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Obscene Extreme Festival


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O Obscene Extreme (OEF), maior festival de música extrema do mundo, é um caso à parte, sem dúvidas. Primeiro, pelo seu tamanho, porque não há outro festival de música extremamente extrema - perdoem-me a redundância - com as dimensões e profissionalismo do OEF. Partilho esta experiência para recordar e para incentivar outras pessoas a experimentarem algo distinto e realmente único. O festival ocorre todo o mês de Julho durante 3 dias e mobiliza pequenas multidões ligadas à música underground.

Onde está localizado o OEF?

Está na cidade de Trutnov, no norte da República Checa, na região de Hradec Kralové perto da fronteira com a Polônia. Para quem está em Praga ou chega ao país através da sua capital, basta pegar um trem na estação central, Hlavní Nádraží, em direção a Hradec Kralové ou Liberec. Não creio que haja trem direto para Trutnov. Chegando lá, dá para ir a pé até ao recinto do festival e costuma haver indicações pela cidade mostrando o caminho. Há uns anos, precisamente em 2009, o festival foi realizado numa localidade próxima à cidade de Pardubice, a cerca de uma hora e meia a leste de Praga, e houve um ônibus gratuito especialmente para levar as pessoas da estação de trem ao festival.

Como o OEF está estruturado?

Apesar de (ainda) ser um festival underground, a sua organização é profissional em vários níveis, a começar pela dimensão da divulgação, que conta até com outdoors, e pelo merchandising oficial. Dentro do festival há uma tenda especial só com produtos do evento, que têm camisetas e casacos para adultos e crianças e em formatos masculino e feminino, por exemplo, e as estampas são de qualidade profissional, o que não é tão comum nos ambientes musicais mais undergrounds.

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O palco único é do tamanho dos palcos de festivais comerciais, e o interessante é que todas as bandas tocam nele, da mais famosa e consagrada às desconhecidas e amadoras, e todos partilham o mesmo backstage. Como a música extrema não é um antro de celebridades, os músicos das bandas costumam sempre sair da área reservada a eles e andar normalmente entre o público. Eu próprio conheci vários membros de bandas assim, incluindo bandas míticas e importantes no cenário, como Ratos de Porão e Agathocles.

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Em relação à higiene pessoal, há toilets (os famosos ToiToi) por todos os lados, e costuma haver uma área para banho, embora ela seja menos estruturado que o resto, mas até isso é resolvido com alguma criatividade. Por exemplo, em 2013 a organização do evento conseguiu um acordo com o que parecia ser uma escola local para que o público pudesse utilizar os banheiros. E foi assim que eu tomei banho.

Mas a parte da alimentação é a que mais me chama a atenção. Há muitas barracas com uma grande variedade de comida. E aqui está a parte mais interessante: toda a comida distribuída dentro do recinto é vegetariana e vegana. Foi uma decisão do próprio organizador.

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Mas as pessoas não reclamam da falta de carne?

Algumas podem até reclamar, mas creio que a maior parte compreende bem o significo e o porquê dessa opção. O organizador é vegano e não se sentiria bem compactuando com a indústria da carne, e dentro da cena da música extrema há muitos vegetarianos, muito mais do que a quantidade relativa de cada país, por exemplo. 

E para mim foi muito divertido ver os meus amigos sendo obrigados a comer comida vegetariana. Eu dizia-lhes que era uma espécie de vingança por tudo o que eu aturei ao longo dos anos por ser vegano. Claro que é tudo na brincadeira, mas acho destacável que um festival tenha a preocupação de colaborar as questões ambientais e dos direitos dos animais.

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Quais os gêneros musicais predominantes no OEF?

O OEF está mesmo voltado para o que há de mais extremo na música, mas inicialmente era menos diversificado e só havia bandas de Grindcore. Mas com o tempo ele começou a variar e ampliar o leque de atrações. Desde 1999, ano da primeira edição, muitas bandas já passaram pelo OEF e regressaram várias vezes, mas há sempre coisas novas surgindo. Nas últimas edições começou a haver cada vez mais bandas de Punk, Hardcore, Crust e Thrash Metal, e talvez o que predomine atualmente, mais até do que o Grindcore, seja o Death Metal. Em geral, creio que o festival tenta se transformar cada vez mais numa referência de toda a cena musical underground e não a apenas um ou outro nicho mais extremo, e isso é positivo, porque fortalece-a como um todo e mostra que não deve haver rivalidades.

