"Olá Tóquio"
O que não falta é países para visitar por esse mundo fora, todos eles repletos de sítios para ir, pessoas para conhecer e culturas para absorver...
Sem dúvida que o Japão pertence à bucket list de muitas pessoas por diversos motivos, desde a diferente cultura à deliciosa gastronomia, passando pelos desportos típicos praticados globalmente, ou até pelo entretimento que desde sempre proporcionqdo, repleto de histórias e personagens de jogos ouanimes que marcaram muitas gerações.
São essencialmente pouco mais de 24 horas em viagem e cerca de oito fusos horários que separam Portugal do Japão.
Chegando cedo de manhã ao aeroporto internacional de Narita, na região de Kantō, a pouco mais de 1 hora do centro do Tóquio, a eficiência Japonesa não permite que uma pessoa tenha tempo para parar e absorver tudo, visto que em pouco tempo se está despachado com a burocracia fronteira para entrar no país e com as malas. Só junto à saída das partidas do aeroporto é que dou por mim a parar por um momento, ainda que algo estonteada e cansada da viagem e dojet lag, a tentar contemplar os arredores.
Pessoas e sítios diferentes, uma língua que em nada se assemelha à minha língua materna ou qualquer outra língua que tenha aprendido, nomes de locais ou marcas que não soam sequer familiar… É normal sentir um certo pânico interior nos primeiros momentos.
Primeiro dia em Tóquio
Junto das minhas malas, sigo para o centro de Tóquio. Tendo estudado a priorias diversas maneiras de ir para o centro de Tóquio, opto pelo comboio. Dificilmente se encontram Japoneses que falem Inglês ou que arranhem sequer qualquer outra língua, mas uma coisa indiscutível - que pode dizer-se que é regra geral no Japão - é a simpatia e preocupação imensa em ajudar, o que torna tudo muito mais simples.
A viagem até ao meu alojamento é longa o suficiente para me dar margem de rever os meus planos para tirar o melhor proveito do meu primeiro dia. Um dia preenchido, mas é também a melhor maneira de combater o sono que o jet lag me possa vir a dar e mais rapidamente me habituar aos horários do país.
Sendo fim-de-semana e estando o bom tempo de Abril, parece-me um excelente dia para visitar um parque e observar como a gente local aproveita o seu tempo livre.
O centro de Tóquio e arredores, chamado a grande área de Tóquio, somam em conjunto cerca de 36 milhões de pessoas. São quase quatro vezes mais o total de pessoas do meu país de origem, uma perspectiva avassaladora, principalmente quando se está sozinha numa metrópole tão grande.
Ainda assim, surpreendentemente (ou talvez não tanto), o caos é bastante organizado. Os transportes públicos no Japão são altamente pontuais e eficientes, exactamente para facilitar a comuta diária de tamanha quantidade de pessoas.
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Parque Yoyogi
Alguns minutos de viagem de metro levam-me até ao Parque Yoyogi. É uma das muitas áreas verdes que servem de pulmão da cidade, sendo esta hoje, provavelmente, a minha favorita.
Pode-se dizer que Yoyogi está divido em duas zonas principais: uma sendo o parque em si, e outra composta pelo santuário de Meiji. Este santuário é o meu primeiro contacto com a religião Shintō, rodeado pelo bosque que separa a confusão da cidade da paz deste espaço, e onde se pode observar a arquitetura das estruturas e contemplar as pessoas nas suas práticas religiosas.
明治神宮 Meiji Jingū - Santuário de Meiji, a primeira paragem do primeiro dia na grande metrópole
Estas podem incluir escrever os seus desejos em pequenas placas de madeira e pendurá-las junto a muitas outras num local próprio, comprar amuletos de sorte, sortear a sua própria ou, é claro, rezar. Para quem tiver uma moeda de cinco ienes, que a guarde bem para os templos e santuários. Independentemente do perfil e passado de alguém, há desejos que são comuns a todas as pessoas, as quais são bem-vindas a participar nestes rituais, juntamente com os locais.
Tendo tido um momento de reflexão no santuário de Meiji, sigo então para o parque de Yoyogi. Dependendo da altura do ano, este emblemático parque tem constantemente um grande movimento de pessoas e eventos a decorrer esporadicamente ao longo do ano.
Durante a época de Hanami, do Japonês, traduzindo directamente, “contemplação das flores”, que coincide com a altura das sakura (cerejeiras em flor), o país praticamente pára, nem que seja por uma hora, para as pessoas irem Hanami.
さくら Sakura - Lindíssimas flores de cerejeira
É um evento já muito enraizado na sociedade Japonesa, em que a cultura do trabalho é exigente e o tempo familiar ou até pessoal é escasso. Tirar umas horas para ir Hanami, não só actua como uma pausa de descanso, de convívio entre familiares, amigos ou até entre colegas de trabalho, como também tem o objectivo de apelar a uma reflexão acerca da efemeridade da vida, visto que desde a primeira flor até às primeiras folhas, que marcam o fim desta altura, não vão mais do que apenas duas semanas.
