Noite de Ano Novo!
Muitos consideram-na a noite mais importante mais do ano. Muitos tentam passar-lhe ao lado como se fosse uma noite normal. Contudo, esse esforço só comprova o estatuto que a noite do dia 31 de dezembro tem. Quando se combate algo, estamos a atribuir-lhe as características que lhe negamos. Eu estou um pouco aparte nesse debate. Para mim, a noite de fim de ano é uma destinada à celebração.
A celebração é simbólica. Claro que os meus hábitos, sorte ou competências vão ser alteradas por um dia ter acabado e o outro ter começado num ano diferente. Contudo, a vida faz-me de marcos. Há que ter pontos que nos ajudem a focar. A encarar os objectivos quando começávamos a ver um nevoeiro a cercá-los. Para mim, é este o maior significado da viragem do ano: o acerto dos objectivos para os 365 dias seguintes. Como tal, dedico um bocado da tarde do último dia de cada ano a preparar um ficheiro com doze objectivos.
Depois de ter este ficheiro concluído com metas atingíveis, concretas e exigentes, passo para a tarefa seguinte. Abro a página que criei no ano passado e verifico o que atingi, os aspectos em que falhei ou alterações de interesses que, apesar de imprevisíveis, foram benéficas. Isto ajuda-me a encarar o que aí vem com algum sentido de orientação. Creio que se me deixar ir estarei a tentar navegar no oceano atlântico com uma canoa. Deste modo, sinto que navega num transatlântico. Podem dizer que a coisa não correu muito bem ao Titanic, mas quantos casos conhecem de pessoas que tenham atravessado o atlântico de canoa?
A última tarde de cada ano é passada a preparar o ano seguinte. Por isso, a última noite de cada ano é passada a preparar-se a si própria. Sabia que ia fazer a contagem decrescente num sítio frio. Essa informação não foi o suficiente para me dissuadir de vestir o vestido prateado mais elegante. Levemente decotado, com umas costas rendilhadas e um corte a desvendar a coxa esquerda. Decorei-me com uns brincos brilhantes, um colar e umas meias bordadas da Calzedonia. Os sapatos pretos foram o toque final. Creio que os elogios devem ser dados pelos outros, mas deixemo-nos de coisas: estava bem vestida para apreciar o que iria acontecer a seguir, na minha cidade escolhida para fazer Erasmus, Verona.
O jantar tinha sido aprumado. Gosto de passar o ano com a barriguinha bem alimentada, não vá a fome de fim de ano estender-se por 365 dias. Comprei uma garrafa de Limoncello para aquecer o corpo, mas não bebi mais que um copo. Demasiado forte ou pouc diluída. Fosse qual fosse a razão, não ia beber mais daquilo…
Saí de casa por volta das dez horas. Na rua esperava-me o tempo frio que esperava. A diferença entre o tempo em Verona e na Suécia não deve ser assim tanta quanto isso… Mas o caminho compensou quando cheguei ao meu destino.
A Piazza Bra estava especialmente lotada. Segundo o que a senhora do palco disse, eram vinte e cinco mil pessoas. Há cidades em Portugal onde não vivem tantas pessoas quantas as que estavam preparadas para ver a passagem do ano com a Arena como paisagem.
Consegui um lugar privilegiado. A Arena tinha uma zona de protecção delineada com um gradeamento. Fiquei mesmo em frente. À minha frente não existiam cabeças, apenas a Arena, toda a vista privilegiada para a sua estrela branca e o palco que animava os minutos até à desejada contagem decrescente. Na minha pequena bolsa tinha doze passas preparadas para oferecer fortuna ao meu destino. Ansiava pelo momento em que ia concretizar o pedido oficial dos desejos para o ano seguinte. Era o assumir de uma nova caminhada.
A música, a dança e a companhia ajudaram os minutos a passar. Não creio existirem minutos mais velozes que aqueles que foram entregues à felicidade. Deve ser esse o motivo pelo qual até fui apanhada de surpresa quando começaram a contar:
“Venti”, “diciannove”, “diciotto”. Confesso que senti um prazer especial quando gritei “tre”, “due”, “uno”!
O primeiro final de ano passado no estrangeiro tinha acabado de acontecer ali, em Itália, com vista para um local histórico que pessoas de todo o mundo percorrem milhares de quilómetros para o ver. Fiz a contagem decrescente em italiano. Ao meu lado, todos desejavam “auguri” uns aos outros. Notava em todos estes detalhes como se precisasse de uma confirmação de que estava, de facto, onde dizia estar.
A organização do evento deu ao público cinco minutos para festejar a passagem de ano. Depois disso, começou o fogo-de-artifício. De onde vinha? Adivinharam: da imponente Arena. Uma cortina dourada cobriu a fachada da arena, vestindo-a de um vestido de gala. Após isso, luzes cor de ouro, prateadas e vermelhas ergueram-se para céu. Estrondos de luz. Uns tentavam simular estrelas cadentes. Outros pareciam ter o objectivo de iluminar. Mas, quaisquer que fossem os efeitos, todos impressionavam. Posso dizer, sem qualquer motivo para duvidar da minha palavra, que foi o fogo-de-artifício mais bonito que alguma vez presenciei na minha vida.
Acabado o espectáculo sonoro e luminoso, surgiu música que pretendia que todos dançassem noite dentro. Eu, acolhida pelo meu novo rumo, preferia algo mais acolhedor. Não sentia prazer em entregar-me à loucura cliché, pelo que me dirigi para casa e envolvi-me no meu pijama quentinho e entreguei a uma caneca de chá as minhas mãos geladas.
Nessa noite, nem me senti adormecer. Contudo, no dia seguinte, senti que acordava para uma nova parte da minha vida...
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