Das bandas que você viu no OEF, quais pode destacar?

  • Ratos de Porão - Punk Thrash do Brasil. Banda que existe desde o começo dos anos 80.
  • Agathocles - A lendária banda belga, uma das mais importantes da história do Grind.
  • Napalm Death - Talvez a banda mais importante da história do Grind ao lado de Agathocles.
  • Municipal Waste - Thrash demolidor e viciante. 
  • Simbiose - Uma das melhores bandas do underground português e uma das minhas favoritas na cena Crust mundial.
  • Wolfbrigade - Crustcore fa Suécia, ex-Wolfpack. Uma das minhas favoritas do gênero.
  • Birdflesh - Não costumo ouvir muito, mas tenho grandes recordações do concerto no OEF.

E preciso destacar a atuação da banda brasileira Catarro, a última banda da edição 2013. Eu não sabia bem do que estava à espera, mas foi a melhor surpresa que tive dentro da cena musical. Provavelmente a apresentação mais caótica e enérgica que vi na vida e recordo-me do recinto ir ficando cheio aos poucos após as pessoas irem embora por não conhecerem a banda. E, para completar, fiquei amigo deles e eles me sequestraram para ser o fotógrafo da tour europeia que ali começava e passaria por mais oito países. Mas isso é tema para contar noutra experiência.

O festival é politizado? Reivindica alguma ideologia?

Não creio. É um festival que tem como foco a música. Claro que há algumas causas inerentes a ela. A questão do vegetarianismo e do veganismo, por exemplo, sempre esteve ligada ao Punk e suas subvertentes. Mas há pouco mais do que isso. Creio que a única reivindicação ideológica clara do festival seja o antifascismo. Não imagino um neonazista indo até lá. Está bem claro e visível que é um festival antifascista que preza pela pluralidade e diversidade. Pessoas preconceituosas não encontram ali um ambiente propício.

Há violência no OEF?

Não. Nunca vi nenhuma briga, nenhuma confusão, nada. A verdade é que o OEF é o festival mais pacífico e seguro que já frequentei. É o único onde não tenho medo de me entrarem na tenda para roubarem o que deixei nela. E a postura do público é sem dúvidas a melhor parte do festival. Eu costumo dizer que o OEF é uma espécie de licença para adultos voltarem a ser crianças, porque é isso mesmo que acontece. Esqueça as roupas pretas e olhas ameaçadores. Lá o que vale mesmo é a irreverência e o ridículo.

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Além das camisas de bandas, há muita gente com roupas coloridas, com fantasias de super heróis ou do que quer que seja. Há pessoas nuas, há vestuário sado-masoquista, há crianças, há de tudo, e todos convivem pacificamente. Uma das minhas maiores diversões no OEF é fotografar as personagens caricatas que encontro, com suas fantasias, máscaras e apetrechos caricatos. É uma enorme festa ao som da músca mais barulhenta na face da Terra.

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Quanto custa o bilhete do OEF?

Para os três dias, custa cerca de 60 euros. Não é muito barato tratando-se de um festival underground. Mas pela estrutura que apresenta e pela quantidade de bandas, vale a pena. São 69 bandas atuando incessantemente do fim da manhã ao começo da madrugada. Vale a pena! Ah! O número 69 não é obra do acaso, foi mesmo escolhido de propósito.

O OEF aceita euros ou apenas a moeda local?

