O terror da fatura
Fiz um favor a uma amiga e acabei por descobrir mais um belo pedaço da burocracia italiana. Se não acreditam, vejamos…
Uma amiga fez-me um pedido especial. Disse-me que estava muito ocupada, pois tem que aliar a faculdade a um trabalho part-time, e estava numa situação complicada. Não tinha grande coisa para comer e pediu-me para ir ao supermercado fazer-lhe as compras. Verifiquei a minha agenda mental. Tinha tempo de sobra. Aceitei. Ela sorriu, foi à sua carteira e tirou três coisas. Dinheiro, uma lista e uma folha branca. Pegou numa caneta, escreveu alguns dados e entregou-ma.
(http://www.wdonna.it/come-fare-spesa-risparmiando/61549)
Fui fazer as compras que ela me tinha pedido ao supermercado PAM (Panorama) da Via IV Novembre. Tem uma estação de Verona Bike localizada bem pertinho e, para além do mais, sempre podia aproveitar o comprometimento que tinha para fazer um percurso diferente do habitual. Chegada ao supermercado, onde fui "fare la spesa" (fazer as compras), escolhi os produtos que ele me pediu e dirigi-me para a caixa. Assim que chegou a minha vez, cumprimentei a senhora que estava na caixa com um alegre “Buona sera”. Ela respondeu-me com um sorriso, perguntou-me se queria um saco (una borsa) e eu respondi que sim. A aventura começou quando eu disse “Vorrei una fattura, per favore” ou, na língua de Camões, “Queria uma fatura, por favor.” Ela apontou o indicador para uma pequena cabine da administração situada perto da entrada e diz-me que tenho que me dirigir lá com o recibo e falar com o gerente. Uma situação um pouco atípica para um português… Em Portugal, basta dizeres que queres fatura que qualquer caixa de supermercado cumpre o pedido sem qualquer tipo de problema. Aqui teria que falar com o gerente… Não estava à espera disso, mas também não deveria ser grande coisa. Paguei, recebi o recibo da compra e dirigi-me à cabine. Bati à porta. Ninguém atendeu.
(https://en.wikipedia.org/wiki/Facepalm)
Perto de mim estavam as caixas automáticas, aqueles em que somos nós a passar os produtos e a cumprir todo o processo. Como é hábito, estava lá uma empregada a dar apoio aos clientes menos desenrascados ou mais inexperientes na matéria. Pedi que me ajudasse, porque queria uma fatura e o senhor gerente não estava no seu gabinete. Ela disse-me para esperar um pouco, que não devia abandonar o seu posto. Os únicos funcionários no supermercado eram a caixa, a ajudante das caixas automáticas e alguém na secção do take-away. Não havia mais ninguém, muito menos o gerente… Quando olhei para o relógio e vi que já estava há dez minutos à espera do excelentíssimo senhor gerente, pensei que ia lá ficar a tarde toda. Afinal, as minhas experiências nos postos dos correios e em todas as outras estruturas burocráticas italianas já me tinham ensinado que eles não são propriamente apressados a tratar deste tipo de situações.
(https://www.umsabadoqualquer.com/burocracia/)
Por fim, vejo um senhor com cara de quem manda dirigir-me à cabine. Tinham passado mais de vinte minutos… Uma situação completamente deplorável. E, claro, não fez questão de se desculpar. Pediu-me os dados, pelo que lhe li o que tinha na folha. Agrafou o recibo a uma folha A4 que tinha acabado de sair da impressora e entregou-ma.
(https://ldav.it/shop/plugin/modello-di-fattura-italiana/)
Por fim, tinha a fatura na mão. A fatura e o sabor agridoce das burocracias italianas que não levam ninguém a lado nenhum…
Lição para levar para casa: se puderes fazer algo simples, não faças algo complicado. Se puderes fazer uma fatura na caixa, não a faças com o gerente.
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