Na bagagem, um carnaval
Sou Izaura, estudante de enfermagem na Amazônia, e através de uma bolsa de estudo, saí de uma cidade banhada por rios de água doce e muita floresta para passar seis semanas em Évora; região seca, bastante quente e tradicional, para um intercâmbio acadêmico de curto prazo.
Como sou bastante inquieta e curiosa, além das minhas atividades de enfermagem na Universidade de Évora, eu conheci os outros campus, outros cursos, novas pessoas, e quando vi, já estava tocando tamborim, no dia da "Queima das Fitas" sob o comando de uma rapariga doutoranda de musica, Letícia Carvalho, que tem o projeto ambicioso de inserção do carnaval em Portugal.
Contextualizando essa experiência para àqueles que não conhecem a pitoresca cidade de Évora, essa é uma cidade muito pequena, cercada por uma muralha, já serviu de sede para as tropas romanas, está situada na região agrícola de Portugal e, em 1986, foi considerada pela UNESCO, "Patrimônio Comum da Humanidade".
Além desse peso cultural, hoje, Évora é uma cidade universitária e, diferente das formaturas brasileiras, quando os estudantes universitários se formam há a cultura de festejar-se com a “Queima das Fitas".Eles literalmente queimam as fitas dos seus trajes para simbolizar a "libertação”dessa etapa.
No dia da comemoração, após a queima das fitas na sede da universidade, há o cortejo dos cursos; cada turma enfeita seu carro alegórico com flores, balões, tecidos, bonecos e estocam bastante vinho para dar banho nos que assistem enquanto desfilam pela cidade com muita música.
Então, esse, com certeza, era o melhor dia de apresentar de perto a força da cultura do carnaval aos europeus.
Anteriormente ao dia das queimas, Letícia (autora do projeto) teria que ter uma banda, afinal um bloco de carnaval não se faz sozinha. Por isso foram divulgados três "Workshop Puf-Tictá” convidando a todos (moradores locais ou não) para ensaio do bloco nos pontos principais da cidade.
Chegando lá, tínhamos, além de uma doutoranda cheia de alegria, um tamborim, agogô, surdos e outros instrumentos de percussão para aprendermos a tocar igual como fazem nos carnavais. Eu nunca imaginaria que iria ter gente da África, Portugal e Brasil, que mal sabiam tocar os instrumentos participando dessa loucura! Durante os ensaios fizemos a pacata cidade tremer e é indiscritível a força da música brasileira numa cidade com uma energia tão forte. Fiz também amizades (tanto é que voltei ao Brasil com uma grande amiga cabo-verdiana e uma de Minas Gerais que conheci no Bloco). Ah fomos xingados... e como fomos - como disse, Évora é bastante tradicional e alguns senhores mandaram-nos voltar, no mínimo, ao brasil para fazer àquela balburdiaria toda. Mas nós sorríamos e continuávamos.
No dia da Queima, estava um calor de 40 graus, saímos cheios de brilho, estávamos muito bem treinados (sabíamos dois repertórios), as ruas estavam cheias de moradores esperando o cortejo passar. Ficamos atrás do carro do curso de música e, durante o desfile, quando olhei para o lado, os olhinhos dos portugueses brilhavam com aquele som diferente (eles até arriscavam uns passos) e os nossos olhos, provavelmente, estavam brilhando com a sensação de dever cumprido.
E, o carnaval que foi levado na "bagagem" fez parte de cada pessoa e cada pedra da muralha da pacata cidade de Évora.
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