Porque é que os estudantes do Porto parecem saídos dos filmes do Harry Potter?
Todos os estrangeiros ficam curiosos quando chegam ao Porto e reparam nos estudantes que vestem fatos pretos que parecem saídos diretamente dos do Harry Potter. E se tiverem a sorte (ou o azar?) de visitar o Porto no dia do Cortejo Académico – talvez um dos dias mais caóticos da cidade, semelhante ao Ano Novo ou Festas de São João – então a curiosidade aumenta ainda mais, pois as ruas são dominadas por estes estudantes, numa espécie de mancha preta gigante.
Mas afinal, porque se vestem os estudantes assim? A resposta está na palavra “praxe”.
A praxe é uma associação que pertence à Tradição Académica do Porto. É uma tradição estudantil já antiga que surgiu com o propósito de integrar os novos estudantes - os “caloiros” - nas Universidades, através de um conjunto de “rituais” organizados pelos estudantes mais velhos – os “doutores”, liderados pelo “Dux”. A origem desta prática remonta a Coimbra, mas hoje em dia a maioria das Universidades de todo o país têm esta tradição, mas a forma como é feita e até as suas regras variam de Universidade para Universidade. Em alguns sítios, a praxe fomenta as relações entre alunos mais novos e mais velhos de forma igualitária e o ambiente é amigável. Noutros locais, os doutores são vistos como superiores aos caloiros, os quais têm de obedecer a um conjunto de regras hierárquicas (o “código da Praxe”), e são praxados através de uma espécie de “castigos” como flexões e outros desafios por vezes considerados humilhantes.
Preciso de destacar que eu nunca pertenci à praxe, por não me identificar muito com o conceito, portanto não sou a pessoa com mais conhecimentos sobre este assunto, apenas quero que os estudantes estrangeiros fiquem mais familiarizados com esta prática. Não é obrigatório pertencer à praxe, é uma decisão pessoal. Nos últimos anos tem-se tornado um tema polémico pois em 2013 deu-se uma tragédia na Praia do Meco que levou à morte de seis estudantes, que alegadamente estavam nesse momento a participar numa cerimónia relacionada com a praxe. As opiniões dividem-se, há quem defenda a praxe serve para integrar, há quem afirme ser uma estupidez pelas humilhações constantes. Acho que depende de cada um! Eu pessoalmente não conhecia ninguém quando fui para a Universidade e fiz na mesma amigos sem pertencer à praxe, apesar de reconhecer que nas primeiras semanas é uma grande ajuda para conhecer pessoas.
Quanto ao traje académico, constituído por Capa e Batina, há inúmeras “regras de etiqueta” para o utilizar, sobre as quais não estou familiarizada, mas é comum ver mais estudantes a utilizá-lo durante cerimónias especiais, também organizadas pela Tradição Académica. E que cerimónias são essas?
No caso do Porto, as mais conhecidas são a Queima das Fitas, o Cortejo Académico e a Latada.
A Queima das Fitas é A festa académica do ano – acontece todos os anos no início do mês de Maio. Dura sete dias, num recinto do Parque da Cidade ao ar livre, onde cada Universidade tem de montar um bar temático, muitas vezes com nomes “peculiares”, e que vendem bebidas a preços muito baratos. Diria que 98% dos estudantes da cidade participam nesta festa – há quem vá apenas uma noite, há quem compre um passe para todas as noites. As noites começam com concertos de bandas conhecidas e prolongam-se até de madrugada, cerca das 6 da manhã, altura em que o recinto fecha. Durante esta semana há várias atividades durante o dia, como a Serenata, o Cortejo etc. É uma festa conhecida pelos excessos, infelizmente alguns estudantes não conseguem beber com moderação, mas é uma grande tradição da cidade.
O Cortejo Académico é uma das atividades que acontece durante a semana da Queima. Nesse dia, os finalistas de cartola, bengala e pasta com as fitas do curso desfilam num percurso pelas ruas da cidade, em carros temáticos construídos pelas Universidades (parecidos com os que se usam no Carnaval!), cada curso com um carro, e em frente à Torre dos Clérigos fazem uma corrida que simboliza o adeus à vida académica e que termina em frente à Câmara Municipal, onde são recebidos pelo Presidente. É um dia super animado porque todos os estudantes estão felizes e as famílias são convidadas a juntar-se à festa, que depois continua na Queima.
A Latada acontece no final da semana de recepção ao caloiro e também consiste num desfile pelas ruas do Porto, onde os estudantes entoam cânticos e arrastam latas.
Há muitos mais eventos organizados pela Federação Académica, apenas mencionei os mais conhecidos. Para os estudantes de Erasmus, acho que vale muito a pena participar no Cortejo e na Queima, pois vão ficar com uma ideia do que é esta tradição, tão caraterística da cidade do Porto e que é tão difícil de explicar por palavras – só experimentando.
PS: voltando ao início do texto, sabiam que a JK Rowling inspirou-se mesmo nos estudantes do Porto para escrever o Harry Potter? A autora viveu na cidade durante 2 anos e os estudantes portugueses serviram de inspiração para os estudantes de Hogwarts!
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