À descoberta na terra dos descobrimentos

Huelva é uma cidade quente, com muito sol e que parece ter vida própria durante o dia, sendo simultaneamente uma cidade tranquila, segura e com gente genuína, feliz, altruísta, e muito amável, diria até maternal.

Como estrangeira, no meu primeiro dia em Huelva, senti-me em casa. Isto não é assim tão fácil de acontecer, mas de facto senti-me muito bem acolhida e principalmente senti que as pessoas quando me ajudavam ou simplesmente me davam algumas informações turisticas o faziam voluntariamente, com orgulho nas suas raízes e com uma vontade incrível de mostrar o que é deles.

Ponto da situação: DEFINITIVAMENTE AINDA ME FALTA MUITO PARA VISITAR E CONHECER EM HUELVA! A cidade não é muito grande, mas a província tem autências fontes de riqueza cultural que estou ansiosa por descobrir. 

 Antes de todo o património deste lugar, o que tenho obrigação de partilhar convosco é sem dúvida "a gente desta terra". No fundo, somos nós quem construimos as nossas casas, o nosso lar, as nossas comunidades. E esta cidade deu-me a oportunidade de me cruzar e conhecer pessoas que, em tão pouco tempo, marcaram a minha vida. Aqui, encontrei o significado de companheirismo e amizade que a minha família me transmitiu e que nunca tinha experenciado. Identifico-me tanto com estas pessoas, mais do que com a cidade, do que com o hospital onde estou a trabalhar ou do que com o nível de vida. 

As primeiras semanas foram muito difíceis para mim. A propósito disto: antes de começar o estágio tive que fazer análises sanguíneas no serviço de medicina preventiva do hospital. Partilhei com o enfermeiro que me fez a colheita um conjunto de sintomas que tinha desde que tinha chegado e qual era a sua opinião relativamente a isso, ao qual me respondeu com um sorriso e um olhar constrangedor de tão sincero que era: "Eso te pasa porque aún no measte en Huelva. Escucha me: Que hacen los perros cuando llegan a un sítio nuevo? Mean. Pues lo que tienes que hacer és mear en Huelva. Mea. Mea sin problema. Esta va a ser tu casa en los próximos trés meses asi que te tienes que adptar y mientras no lo hagas vas siguiendo tienendo problemas. Adapta-te ahora. Mea ya. Mira, y esto no se enseña en enfermeria."

Eu estava a falar de um problema fisiológico, que eu sabia que tinha, e que simplesmente queria saber qual a opinião de outra pessoa relativamente ao que deveria fazer. A resposta surpreendeu-me. Já tinha reparado que ele estava a olhar para mim enquanto esperava a minha vez. Mas assim que lhe fiz a pergunta, respondeu-me muito rápido. Parecia que já sabia o que eu ía preguntar e que já tinha pensado na resposta. Foi muito estranho, mas fez-me pensar sobre o que realmente queria dizer com aquilo. De facto tive que admitir que tinha que me adaptar o mais rapidamente possível, e que tinha que consciensalizar-me que já não estava em Portugal. Tinha obrigatoriamente que me concentrar. Não estava de férias, esperava-me um período muito intenso de aprendizagem e trabalho.

Como pode um enfermeiro, sem me conhecer de lado nenhum, identificar um problema que eu nem sabia que tinha, que não era físico, mas que se expressava através de uma clínica clara?

Como pode um enfermeiro, volto a repetir, que nunca me viu antes, fazer-me pensar sobre se realmente o meu problema não seria mais do que um conjunto de sintomas, e que não se resolveria simplesmente com uma terapêutica?

Acabo-me de me aperceber que é muito difícil separar a minha opinião sobre esta viagem e sobre os lugares e pessoas que conheço das experiências que vou tendo no contexto do programa Erasmus, mas não é esse o objetivo?