Fazer parte desta experiência só acrescenta mais a esta aventura. Tirar um momento para arranjar um lugar (boa sorte com esta tarefa) debaixo de uma das muitas destas árvores que cobrem alguns parques mais importantes de Tóquio, dá um cheirinho de como os locais vivem este momento.
As pessoas conversam, riem, comem, bebem e jogam debaixo de um céu coberto de flores brancas com um toque de rosa, muitas às vezes até à noite cair. Vem carregados de toalhas de piqueniques, refeições completas, cadeiras, luzes e tudo o que precisam para uma tarde bem passada. Basta deixar os sapatos à entrada da toalha do piquenique, e está tudo pronto para começar o convívio.
花見 Hanami – Grande convivío debaixo de cerejeiras em flor
Querendo ainda aproveitar o resto do dia para visitar mais algum sítio, com o cair da noite, ponho-me a caminho para a minha próxima paragem. Troco o ambiente bucólico do parque pela adrenalina da cidade novamente e, desta vez, por um dos locais mais movimentados de Tóquio.
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Bairro de Harajuku
Mesmo ao lado da entrada do parque de Yoyogi fica o bairro de Harajuku. Harajuku é considerado o bairro da moda e da cultura Pop do Japão. A rua de Takeshita (ou Takeshita-dori, em Japonês) é uma rua a direito que compreende todas as lojas e cafés mais famosos deste bairro.
O que se espera encontrar aqui é muito variado, desde souvenirs, a cafés temáticos, lojas cuja a única coisa que vendem são fotos de ídolos de Pop Japonês e até Coreano, que fãs de cesto em punho entretém-se a colecionar, doces variados e lojas só de algodão doce colorido e grande o suficiente para um grupo inteiro de amigos poder dividir. As roupas e objectos de cores berrantes e eléctricas são os predilectos, mas principalmente tudo o que é kawaii (fofo) é, sem dúvida, o factor determinante.
竹下通り Takeshita-dōri - a rua Takeshita, no coração de Harajuku, é o centro da cultura Pop Japonesa
A rua não é muito comprida, mas espera-se que se demore um bocado a percorrê-la por completo. A multidão e curiosidade que desperta para ver o que há para descobrir e fazer, leva uma pessoa a demorar mais tempo do que se esperaria inicialmente.
Com o cair da noite, há um sítio com o qual decido dar pelo meu dia como terminado. É imperativo lá ir e, dada a proximidade com Harajuku, resolvo ir a pé. O percurso até lá não dura mais do que 20 minutos sobre uma rua principal larga e bem movimentada de enchentes de pessoas e carros. Lojas de marcas conhecidas (ou não conhecidas) e restaurantes para todos os gostos seguem-me ao longo desta rua.
Tiro um momento para apreciar o icónico jogo de espelhos a entrada do Tokyu Plaza. Não sendo mais do que um centro comercial, as escadas rolantes à entrada do edifício permitem que uma pessoa seja emersa na ilusão óptica que os espelhos proporcionam e, só por isto, merece uma curta paragem para uma fotografia.
Efeito óptico provocado pelos espelhos da Tokyu Plaza em Harajuku
Retomando o meu caminho inicial, numa questão de minutos chego ao centro de um dos bairros mais famosos de Tóquio. Chamar-lhe “bairros” é modesto, os próprios Japoneses referem-se a estas zonas dentro de Tóquio a “cidades” e, na minha opinião, faz todo o sentido, pois cada área é um mundo por descobrir…
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Bairro de Shibuya
É impossível não se sentir tal facto quando se chega em frente à estação de Shibuya. O impacto é imediato. Há música ou anúncios como som de fundo, néons e luzes brilhantes e multidões aceleradas. Definitivamente leva uma pessoa a sentir-se ao mesmo tempo num dos centros do mundo, mas também tão pequena, apenas mais uma alma somada aos quase milhões de pessoas que a cidade sustenta.
Junto à estação, não há quem esteja neste local pela primeira vez e não tire um minuto para visitar a estátua do leal cão Hachikō.
A famosa estátua de Hachikō ハチ公
Segundo reza a história, Hachikō vinha todos os dias à estação de Shibuya para esperar o seu dono quando este regressava do trabalho. Depois da sua morte, Hachikō continuou a regressar todos os dias à estação à espera do seu dono, durante os restantes 10 anos da sua vida canina. A história que emocionou milhares de Japoneses e que mais tarde se tornou num filme, veio dar origem à estátua de Hachikō em frente à estação, eternizando a sua espera.
Relativamente à estação de Shibuya, esta é uma das maiores estações do planeta e em frente encontra-se a célebre intersecção de Shibuya: um conjunto de passadeiras, umas até cruzando em diagonal, que permitem a travessia de centenas de pessoas ao mesmo tempo em apenas alguns segundos. Diz-se serem as passadeiras mais movimentadas do mundo, contudo a confusão é completamente organizada.