Nenhum dos dois. Dentro do recinto tudo se compra com cupons. Quer dizer, bebida e comida. A parte do merchandising fica a cargo dos seus responsáveis, porque costuma vir gente e bandas dos quatro cantos do mundo e muitas delas trazem seu próprio merchandising. À porta do recinto há uma barraca onde as pessoas podem trocar dinheiro (tanto euro como coroa checa) pelos cupons. Não me recordo do preço exato, mas a cerveja (meio litro) custa em torno de 1,20€ e também há cerveja sem álcool e sucos. A comida é diversa, há muita coisa típica do país, mas em versão vegetariana, claro, e os preços são bons. Uma coisa que eu fiz e recomendo foi recolher os copos do chão e trocá-los por cupons, porque a organização introduziu esse sistema. Cada copo vale dois cupons. Lembro-me de que no fim da primeira noite do festival, que já era manhã, no caminho para a minha tenda recolhi vinte e cinco copos e no dia seguinte os troquei por 50 senhas. Foi uma festa: entupi-me de comida, experimentei mesmo de tudo e ainda ofereci senha aos amigos. Às custas dos copos tive bebida e comida de graça durante os dois últimos dias.

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Há limite mínimo de idade para entrar no OEF?

Não creio, porque vi várias crianças lá dentro, inclusivo fazendo stage diving durante concertos. Foi um dos momentos mais incríveis que vivenciei em todo o meu percurso dentro do mundo da música underground.

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É permitida a entrada de animais?

Não. Por uma questão de bem estar dos próprios animais.

Pessoas não ligadas aos gêneros musicais do OEF devem frequentá-lo?

Sem dúvidas! Recomendo vivamente e garanto que se divertirão imensamente e perderão alguns preconceitos. Ao contrário do que infelizmente acontece noutros festivais, no OEF ninguém tenta ostentar vaidades e egocentrismos. As pessoas não tentam mostrar que conhecem mais bandas ou estão há mais anos na cena. É tudo uma questão de diversão durante três dias e nada mais. 

Há alguma coisa que te desagrada no OEF?

Não me recordo de nada. Apenas o chamado Hell Show é algo que nem me desagrada nem me agrada. Gosto de tirar fotos, mas não é algo que me entusiasme, sei lá. Mas não sou contra.

O Hell Show é uma apresentação de suspensão. Sabem aqueles ganchos que enfiam na pele e depois suspendem a pessoa? E o fazem quase sempre parodiando algo, como a Igreja Católica. Já vi coisas meio bizarras nessas demonstrações, mas quem quiser saber mais vai ter que ir lá ver.

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Conte sobre alguma lembrança divertida. Algo específico.

Bem, numa das tendas havia um bar chamado Mustache, que se encarregava de dar continuidade à noite assim que a última banda acabava de tocar, lá pelas duas da manhã. O que acontecia era uma espécie de karaoke. As pessoas escolhiam uma música e tinham de cantá-la com a cabeça e mãos enfiadas numa guilhotina. Se uma pessoa errasse a letra, acontecia algo. Não sei se acontecia sempre o mesmo com todos, mas quando errei a letra de Smells Like Teen Spirit, o responsável pelo Mustache rapou-me o bigode. Com cabeça e mãos presas, não pude fazer nada para evitar, mas não reclamei, afinal era apenas o bigode. Depois, no caminho para a tenda, percebi que as pessoas gozavam comigo, mas eu pensava que era apenas embriaguez. Só ao acordar foi que lembrei-me do que se passara e decidi tirar uma foto ao meu rosto para ver como ele estava. Foi quando percebi que o rapaz me havia deixado um bigode a la Hitler. Tive de pedir uma lâmina a um amigo para removê-lo.

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Considerações finais.

Para mim, mais que as apresentações musicais, o qe me leva ao OEF é a possibilidade de conhecer gente diferente do mundo inteiro, trocar experiências e poder fazer fotografias. Estou sempre com a máquina fotográfica nas mãos e fotografo absolutamente tudo. É um ambiente propício para isso e algumas das melhores fotos que fiz desde que comecei a desenvolver-me como fotógrafo foram feitas no OEF.

Convido vivamente a quem estiver na República Checa em Julho a ter essa experiência única e talvez ser fotografado por mim. Aliás, deixo aqui o link das fotos que fiz durante a edição de 2013, para terem uma melhor noção do ambiente. Por favor, não se assustem! 


Galeria de fotos



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