DiárioErasmus #29.Jan
Uma volta pelos Parques da Cidade
No Domingo, o Andrei, muito gentilmente, acompanhou-me nas minhas visitas. Como também ainda não tinha ido a alguns dos locais que eu também queria visitar. Levantámo-nos cedo, por voltas das 8h30-9h00, para que o dia rendesse.
Como a casa do meu host ficava bem perto, começámos por um passeio no parque - o Parque Tineretului - um dos maiores da cidade. A neve dá um ar puro e limpo a tudo, é mágica! Entrámos numa igreja ortodoxa durante a celebração e comprei umas velinhas para recordação que me custaram cada uma cerca de 10 cêntimos. Os interiores destas igrejas são fabulosos e os cânticos lindíssimos e afinados. As celebrações duram várias horas, senão toda a manhã e, por isso, ficámos apena um pedacinho.
Cemitério no meio do Parque - Janeiro de 2017
De seguida, continuámos o percurso e fomos ver o Monumento dedicado ao Soldado Desconhecido. É uma estrutura gigantesca, de um vermelho sujo; monumental! De um dos lados encontra-se uma tocha, constantemente acesa e guardada pelos militares. Entre este monumento e o Parlamento, ergue-se uma grande avenida, de perder a vista, mandada construir pelo ditador comunista, fruto de um plano que obrigou à demolição de grande parte do tecido histórico da cidade.
No parque, os cafés continuavam abertos apesar do tempo e as crianças brincavam divertidas nos seus trenós de plástico. Havia que passeásse os cães e quem corresse com um cachecol envolto em torno do pescoço.
A Avenida era mesmo tão grande como parecia lá do alto, pois ainda demorámos uns bons minutos a atravessá-la. A vista, contudo, vale totalmente a pena, e recomendo a todos aqueles que passem por Bucareste, especialmente nesta altura do ano.
Depois, demos um pequeno saltinho a uma escadaria pintada, onde supostamente se poderiam ver pinturas alusivas a mensagens políticas e artísticas - a escadaria Xenofen. Como ainda havia muita neve, não foi possível ver muita coisa, e a escadaria estava inclusivamente um pouco danificada mas valeu o passeio. Fez-me lembrar a subida que o Lavra faz em Lisboa, onde as casinhas coloridas se amontoam sobre a escadaria inclinada e desafiadora.
A escadaria nevada - Janeiro de 2017
No alto, pudemos avistar a cidade, que por ser plana, só por se estar uns metros a cima, fica a nossos pés! Apesar de não tão solarengo como no primeiro dia, tivemos direito a uma visão muito bonita da calmaria domingueira. O Parlamento estava cada vez mais perto e parecia cada vez mais imponente e austero. O edifício é cinzentão mas parece guardar um mundo de memórias e histórias no seu interior.
Patinagens e Covrigii para o Almoço
A entrada para o Parlamento faz-se apenas por um dos lados, por isso, tivemos de andar à roda do gigantesco volume, não sem antes pararmos novamente no Covrigii para um almoço em giro. Voltei a pedir o mesmo que no dia anterior - o tal com recehio de maçã e o de canela - e como sugestão do Andrei, provei também um em versão salgada, com cebola roxa, bacon e queijo aquecido. Adorei: suave, barato e o suficiente para me encher de energia para mais uma tarde de exploração na cidade. A massa tanto na versão doce como salgada é sempre adociacada, algo que apreciei particularmente.
Covrigii de Maçã - Janeiro de 2017
Seguimos, então, para o Parlamento, e entrámos no edifício. O interior, na zona de recepção, apesar de imponente, não era dado a grandes decorações e cheirava até um pouco a humidade. Na zona de entrada estava uma pequena exposição dedicada ao poeta Mihai Emisnescu, um dos mais conhecidos da República da Roménia. A exposição recolhia muitos objectos pessoais e alguns dos livros mais importantes do seu percurso profissional. Fiquei extremamente curiosa e tenho de ver se existe alguma tradução para o português. O Andrei disse que Eminescu amou uma única mulher na sua vida, que por seu lado o desprezava e nunca o correspondeu. Fez-me de certa forma lembrar o solitário Pessoa e as suas questões pessoais.
Rodeada de neve - Janeiro de 2017
Para além desta exposição, havia também uma exposição de pintura com alguns quadros, todos pintados por artistas nacionais. Muitos eram de naturezas-mortas. Optei por não entrar, até porque no dia anterior o guia do Free Walking Tour me tinha dito que o espaço está maioritariamente vazio e que a área visitável é pequena e curta, condicionada pelo percurso feito pelos guias turísticos. No entanto, o preço não é de todo impeditivo, tal como as restantes entradas em todas as atracções turísticas e culturais da cidade. É uma visita que deve valer a pena, especialmente se feita com um guia conhecedor a fundo da história do comunismo na Roménia, mas que no meu caso ficará para uma próxima visita à capital romena.
