Lições que tenho aprendido em Erasmus
Tenho a dizer que tenho aprendido bastante com as pessoas que tenho conhecido em Erasmus, principalmente devido ao facto de serem completamente o oposto de mim e não estou a falar apenas de pessoas romenas, estou a falar de todas as pessoas, incluíndo pessoas portuguesas.
Vou falar de diversas situações que ocorreram e que mostram que eu devo ter sido educada em Marte e por isso não consigo entender o comportamento dos outros.
1ª lição é o afeto forçado
Quando vim com a Carolina para a Roménia e ficámos a viver na residência em que estamos atualmente, reparámos que passado uma semana as pessoas que também aqui estavam a fazer Erasmus já eram todas melhores amigas, davam abraços, tocavam viola juntos no corredor e distribuiam beijos na testa, cara, entre outros sítios, uns aos outros. Não sei, mas eu não consigo ser assim, eu e a Carolina somos parecidas nesse aspeto, não somos tão abertas dessa forma, eu prefiro guardar o carinho físico e esse tipo de demonstrações de afeto para pessoas que sejam realmente importantes para mim e não alguém que eu conheça há uns dias, talvez seja por isso que não me integrei tão bem quanto os outros, nem fiz amizades, só que se eu me comportasse como eles, iria estar a sentir-me uma falsa e isso é coisa que não consigo ser, porque me fico a sentir mal comigo própria.
2ª lição aparentemente vir de Erasmus para a Roménia, é vir para um bordel
Antes de mudar de quarto, estive a partilhar um com uma outra rapariga italiana (não é que o facto de ser italiana interesse, é só para reforçar a ideia de que não adianta qual seja a nacionalidade, há aqui pessoas estúpidas de todos os países). Tive alguns problemas com ela, acho que viamos as coisas de maneira diferente, ela achava que não havia problema em levar gente para o quarto quando eu e a Carolina estavamos fora e remexerem nas nossas coisas e por mim não havia problema de ela levar outras pessoas para lá na minha ausência, o meu maior problema era mexerem nos meus pertences.
Uma outra situação que aconteceu e eu achei que qualquer pessoa com sanidade mental não faria, foi ela levar para o quarto, comigo e com a Carolina lá dentro, um rapaz e ir para a cama com ele, estarem lá aos beijos e eu a ter que ouvir, ela não teve relações sexuais com ele, que eu saiba, mas não deixa de ser constrangedor estar no meu quarto e ter que presenciar aquilo, eu não fazia aquilo. Quando me queixei e disse que o queria dali para fora, o rapaz respondeu-me de que isto era Erasmus e que se eu não queria isto, não devia ter escolhido a Roménia, por isso conclui que a Roménia deve ser uma espécie de bordel, segundo ele.
3ª lição lá porque sou uma pessoa limpa, não significa que os outros sejam
Quando estava no segundo piso, toda a gente lavava a loiça que sujava, o que é algo normal, se sujei, tenho que lavar, só que desde que me mudei para o terceiro andar, passei a ver esse comportamento como algo único, pois ninguém aqui lava a loiça que suja e nem sequer se dignam a meter no lixo os restos de comida, ou atiram para o lavatório de modo a entupi-lo, atiram para o chão ou deixam no balcão, ficando ele todo sujo e desarrrumado, dificultando a tarefa de cozinhar às outras pessoas. Eu achava que era algo simples, um comportamento cívico que todos deveriam ter, devia ser um dado adquirido, mas não, tive que comprar os meus próprios utensílios de cozinha, porque nem pensar que iria andar a limpar a porcaria dos outros, os tachos chegam a ter restos de vários dias, deixando um cheiro a podre que se alastra.
4ª lição não adianta emprestar, provavelmente não vão devolver
A história que vou contar passou-se com uns portugueses que nem são da minha residência, mas são amigos dos portugueses que vivem no quarto ao lado e vieram jantar à nossa cozinha com eles.
Eles compraram umas latas de atum que não tinham abertura fácil, ou seja, era preciso usar uma faca ou um outro utensílio para as abrir. Eu e a Carolina tínhamos uma boa faca e foi cara, não foram 20 euros, mas custou-nos dinheiro. Quando eu vi que eles precisavam de uma faca, a primeira coisa que pensei foi "não vou emprestar a nossa, porque vão estragá-la e depois não nos vão comprar uma nova", mas a Carolina é melhor pessoa que eu e nem pensou nisso, disse logo "experimentem com a nossa" e aquilo que eu previ aconteceu, estragaram a faca, mas disseram para não nos preocuparmos, porque no dia a seguir iam comprar uma nova e igual, até nos perguntaram onde tinha sido.
