Jornadas Milanesas #8.Abril

Publicado por flag-pt Ana Carolina Helena — há 7 anos

Blogue: Dolce Milano
Etiquetas: flag-it Blogue Erasmus Cesena, Cesena, Itália

O segundo dia de viagem começou já um pouco tarde devido à noite anterior. Acordámos já passava do meio-dia e fizemos um brunch, entre torradas e leite quente para o pequeno-almoço e a pizza que restou para o almoço. A ideia era dedicar o dia a explorar a pequena cidade de Cesena, por isso, podíamos começar o dia com calma.

O Sol raiava (na verdade, o tempo ajudou o fim-de-semana todo) e pude envergar apenas uma t-shirt. A ideia era começar com a visita à famosa e talvez o mais conhecido edifício da cidade, a Biblioteca Malatestiana. Na bilheteira disseram-nos que as visitas guiadas das próximas duas horas estavam cheias, por isso, comprámos bilhetes para depois e decidimos aproveitar o temo até lá para ir ver o centro da cidade – isto é, a praça central – a Piazza del Popolo, o jardim público e a fortaleza – a Rocca Malatestiana.

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Imagem da Rocca, durante a subida no meio do manto natural - Abril de 2017

Tudo é perto em Cesena, é como viver num cenário de um sonho italiano. Tudo se encontra a poucos minutos dos restantes lugares importantes e os habitantes circulam calmamente de bicicleta ou a pé.

A Piazza del Popolo, que já tinha tido a possibilidade de ver durante a noite toda iluminada, faz-me lembrar a praça central de Lucca - cidade de que também gostei imenso. No centro, existe uma fonte muito trabalhada e esculpida, e a limitá-la, o limite da fortaleza. Para observar a cidade de cima e entrar no parque público, é preciso subir uma escadaria lateral, feita de pedrinhas aparelhadas em espinha de peixe (em Cesena passava e passa a famosa Via Emilia – que dá nome à região).

No topo existe uma área agradável, onde é possível tomar café, cercada pela muralha. Sentámo-nos um pouco numa das mesas a disfrutar do Sol e da vista sobre Cesena. A muralha é bastante antiga e tinha funções defensivas. Diz-se que Leonardo da Vinci, de passagem pela cidade ara fazer um controlo da mesma, se apaixonou pelo seu desenho e se perdeu durante uns dias a registá-la. Seguiu-se um croqui sobre a sua estrutura e algumas melhorias fruto desse mesmo desenho.

Quase a bater as 16h30, hora a que tínhamos a visita, descemos e dirigimo-nos à entrada. À nossa espera já estava um grande grupo e a nossa guia, prontos para iniciar o percurso. A Biblioteca Malatestina é uma biblioteca do Renascimento, patrocinada pela família Malatesta – governadores da cidade durante este período – e que é considerada a primeira biblioteca pública – apesar de se encontrar dentro do mosteiro estava aberta a todos aqueles que buscassem o conhecimento.

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Vista do interior da Biblioteca - Abril de 2017

Antes da entrada neste espaço, existe uma sala-corredor que explica sucintamente a história da cidade e a sua interpelação com a família Malatesta. Julgo que um dos principais motivos pelo qual as cidades mais pequenas em Itália se mantém tão povoadas é o facto de existir esse orgulho e a ligação às raízes. 

No fim do corredor, ergue-se finalmente uma porta, lata e pesada. A nossa guia envergava na mão uma chave igualmente desmesurada. Contudo desde a abertura da biblioteca, os monges e os guardas públicos sempre foram muito cautelosos com a segurana - não nos podemos esquecer que naquela altura um livro custava uma pequena fortuna. A porta que se pode ver ainda é a original mas a fechadura teve de ser modificada. 

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Um dos mapas espostos - Abril de 2017

Por cima da porta, vê-se um elefante gravado - símbolo da família Malatesta - um animal possante e exótico, que cisava demostrar o seu poder e a sua egemonia. A porte de madeira, tem gravados símbolos também da cidade e que evocam o conhecimento. Quando finalmente pude ver o interior - que não é nem climatizado nem iluminado artificialmente - percebi que estava perante uma pérola. O mobiliário ainda é todo original - daí pedirem para não nos encostarmos - e os livros ainda se encontram nos seus sítios,por baixo das escrivaninhas, divididos por temas e seguros por correntes de ferro de modo a evitar roubos. A luz no interior é muito ténue - o que ajuda a preservar os livros - e os vidros das janelas apesar de manterem a sua armadura original tiveram de ser substituídos por vidros de Murano. Actualmente só é possível abeirarmo-nos e não entrar. Segundo o que a guia nos disse, consultas só estudiosos com uma autorização específica mas que todos os livros estavam a ser digitalizados de modo a que não se perdesse a colecção.

É uma colecção impressionante para a época - com mais de 100 volumes, todos copiados à mão. A maior parte dos livros está em latim - língua de Malatesta - mas também há alguma coisa em grego e árabe.

Na sala mesmo em frente, podem-se encontrar outros livros de elevado valor - alguns com quase 30kg e de dimensões descomunuais, outros tão pequenos quase como um dedal. Existe também uma bonita colecção de mapas - e inclusivamente em que estava Portugal. Um espólio muito rico, que sem dúvida é caríssimo de conservar.

Com o fim da visita e esfomeados, decidimos aceitar a sugestão do nosso colega e fomos comer uma versão da famosa piadina - fechada - chamada crescione (julgo?). Custaram 3€ e são uma verdadeira perdição. Vêm quentes e junto ao quiosque que as vende na praça junto da Biblioteca existem umas mesinhas onde nos sentar a comer. A minha era recheada de legumes - especialmente beringela. Não podia ter pedido melhor!  

Para terminar o dia fui surpreendida pelo meu colega, que propôs irmos ver o pôr-do-sol ao topo de Cesena junto da Abbazia S.Maria del Monte. O tempo estava agradável - para abril andar só com uma casaco de ganga por cima de uma tshirt é o paraíso - e por volta das 18h30 metemo-nos ao caminho. O que parecia muito longe tornou-se uma bela e admirável caminhada. Ao longo do caminho havia muito arvoredo,o que criava um ambiente feérico e fontes onde era ossível reabastecer a garrafa de água.

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Vista do top de Santa Maria del Monte ao pôr-do-sol - Abril de 2017

Quando chegámos, a Abadia já estava fechada mas sentámonos de frente aos bancos a observar a vista magnífica. O manto natural rural, entende-se por quilómetros e quilómetros. Tive uma sensação de tranquilidade inexplicável. Senti-me a retornar à minha infância na casa dos meus avós para o lado da Serra da Estrela. Ainda estivemos algum tempo a conversar entre todos e a tirar fotos à paisagem. À vinda para baixo fomos brindados com uma vista igualmente fascinante mas desta vez do centro da cidade. 

Como queríamos retribuir o dia magnífico, oferecemo-nos para fazer risotto - receita que já tínhamos experimentado cá em casa duas vezes e estavamos convencidas que fosse resultar. Passámos pelo supermercado e comprámos tudo o que necessitámos. Depois, eu e a M.cozinhámos enquanto os outros se sentavam em torno da mesa a artilhar ideias sobre o dia e sobre a nossa experiência Erasmus até então. 

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Um coreto de volta ao centro da cidade - Abril de 2017

Acabámos a conversar até às tantas, entre um copo de vinho e outro. Caí na cama para além de cansada mas com um sorriso na cara!


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