A surpreendente beleza da cidade de Romeu e Julieta

Publicado por flag-pt Cristiana * — há 6 anos

Blogue: Uma portuguesa em Verona.
Etiquetas: flag-it Blogue Erasmus Verona, Verona, Itália

Ter feito Erasmus foi uma das melhores decisões que já tomei na minha vida.

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Os que já experimentaram a alegria de ir para outro país estudar irão concordar comigo: estudar fora faz-nos crescer de formas que nunca antes havíamos sonhado. Faz-nos querer ser melhores e levar esse crescimento pessoal até aos que nos são mais próximos. Antes de ir, tentei preparar-me mentalmente. Apesar de o ter feito, não imaginava que a cidade de Verona seria capaz de me fazer apaixonar à primeira vista, no primeiro contacto, mas assim foi.

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Quando cheguei à estação de comboios, Porta Nuova , senti-me uma mulher diferente. Afinal de contas, tinha conseguido chegar ao meu destino e ali estava eu, sozinha e corajosa, verdadeiramente orgulhosa de mim. Que me perdoem os motores busca da internet, o GoogleMaps, as aplicações do telemóvel, etc. Para mim, estar ali era um feito. Eu, que tenho a inteligência espacial de uma criança de três anos havia chegado a Verona com uma mala de um lado, outra mala do outro, e nem sinal de um mapa. Nem sequer apanhei um táxi para o local onde iria passar a noite. Tinha tido precauções e escolhido um sítio bem perto da estação, algo que não fosse muito difícil alcançar a pé. Encontrei o local em cerca de dez minutos, mas nem tudo correu às mil maravilhas. Como tinha andado a trocar de voos, por não me ter decidido ainda no dia certo em que partiria para Itália, esqueci-me de alterar também a reserva que fiz para o hotel através da companhia aérea. Resultado: já não tinha sítio onde ficar. Foram várias as peripécias que me ocorreram naquele primeiro dia lá, mas mantive-me resiliente. Sabia que tinha que encontrar uma solução. Ir embora estava fora de questão. A única coisa que me preocupava era o peso das malas que tinha em mãos. Eram duas e pesadas. Não me dava jeito andar com elas de um lado para o outro, à procura de um sítio que me hospedasse, sem conhecer bem a cidade e sem conhecer ninguém que me pudesse oferecer uma mão amiga. E, na verdade, tinha medo de confiar nas pessoas erradas. Tentei de tudo para resolver a questão o mais depressa possível, sem que chegasse o temido anoitecer. Tive que me manter equilibrada perante ofertas de estadia que rondavam os duzentos e trezentos euros por uma simples noite na semana. Ia haver um importante evento com cantores famosos no país, então quase todos os locais estavam esgotados. Tive que manter o pulso firme e lutar por um lugar ali. Acabei por encontrar um sítio razoável ali mesmo ao lado. Custou uns míseros cento e setenta euros… e é claro que estou a ser irónica. Ali fiquei apenas uma noite, até ir morar com um casal de amigos italianos muito interessantes. Um era chef de cozinha e outro era um maquilhador relativamente famoso. Eram a encarnação do cliché do italiano com jeito para as artes, cozinha e beleza. Puseram-me logo à vontade para experimentar todos os seus cremes e perfumes, para me sentir mesmo em casa. O cão, Ferdinando, foi um ponto positivo nessa minha trajectória, pois fez-me sentir menos longe de casa. A primeira noite foi cheia de sobressaltos, pois tive uma visita indesejada no meu quarto, ouvia imenso o comboio a passar, e sentia aquele local como muito estranho. Só queria ter a minha casa ali, sem ser perturbada. Isso acabou por acontecer cerca de um mês e meio depois. Até lá, fui vivendo acompanhada e em alojamentos locais.

