Um mês num B&B (parte 2)
O Menino Carlinhos era o tipo de senhorio que não está para aí virado para os teus interesses. Uma consequência natural desse seu “desligar” era o longo tempo de espera para obter o que quer que seja da sua parte. Caso mais gritante será, provavelmente, o da internet. Desde o nosso primeiro dia no B&B, que considerámos a internet claramente fraca. Discutimos isso com o Menino Carlinhos e ele concordou. Disse-nos que existia um problema qualquer e que estava a ser resolvido. Certo dia, estava a chegar quando o vi sentado à entrada. Voltei a questioná-lo sobre o maldito assunto. Ele assegurou-me que estava tudo tratado. Tinha chamado um técnico, ele tinha estado horas a circundar o modem e que podia confirmar o estado agradável da nova internet assim que chegasse a casa. Cheguei e, sim, estava tudo na mesma. Disse-lhe que não estava a verificar quaisquer alterações na velocidade da internet e que a mesma era essencial para o meu dia e dia – o que é verdade. Ele desistiu e disse-me que ia buscar a password da internet do staff para me dar. Promessa feita ao vento, porque eu nunca a vi. Melhor: enviou-me uma imagem cheia de número e letras que não davam acesso à rede. Ou seja: não só não ajudo, como ainda se deu ao trabalho de escrever uma password errada num papel.
Como podemos concluir, o Menino Carlinhos é algo ausente. Pedimos alguma coisa e ele não aparece ou fá-la de forma tardia e, normalmente, incorretamente. Esta informação e especialmente relevante porque, quando eu vi que o quarto pelo qual eu paguei o dinheiro pedido estava livre, decidi mudar as trouxas. Mudei-me de malas e bagagens. Mandei-lhe uma mensagem a dizer que tinha aproveitado a vaga para mudar para o outro quarto. Qual não é o meu espanto, quando o sempre ausente Menino Carlinhos e transforma-se em Inquietado Omnipresente. Surge, de súbito, e diz para mudar tudo para o quarto antigo – aquele com vista para a casa-de-banho. Que tem marcações próximas para aquele quarto. Nesse momento, eu soube: estava destinada a viver um mês num conflito ou resignar-me com a opção que ele me dava. Escolhi a segunda opção. Tinha preocupações maiores onde colocar o meu desassossego.
(http://www.teluguone.com/comedy/content/romantic-funny-cartoons-660-25032.html)
(http://www.ilovepaars.com/2015/06/a-quirky-and-funky-hostel-in-makati.html)
Verdade seja dita: preocupações foi coisa que o Menino Carlinhos fez questão que nunca me faltasse. O próximo capítulo desta história pode intitular-se como “primeiro a panela, depois a frigideira e, por fim, o isqueiro”. Ao fim de algum tempo, a tão prometida frigideira acabou por aterrar nas prateleiras, apesar da panela abundante que ele nos tinha falado nunca ter passado da promessa para a realidade. Muito bem, estava tudo ameno no mundo encantado do Bed and Breakfast quando a única penela que tínhamos desapareceu. Estava eu já em estado tal que comecei a considerar a hipótese de fazer esparguete na frigideira – cheguei inclusivamente a ir enchê-la com água à casa-de-banho (este é outro episódio: porque a água da torneira da cozinha saía cinzenta) - quando desisti do comodismo inóspito e lhe enviei uma mensagem no WhatsApp. A resposta chegou algum tempo depois: não tão tarde que esfomeasse, mas tarde o suficiente para olhar para a frigideira cheia de água como uma tentação real. A panela tinha sido transportada para um outro local. Imaginem: um outro Bed and Breakfast que ficava dois pisos abaixo do nosso. Os donos? Os mesmos! Ao entrar fomos surpreendidos pela qualidade do local. O mesmo prédio, o mesmo dono, mas um empenho completamente distinto. Notei, de imediato, que estava a ficar no pior quarto da ovelha negra daquela família de alojamentos. Panela recuperada, subi para o enjeitado local a que tinha que chamar casa. Não muito tempo depois, sucedeu-se o segundo capítulo desta história. O desaparecimento da frigideira. Este foi menos grave, porque a panela faz melhor as vezes da frigideira que o inverso. Mesmo assim, é sempre caricato o dono do local em que tu pagaste para estar te leva o material de cozinha sem o repor. Pior, claramente, foi o terceiro e último capítulo: o rapto do isqueiro. Sem frigideira uma pessoa safa-se. Sem panela até se sobrevive. Sem isqueiro? Como haveria eu de cozinhar? Fazer uma fogueira, tal e qual neandertal, no meio da cozinha? Comer tudo como se fosse um belo de um rosbife? Não me parece. Já imaginaram o que é ter que ir comer fora – em Itália, onde tudo é caríssimo – pelo simples facto do responsável pelo sítio onde estão a ficar se lembrar e vos levar o isqueiro? A ajuda veio tardia, após uma refeição que não pude comer. Enviei outra mensagem pelo WhatsApp, a maneira mais caricata de comunicar com o senhorio, e o Menino Carlinhos explicou-me um truque com o qual conseguimos ligar o fogão sem ser necessário isqueiro. Fiquei estupefacta. Tudo me pareceu altamente caricato, visto ter sido ele a dar-nos o isqueiro na primeira instância. Senti-me a navegar uma teia de mentiras. Falsas verdades. De pequenos jogos que não me faziam perceber por completo. Não precisei de esperar muito tempo para que o desaparecimento do isqueiro que eles nos emprestaram passasse a uma coisa mais grave. Sim, o cenário piora. Neste Bed & Breakfast piora sempre.
(http://www.ilovepaars.com/2015/06/a-quirky-and-funky-hostel-in-makati.html)
Eu tenho por hábito comprar uma série de muffins e croissants achocolatados e guarda-os para o caso de ter algum surto de fome a meio da noite ou pelo simples facto de me apetecer um para comer durante a tarde. Sabia ter cerca de cinco guardados no armário fechado que ele nos tinha emprestado para guardamos as nossas coisas. Uma espécie de dispensa que apenas nós tínhamos acesso. Uma falsa prenda, aprendi. Pois quando um dos tais ataques de fome repentina surgiram e eu me dirigi para a cozinha para, como todo o direito, comer um muffin descubro o terror. Ele, o Menino Carlinhos, roubou-os. Por mais idiota que possa parecer: o meu senhorio roubou-me os bolos! O que fazer a seguir? Tinha duas opções: podia ignorar a situação e continuar como se ela não tivesse acontecido ou… podia confrontá-lo.
(http://www.filicoriblog.com/ricetta-dei-muffin-al-caffe-espresso-italiano/)
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