Entretanto passaram duas semanas e nada, até que disse aos meus vizinhos portugueses para os avisarem de que queríamos a faca e andei durante mais um mês a dizer-lhes para os avisarem e eles avisaram, só que eles não quiseram saber, provavelmente achavam que eu me ia fartar e acabar por compar uma outra faca, só que eu sou uma pessoa muito teimosa, quando meto uma coisa na cabeça, ela vai acontecer a bem ou a mal. Há um grupo no whatsapp que tem como membros só portugueses a estudar aqui e eu sabia que eles estavam nesse grupo, então eu mandei mensagem para lá a dizer que não sabia os nomes de quem tinha sido, mas que queria a minha faca de volta. A única maneira de voltar a ter a faca era mandando aquela mensagem, porque assim eles iriam ter vergonha e devolver. Passou um dia e voltei a mandar mensagem para lá a pedir a faca e só no dia a seguir é que apareceram à porta da nossa residência com uma faca nova. Tiveram a lata de me dizer que eu deveria ter feito outra abordagem para pedir a faca e que se tinham esquecido, ou seja, eles queriam que eu pedisse desculpa e me sentisse mal por ter pedido de volta aquilo que eles estragaram e era meu. Não havia outra abordagem, se não tivesse usado o grupo nunca mais via a faca.
É neste tipo de situação que eu entendo que sou muito diferente da maioria das pessoas, porque se tivesse sido eu a estragar alguma coisa a alguém, eu não ia pensar noutra coisa, não ia descansar até comprar de novo e ir entregar à pessoa, não me ia esquecer e nem foi pela faca, foi pela atitude deles, porque eu sei que uma faca não é nada de especial, mas é o comportamento que têm nessas situações que define o caráter de várias pessoas.
5ª lição o civismo não é para todos
Civismo é aquilo que todos deveriamos ter e há regras básicas que todos deveríamos respeitar, porque não somos as únicas pessoas no mundo, se queremos viver em harmonia temos que deixar de pensar em só nós próprios, crescer um bocadinho e pensar que talvez o comportamento que estejamos a ter vá incomodar alguém, já não somos crianças, as desculpas acabaram-se.
No meu andar há uns espanhóis que eu não os suporto, porque são os principais causadores da imundidade na cozinha e já me acordaram inúmeras vezes à noite e nem são eles todos, há um que é o principal, costumo gozar juntamente com a Carolina a dizer que ele deve ter algum problema com a escuridão, porque durante o dia não o ouço, chega a noite e começo a ouvir os gritos dele a aumentarem progressivamente à medida que vai ficando cada vez mais escuro na rua, ele devia consultar um psicólogo para resolver o problema dele, em vez de incomodar todas as pessoas de um piso.
Uma vez acordei com os gritos dele às 6 da manhã, parecia que o estavam a matar, eu acho que o cérebro minúsculo dele não consegue entender que há outras pessoas a dormir e que os gritos dele acordam toda a gente ou então tem uma enorme falta de consideração por toda a gente e só ele é que importa, talvez seja tudo isto ao mesmo tempo.
Nunca na vida eu iria gritar às seis da manhã, sabendo que outras pessoas estavam a descansar e isso as iria incomodar, já vivi numa residência em Coimbra e nunca tive problemas deste tipo, nós respeitávamo-nos umas às outras, mesmo quando iamos sair e voltavamos super tarde, tentavamos fazer o mínimo de barulho possível. Aqui não é assim, os espanhóis chegam de madrugada e batem com as portas com força, falam no corredor alto, como se fossem três da tarde e gritam que nem histéricos que fugiram do asilo.
Ontem voltou a acontecer e eles estão a começar uma guerra comigo, não queiram começar uma guerra comigo, eu sou louca. Levantei-me da cama e fui chamar o segurança, o inútil chegou e não fez nada, eu é que tive que falar, no entanto acho que devia ter falado em espanhol, porque eles não costumam saber mais nenhuma língua para além da deles. Falei em inglês, disse-lhes para se calarem e pararem de ser histéricos, não devem ter entendido nada, porque continuaram a gritar, gravei vídeos disso para depois levar à direção e expulsar aquelas araras daqui para fora, só descanso quando conseguir isso.
