Passear, perdendo-se

Uma das formas mais eficazes de passear em Verona, ou em qualquer outra cidade italiana é… perdendo-se. Literalmente. Eu tenho uma relação especialmente complicada com os mapas e a localização espacial automática que algumas pessoas possuem nos seus cérebros - sempre capazes de indicar para onde é o Norte, onde o Sol nasce e para que lado é a Serra da Estrela - é algo que ainda tenho que instalar no meu sistema nervoso central. Por isso, quando quero passear e não tenho destino, não procuro. Perco-me.

(http://www.ariadisandaniele.it/verona/)

Se há algum lugar no mundo em que é bom estar-se perdido, esse lugar cheira a pizza. Não, não é a zona de restauração de um shopping com a Pizza Hut. É Itália. A paisagem parece inalteradamente bela nos centros históricos das cidades transalpinas.

(https://travelpassionate.com/things-to-do-in-verona-in-one-day/)

Há um lugar em Verona que, para mim, é o mais bonito da cidade. Não aparece em nenhum mapa turístico. Creio que nem sequer tem nome. É uma passadeira. Sim, uma banal passadeira. Se não se espantaram com a utilização da palavra banal, espantem-se porque está mal aplicada. Aquele local tem tudo menos banalidade. É o local onde devem ir se querem um ver um verdadeiro postal. A cidade não está à espera de ser vista, pelo que não se intimida. Conseguimos chegar-lhe à essência. A igreja de San Fermo. A Torrei dei Lamberti. E o postal… Como background estão umas montanhas altas, verdes e com os topos cobertos de neve. Verona é ideal para tirar fotografias mentais. E esta passadeira é o melhor local para tirar uma que mais ninguém terá, porque mais ninguém parece reparar na beleza que está à sua frente. Dedicam-se a apreciar a Arena, a Piazza delle Erbe e a varanda da Julieta e esquecem-se que a beleza não anunciada é, por vezes, o melhor tipo. Eu prefiro olhar aquelas montanhas que ver um mar de cabeças a ver desconhecidos a apalpar as mamas metálicas da estátua da Julieta, ansiosos por ser a vez deles.

(http://urbanette.com/day-trip-verona-italy/)

Mas onde quero chegar? Para a despedida da cidade, decidi perder-me. Encontrar mais uma beleza escondida. Quiçá, muitas. Infelizmente, não levei o telemóvel comigo para poder tirar algumas fotos. Enfim… creio que vão ter que acreditar no que vos digo.

Normalmente, ao percorrer uma cidade, optamos pelo caminho mais confortável. Aquele que conhecemos todas as esquinas, curvas e manhas. Hoje, pelo contrário, optei percorrer todos os caminhos que desconhecia. Se via uma esquina nunca vista, ela passava a ser o meu novo objectivo. Uma rua apertada com calçada esburacada e prédios coloridos? Era a próxima rua que percorria. Nunca me deixarei de encantar com a típica arquitectura italiana. As pequenas tábuas indicativas de um pequeno negócio. As flores a colorir as varandas. As portadas de madeiras coloridas a proteger as janelas. O próprio rio tem uma silhueta igualmente interessante com os seus patos-reais, as gaivotas e os gansos.

Verona tem uma vantagem para quem quer ter este tipo de aventuras: é bastante segura. É possível andar pela cidade, mesmo pelos recantos menos utilizados ou mais privados, e sentir-se intocável. É a ilusão que toda aquela beleza nos protege. Mas os thugs italianos devem preferir agir de outra forma. Durante a minha estadia, nunca soube de nenhum roubo por esticão, ameaça numa esquina escura ou qualquer outra forma de crime bruta vista nos filmes de Hollywood. A segurança sente-se a cada passo. Há espaço para apreciar. Apenas isso.

A próxima vez que quiseres ver um sítio que ninguém viu, perde-te na cidade em que estás.

(http://www.verona.com/)

Eu perdi-me em Itália, onde visitei outra cidade sem sair de Verona.

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