A vista da Torre dos Clérigos

Decidi subir ao topo da Torre dos Clérigos para confrontar as minhas vertigens. O desafio partiu de um amigo que me acompanhava numa visita à igreja dos Clérigos.

Fiquei reticente: lembro-me perfeitamente do desagrado que sinto sempre que os meus pés deixam de poder tocar chão firme. Depois disso lembrei-me que para ver o topo da torre é preciso inclinar a cabeça numa inclinação considerável. Para piorar, o meu cérebro resgatou uma frase maldita que tinha lido na internet “a torre dos clérigos tem duzentos e quarenta degraus”.

• O desafio, portanto, teve resposta automática: não, isso não vai acontecer...

Ele insistiu e o argumento que trouxe para a mesa até era convincente: “Diz-me um local que te dará uma melhor vista da cidade do Porto?” Como poderia responder a isso sem ser com um “Sim, é verdade…”? No entanto, não estava convencida. As minhas vertigens pesavam mais na balança que a minha vontade para ter a melhor vista do Porto. Até que o desafio chegou. Perguntou-me se tinha medo de desafiar as vertigens. Pelo que, de peito cheio, lhe disse que não. Não era nada disso. Ele estava redondamente enganado. E, para o provar errado, acrescentei ainda que iria subir ao topo da torre com todo o gosto.

• A subida começa com a compra do ingresso. Tem o custo de quatro euros, se bem que poderá ser mais barato ou mais caro, consoante a opção que escolherem. Os dados que necessitam estão todos disponíveis neste link: http://www.torredosclerigos.pt/pt/bilheteira/ Quando a senhora me passou o bilhete para a mão, tive a certeza que não tinha como fugir. Os joelhos tremeram um pouco, mas não havia nada a fazer: tinha que subir!

Chegou o momento da confissão: a subida em si nem foi grande desafio. Estava na expectativa de encontrar algo mais vertiginoso, mas tudo com que me deparei foi com um ligeiro sentimento de claustrofobia. O caminho pode ser um pouco apertado e algo movimentado. Há certos momentos em que te cruzas com alguns turistas e chegas mesmo a questionar-te “Como é que vamos caber os dois aqui?”, mas depois de um chega para lá, um abraço na parede e de espremer mais um bocado qualquer parte do corpo, até reparas que passaste quase tranquilamente. Quase…

Ao longo do caminho, os degraus vão ficando mais pequenos, os corredores mais esguios e, para nossa salvação, vão aparecendo algumas janelas. Salvação pela luz que nos dão, mas alimento para o mais enraizado sentido vertiginoso. A vista vai fazendo os pés sentirem-se longe, bem longe do chão. O que, de alguma forma, é bom. Prova-nos o progresso que estamos a fazer.

A luz começa a intensificar-se perto do topo. O ar fica mais puro. O passo apressa-se. Quer descobrir o que atrai tantos olhos! E, ao ver, espanta-se.Chegando ao topo, há que dar o braço a torcer, esconder as vertigens no covil dos medos e apreciar a vista: é qualquer coisa de genial. Até a vertigem desaparece devido à proteção rochosa que impede qualquer tipo de imagem da nossa pessoa a fazer paraquedismo sem para-quedas…

Ter uma sensação de vista superior sobre a cidade, é incrível. A cidade do Porto é conhecida internacionalmente pelas suas belas paisagens. A zona ribeirinha. A Avenida dos Aliados. A Ponte D. Luís. O melhor de tudo isto: O SOL DO PORTO!Até em pleno outono consegues ter um céu limpo e uma vista ampla. Isto irá permitir-te ver todos os pontos de interesse. Se tiveres curiosidade, tenta ver a paisagem mais próxima numa posição quase vertical! Vais ficar impressionado com as pequenas formiguinhas a percorrem os seus caminhos perto das suas casinhas pequeninas. Palavras posso escrever-vos muitas, mas penso que as imagens falarão por si.

• Se tens vertigens, é o local certo para desafiares o teu medo. A cidade espera por ti. Que melhor plano queres que este: pegar no teu corpo, convidar uns amigos, subirem a Torre dos Clérigos pelo fim da tarde e observar o por-do-sol no local mais alto da cidade? Não me parece que existem muitas coisas com capacidade para competir com uma boa companhia e uma boa vista!

O Porto está à espera de ser descoberto. O Porto quer ser descoberto. A questão é: do que estás à espera?

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