eis que o senhor dá connosco algures no parque de estacionamento. Eram seis e trinta, quando finalmente deixamos o aeroporto para trás.

O motorista assemelhava-se à personagem de um filme do leste europeu. Era incapaz de dizer uma palavra em inglês (ou de perceber), mas desfazia-se em sorrisos sinceros e insistia em falar connosco em eslovaco, apesar de o termos feito esperar por tanto tempo.

A viagem até Kosice durou cerca de três horas e o transfer abandonou-nos junto do McDonalds, ou não fosse esta cadeia internacional sempre um bom ponto de referência. À nossa espera, estava já uma comitiva de boas-vindas: um português de Erasmus pelo segundo ano consecutivo, que conhecíamos já da nossa universidade, de nome Sérgio, e a nossa buddie de Erasmus, a Annie. (A buddie funciona como uma espécie de madrinha, sendo a pessoa a que primariamente devemos recorrer no caso de precisarmos de alguma coisa.) A Annie chamou um táxi e fomos até à residência (ou dormitórios, como é mais usual chamarem-lhe por estas bandas). Os táxis em Kosice têm uma particularidade extremamente interessante: custam 3€, independentemente da distância, desde que seja dentro da área metropolitana.

À primeira vista, a cidade não deixou muito boas impressões, como aliás já esperava. Apesar do dia caloroso e simpático que se fazia sentir, tinha um ambiente pesado e um aspecto negro e descuidado. No entanto, não me deixei desmotivar pelas primeiras aparências, não até chegar às residências.

A chegada às residências acabou por ser um choque. Tinham-me falado de boas instalações, contudo, deparei-me com um cenário de guerra. Se por fora têm cara lavada, por dentro deixam muito a desejar. Os balneários estavam em obras, pelo que não havia água. Para usufruir do banho que tanto merecia, teria de ir até ao outro edifício das residências e mesmo assim só teria disponível água gelada. Os quartos são bem mais pequenos do que imaginava. Existem quatro casas de banho (entenda-se sanitas, apenas) para um corredor com cerca de trinta pessoas e três chuveiros comuns, um deles sem qualquer tipo de privacidade. Prometeram-nos que as obras ficariam concluídas num espaço de quatro/cinco dias. Duvidei, mas eventualmente acabaram por ficar nesse espaço de tempo.

Não houve muito tempo para descanso ou acomodações. A Annie e o Sérgio levaram-nos de imediato ao escritório da coordenadora, para começarmos a tratar da burocrática papelada. À entrada do seu gabinete, estava um rapaz da nossa idade. Pela aparência, apostei que fosse turco e não estava errada. Tinha uma figura cómica, uma personagem aparentemente tímida e completamente perdida. Apresentámo-nos e entrámos todos juntos na sala de uma senhora de estatura baixa e ombros, cinta e pernas largas, extremamente simpática, mas completamente atabalhoada. Como era de julgar pela primeira impressão que deixava, a senhora não tratou de absolutamente nada, mas deixou a promessa de começar a organizar os horários na segunda-feira seguinte.

De regresso aos dormitórios, conheci mais dois espanhóis, também eles facilmente identificáveis pela 'pinta', o Javi e a Bélen, que tinham partilhado o nosso vôo até Budapeste. Fomos almoçar ao centro todos juntos. Nunca irei esquecer o pedido do turco, o Ozer. Sensibilizado com o facto de eu e a Diana sermos vegetarianas, sentiu-se mal em pedir um prato de carne, optanto por comer apenas café com batatas fritas.

No final do momento de convívio, o grupo dividiu-se e eu parti à descoberta da cidade.  Aí senti que a minha escolha tinha sido acertada. Desde as fachadas coloridas de todos os edifícios, aos palácios, ao teatro ou à famosa Catedral de Santa Isabel, até ao espírito artístico, à alegria, ao movimento e ao ar entusiástico emanado de todos os cantos, Kosice apresentava-se afinal um bom sítio para viver e senti-me confortável no meu novo lar.


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