Bons ares de amor

Me lembro da primeira vez que estive em Buenos Aires e de uma imagem em especial - uma noite de garoa fina, eu caminhando pela Avenida Corrientes, ouvindo música clássica no meu walkman, admiti que gostaria de viver minha velhice naquela cidade. Lá se vão vinte e cinco anos e aquela vontade romântica continua viva e requisitando seu cumprimento.

Definir a sensação de estar em Buenos Aires tem muito de melancolia. Não tristeza propriamente dita; uma certa angústia de querer ter uma relação real com tudo aquilo, mas reconhecer-se um aventureiro. Assim se passa com outras pessoas com relação a muitos lugares. Eu sei; mas eu falo do que eu vi e experimentei. Agora mesmo, a tal melancolia veio ter lugar em mim. Acho que é amor. 

Passei um bom tempo pesquisando empresas que alugam apartamentos mobiliados de forma temporária. Decidi por um ensolarado e com decoração despojada no bairro de Montserrat. Ainda que tivesse buscado informações mas detalhadas, viajei sem saber muito bem o que ia encontrar no entorno de minha nova casa. Apenas que era uma vizinhança tranquila e como estava levando meu cachorro, achei que a escolha era mais que adequada. Somando os prós e os contras, diria que a experiência foi altamente positiva.

Minha chegada

Por segurança contratei o serviço de transfer partindo do Aeroporto de Ezeiza, cobrado a parte pela imobiliária. Coincidência ou não, no momento que o motorista estacionava o carro em frente ao edifício, acontecia uma manifestação pequena e pacífica com bandeiras vermelhas. Quase ao lado funcionava um sindicato de alguma categoria que não me recordo mais. "Gente politizada"; pensei comigo. Embora a construção fosse simples, da entrada até a porta do apartamento (o elevador pantocromático conferia um charme a mais ao ambiente), o contexto me era novidade em tudo. O imóvel em si, simpático e espaçoso. Da janela da sala, a impressão era de que se podia tocar a cúpula do Congresso e a bandeira azul e branca. 

O Dia Seguinte

Logo cedo, lá estávamos eu e Bubu (nome do auau) feliz da vida no meio dos portenhos. Depois de um passeio pelos jardins da Plaza del Congreso, caminhei ao leo querendo me surpreender com cenas do cotidiano. Na verdade, Montserrat e o seu casco histórico ficavam a alguns metros de onde havia me instalado. Naqueles quarteirões encontrei um comércio diversificado e cafés tradicionais (Los Angelitos é um deles). Além do Teatro Avenida aonde assisti ao musical O Beijo da Mulher Aranha com a divina Valeria Lynch. Por falar em divina, mais que um adjetivo trata-se também de um título muito usado por eles para descrever a mulher impactante, fatal, mediática. E não são poucas.

Aportunhando-me

Carregando o cachorro na bolsa, comendo Havana (alfajor) e de olho no guia da cidade, fui parar em San Telmo. As construções, maioria de prédios de dois andares (PH = planta alta e PB = planta baixa) com ares de vila, já que os apartamentos (na verdade, casas) estão dispostos bem próximas uns dos outros e nem sempre em linha reta. Há quem viva mais reservadamente que os demais, em um cantinho separado. É certo encontrar " muchos niños, perros y gatos". A foto é da Plaza Dorrego aonde acontece um feira misturando artesanato e antiguidades, no final de semana. 

Pode-se comer a comida local em restaurantes simples e em doses fartas, como saborear comida armênia, indiana e outras por preços bastante razoáveis se comparados a outras zonas da cidade. Vou me eximir de indicar um em especial, uma vez que o apreciar de um prato é por demais subjetivo. A aventura de adentrar um restaurante e arricar-se com o menu, tem o seu sabor. Mas há a opção sempre segura dos Mcdonald's e Burger Kings.

Os argentinos são passionais em tudo. Têm fixação por tratamento capilar (tanto homens quanto mulherem são vaidosos om "el pelo"), adoram cerveja Quilmes, se empaturram com empanada de jamón y queso e tarta de espinaca e se espalham pelos espaços verdes (gramados ao longo da Avenida Libertadores, imediações da Plaza Francia, bairro Recoleta é um desses) .