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Quando encontrei a minha casa, apesar de a considerar cara segundo padrões portugueses, fiquei mesmo muito feliz. Era tudo o que eu sonhava ter ali. Era uma residência acolhedora, com aspecto histórico e tinha uns senhorios fantásticos, com uma filha com a minha idade, mais ou menos. Esses senhorios convidavam-me várias vezes para ir a casa deles (moravam no andar superior), mas davam-me espaço para viver a minha própria vida, emprestavam-me a sua gatinha Maia para me fazer companhia de vez em quando, deram-me presentes de Natal típicos da cidade e da região do Véneto, e convidaram-me, inclusive, para os visitar neste Verão na sua terra, Nápoles. Disseram até que me fariam uma visita guiada e que poderia ficar com eles sem quaisquer custos monetários. A minha senhoria era mesmo muito simpática, emprestou-me um livro em italiano para eu ler e aprender melhor a língua. O seu marido estava sempre pronto para me ajudar em quaisquer reparações que fossem necessárias lá em casa. Uma das vezes, o esquentador deixou de funcionar e eles prontificaram-se para o compor e deixaram-me ir tomar banho (com toda a privacidade) à sua casa. Fiquei-lhes eternamente agradecida, porque, de facto, não tive o percurso Erasmus mais fácil. Normalmente, os meus colegas chegam ao local já com uma casa em vista, ou então vão para as residências estudantis, que tratam de tudo. Por um lado, foi muito complicado; por outro, agradeço por tantas tropelias… fizeram-me crescer bastante e, sobretudo, dar graças ao que tenho hoje.  Não aconselho este trajecto a ninguém. Se puderem, informem-se de antemão e vão com algumas casas já em perspectiva. Quando finalmente arranjei casa, pude desfrutar ao máximo daquela que é hoje, para mim, uma das cidades mais bonitas e românticas do mundo. Está guardada no meu coração com tamanha força, que sei que um dia irei retornar. Quem sabe até, mostrá-la aos meus amigos ou familiares, como já tive a oportunidade de o fazer.

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Tenho algumas saudades de ir até à Arena comer um pedaço de pizza margherita regada com um fiozinho de azeite, ou de comer um gelado com duas bolas repletas de açúcar e de felicidade. Sinto melancolia quando me lembro da música jazz que percorria aquelas ruas, do movimento que se fazia sentir aos fins-de-semana, da simpatia e da rudeza dos locais, da loucura no trânsito! Até nisso notei a diferença quando voltei para Portugal. 

Tive outras tantas experiências incríveis naquele território... como aquela vez em que subi à Torre dei Lamberti e estava a nevar vigorosamente sobre toda a cidade. Foi um momento lindo, de filme, sem dúvida. Posso dizer que não tenho quaisquer arrependimentos. Fiz tudo o que queria fazer, provei de tudo um pouco, comi bem, fiz amigos, estudei, aprendi italiano, diverti-me, tenho histórias para contar. Acho que a experiência Erasmus, mais do que uma experiência de estudo, é uma experiência de vida. Para sempre, andar de bicicleta será para mim um relembrar de todas as horas que passei a percorrer a cidade, encantada, a gravar com os meus olhos tudo o que ia acontecendo. Sinto um calor na barriga ao relembrar o pôr-do-sol quando subia a colina no funicular ou contemplava o rio num dos muitos passeios que fiz. Se visitarem Verona, vão na altura do Natal, para não perderem o fabuloso Mercatini di Natale.

Acho que Verona ficará sempre comigo. Sera musa de inspiração e melodia que irá tocando, em música de fundo, como banda sonora das minhas lembranças mais profundas.

A cidade para onde se escolhe ir estudar será, definitivamente, uma comparsa de longos meses. É importante sabermos escolher relações, e esta é uma delas. Posso dizer que soube escolher. Estou muito feliz por ter conhecido Verona de uma maneira tão duradoura, pertinente e autêntica. Conheço quase todos os seus recantos, sei-lhe os segredos e as manhas. 

Deixem-se corromper pela beleza da simplicidade, conheçam este cidade do Norte italiano.

  • Como bónus, visitem também outras cidades desta região Milão e Veneza, ali tão perto.


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