Atravessando a estrada para o outro lado da rua, dentro do edifício TSUTAYA há um Starbucks. Independentemente do nível de fome ou se se é fã da marca ou não, atrás do balcão há umas escadas rolantes que dão acesso ao piso de cima, bem como ao segundo andar de uma loja de música. A vista deste andar permite ter uma perspetiva aérea das passadeiras. Basta o sinal abrir para as estradas ficarem inundadas de pessoas, ainda que seja por meros momentos.
渋谷区 Shibuya-ku - Um dos centros de Tóquio onde se encontram as passadeiras mais movimentadas do mundo
É inevitável não pensar que algum acidente pode acontecer, mas a verdade é que se consegue encontrar harmonia no meio do caos. No geral, no Japão, há uma grande preocupação em não estorvar o próximo, especialmente na partilha de espaços públicos.
Isto inclui o facto de ser muito difícil encontrar áreas destinadas a fumadores, fazer sempre fila ordenada para entrar nos comboios ou metros, ou o facto de não ser permitido falar ao telemóvel ou ter som no mesmo nos transportes públicos (há inclusive chamadas de atenção para quem fala demasiado alto com a pessoa por quem está acompanhado ou até para quem ouve música nosearphonesdemasiado alto).
Algumas fotografias e vídeos depois, resolvo explorar mais o centro de Shibuya. Ao contrário de muitas outras cidades, pode dizer-se que Tóquio tem uma particularidade: há muita coisa para ver e se fazer, mas ao mesmo tempo não há nada em concreto para se visitar.
Uma metrópole tão grande, com certeza que tem uma diversidade de museus e monumentos para se visitar, alguns deles absolutamente hipnotizantes só pela estrutura do edifício em si, mas com isto quero dizer que toda a cidade é um museu.
O dia é repartido em áreas da cidade, desloca-se para essa zona e deambula-se por ela na sua generalidade. Shibuya é um bom exemplo disto. As cores frenéticas e luzes psicadélicas são uma imagem marcante, os sons e músicas ficam gravados na memória, mesmo que não se entenda do que se trata, e o cheiro a ramen, tempura e outros sabore típicos é uma constante.
Além do mais, Tóquio pode ser uma cidade enorme, mas também é considerada uma das cidades, senão mesmo a cidade, mais segura do mundo, segundo alguns autores, e essa segurança é notável, principalmente quando se vaja sozinho.
Tendo já apetite para uma boa refeição, facilmente se pode encontrar restaurantes nesta zona. Mesmo para quem não arranha sequer a língua, muitíssimos restaurantes têm à entrada os típicos sampuru, que se trata de modelos de plásticos que replicam de forma extremamente realista o prato verdadeiro. Dentro dos restaurantes, caso não exista menu em Inglês, os menus Japoneses têm fotos dos pratos, o que facilita fazer o pedido.
Passeando por entre as ruas de Shibuya.
Dificilmente se encontra uma pessoa Japonesa que fale Inglês, mas outra máxima no Japão é o facto do cliente vir sempre primeiro, independentemente do prejuízo que possa trazer ao negócio. Espera-se simpatia e eficiência das pessoas quando se fizer o pedido e não há que ter medo da barreira linguística. Mesmo com ela, não será difícil apontar e dizer kore o kudasai (“este, por favor”), seguido da expressão universalmente mágica que no Japão dir-se-á: arigatō gozaimasu (“muito obrigado”).
Para uma experiência mais local, procurar izakayas (ou pubs Japoneses), permite disfrutar de uma variedade de pratos diferentes e típicos, acompanhados de bebidas alcoólicas também nacionais e, por vezes, mais baratas que em restaurantes. Como o nome indica, não é de se estranhar o possível cheiro a tabaco ou o barulho ensurdecedor dentro do local, frequentado na sua maioria por homens de fato e gravata acabados de sair do trabalho para um jantar com os colegas. Ainda assim, o ambiente é extremamente animado, logo contagiante, proporcionando uma experiência única.
Depois do jantar, há oportunidade para explorar um pouco mais a área, talvez até tirar um tempo para entrar numa das muitas, clássicas arcadas de jogos, tentar a sorte numa das claw machines, ou experimentar algo novo, como Taiko no Tatsujin, um jogo que junta a música moderna com o tradicional tambor Japonês. É um jogo extremamente popular entre os Japoneses e, para quem não estiver a fim de jogar, pode ter a oportunidade de encontrar um perito no assunto, cuja proficiência deixará qualquer um boquiaberto.
Quando o cansaço da viagem e o jet lag finalmente começarem a levar o melhor, dou por terminado o meu dia, apanhando uma das muitas linhas que a estação de Shibuya incorpora para retornar ao meu hostel. O dia seguinte terá muito mais para descobrir e, com isso, novas vivências!
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