6ª lição não esperem obter consideração e respeito mesmo que tenham ajudado muito alguém
Um dos meus vizinhos portugueses está-me sempre a pedir ajuda, porque estamos no mesmo curso e temos aulas juntos. Ajudo-o principalmente na comunicação, porque ele não sabe falar inglês e eu não me importo de ajudar pessoas que sei que estão a precisar, tento sempre ajudar no que posso. Cheguei mesmo a ter que ir à faculdade de propósito com ele, para o ajudar. Eu não peço nada em troca quando ajudo alguém, só espero respeito e consideração.
Ontem quando os espanhóis estavam a gritar e a fazer barulho, estavam no quarto dos portugueses, não faço ideia do motivo, mas os portugueses não estavam lá e depois de ter ido chamar o segurança e tentar mandá-los calar, decidi mandar-lhe mensagem a pedir para que ele os mandasse calar, visto que era o quarto dele. A resposta que eu obti dele deixou-me desiludida, porque eu realmente ajudei-o em tudo o que pude e eu nunca trataria assim alguém que me tivesse ajudado tanto.
A resposta dele foi "mas eu por acaso sou pombo de correio? Tens cabeça? Tens pernas? Então vai lá tu dizer-lhe para ele se calar. Sleep well". O engraçado é que não sabe falar inglês, mas para ser idiota já sabe. Ele devia estar com os outros portugueses com quem tivemos o problema da faca, porque eu disse-lhe que não o julgava uma pessoa assim e ele respondeu que estava a ser assim, porque estava muito doente, tinha-se cortado com uma faca muito afiada. Foi a gota de água, estava com as costas quentes, porque tinha os amiguinhos a darem-lhe apoio, mas quero ver quem é que o vai ajudar agora quando ele precisar, porque eu não vou ser. Hoje à tarde viu-me e tentou pedir-me desculpa, disse-lhe que não desculpava e desejei-lhe as melhoras do corte da faca.
Conclusão
Em Erasmus há várias pessoas que ultrapassam os limites da estupidez e nem toda a gente é educada da mesma forma. A percentagem de pessoas civícas é muito baixa e não adianta ir pedir ajuda ao segurança, porque ele é um inútil. Se aparecer nas notícias que uma estudante de Erasmus mata espanhóis com uma panela, não se espantem, fui eu. A maior conclusão que eu tiro é que a estupidez é universal, não é exclusiva de um só país.
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Comentários (6 comentários)
João Vilaça há 7 anos
parece que a perfeição reina para esses lados.
estamos perante deus e ninguém sabe, espero que continues a ajudar as pessoas para depois te vires gabar para aqui, beijinhos ao blogue !!!
Ana Margarida Vieira há 7 anos
Catarina, já paraste para pensar que talvez o comportamento das pessoas depende da forma de como as tratas? Não estranhas o facto de que tudo o que partilhas é apenas de teor extremamente negativo? Talvez não estavas preparada para vir de Erasmus e continuas a não estar. Muda de atitude e pode ser que ainda consigas aproveitar alguma coisa, como é suposto em Erasmus.
Tiago Alves há 7 anos
Olha primeiro começo por te dar os parabéns, sim, porque estando tu de Erasmus, fazer uma experiência que vai ser única na tua vida, não sei como tens tempo para tanta diarreia mental transcrita para um blog. Aproveita o que ainda te resta e ocupa o teu tempo com coisas realmente interessantes. Com os melhores cumprimentos do teu companheiro de Erasmus.
Catarina Serrano há 7 anos
Obrigada pelas visualizações, são mais nove pontos que ganho no concurso
Tiago Alves há 7 anos
Espero que ganhes o concurso então! Vejo que já há mais gente a ganhar qualquer coisa com o ridículo além da Maria Leal. Com os melhores cumprimentos do teu companheiro de Erasmus.
João Paulo Quinhas há 7 anos
Catarina, és uma pessoa com um feitio parecido com o meu! Mas realmente parece que o teu Erasmus está a dar-te cabo do juízo!
Muitas vezes, mesmo que tenhamos razão, já não vale a pena chatearmo-nos com certas situações ou pessoas e o melhor passa por tentar ignorar e procurar não perder a cabeça com quem é muito diferente de nós!
Esta atitude é mais fácil de tomar com o passar dos anos, ganhando um pouco mais de paciência e experiência de vida!
Espero que o próximo texto no blogue seja de algo mais divertido para ti!
Força e boa sorte para o concurso.