Logo de seguida, continuámos a nossa volta e fomos ver o nevado Parcul Cismigiu, um dos parques mais conhecidos na capital e também o preferido do meu anfitrião. Diz que no Verão, há um bonito lago onde as pessoa vão frequentemente dar passeios de barquinho, o que posso comprovar pela presença deles na extremidade do mesmo que por estas alturas está gelado e dá lugar a uma pista de patinagem. Àquela hora, à hora de almoço, estava muita gente a patinar, de modo que a pista estava composta mas não ao ponto de os patinadores não terem espaço para se mover. Numa barraquinha a uns passos dali, alugavam patins mas muitos eram aqueles que traziam o seu prórpio par. Não cheguei a patinar mas pelo que percebi os preços também não eram muito elevados: entre os 10 e os 15 Lei por pessoa, dependendo do tempo, da idade e também se as pessoas trazem patins ou querem alugar um par.
O parque estava envolto de uma atmosfera mágica. Alguns blocos de apartamento estão virados para o coração do parque, o que me fez invejar um pouco a magnífica vista que quem neles habita deve ter ao longo de todo o ano. Na pista, havia animação. Tanto miúdos como graúdos patinavam alegremente na pista, todos desmonstrando um nível razoável, que a mim me leva a crer ser cultural - um país que está muito habituado a ter Invernos gelados e que por isso está muito mais sensibilizado para desportos de neve.
O Andrei sugeriu que para nos aquecermos um pedacinho comprassemos um copo de vinho quente com especiarias, que segundo ele também é muito tradicional ver os locais a pedir nesta altura do ano. Custou-me 4 Lei, uma verdadeira pechincha e cumpriu com o prometido: aqueceu-me e reconfortou-me, dando-me energias para o resto do caminho. O vinho parece forte mas as especiarias que lhe colocam - que não fiquei a perceber ao certo quais são - atenua o álcool e tornam-no numa bebida bastante agradável.
Arte Romena e o maravilhoso Ateneu
Logo após uma bela meia horinha de relaxamento vendo as pessoas patinar, rumámos mais a norte, sempre a pé, até aos dois sítios que queríamos visitar durante a tarde: o Museu Nacional de Arte Romena e o Ateneu. Localizam-se ambos a poucos passos um do outro e para lá chegar basta seguir o grande eixo viário que liga as três grandes praças da cidade. As caminhadas fazem-se bem e tudo é bem mais perto e concentrado do que aquilo que aparenta à partida no Google Maps ou em qualquer guia turístico sobre Bucareste na Internet.
Interiores do Ateneu - Janeiro de 2017
Começámos pelo Ateneu - ou Atenul, em romeno - pois era aquele que dos dois fechava primeiro. O Ateneu é um edifício do século XIX - dos fins, mais concretamente de 1888 - construído para ser um dos pontos culturais mais importantes da cidade, lugar que ainda hoje ocupa por acolher os principais espectáculos musicais e óperas que vêm até à cidade. Existem algumas inspirações na ópera Garnier em Paris - veja-se a escadaria de acesso à plateia - e pode dizer-se que o interior é luxuriante bem ao estilo francês, algo que não se faz prever do exterior. O espaço não é muito visitado pelo que percebi, ou era por ser Domingo, mas para quem aprecia ópera, música e/ou arquitectura é sem dúvida um espaço a não perder, O prórpio Andrei não conhecia este espaço e saiu de lá a dizer que com erteza regressaria em breve para ver algum espectáculo que lhe despertásese interesse.
Pagámos, cada um 10 Lei de entrada, sem qualquer guia ou brochura. Este valor permitia-nos não entrar no grande átrio como também na famosa sala de espectáculos. Começámos por explorar o primeiro, que a mim me encheu por completo as medidas. Uma escadaria deslumbrante, feita de um mármore colorido suave que brilhava com a luz ténue que entrada pela clarabóia de ferro e de vidro, levava ao varadim superior. Ao centro um grande círculo, coroado por um tecto trabalhado onde ressaltavam os caixotões, colocados de forma a fazer um padrão geométrico de elevado interesse estético. A sensação de subir aquelas escadas fez-me sentir uma pequena princesa das neves e fez-me imaginar o que seria, no final do século XIX, assistir a uma ópera ou espectáculo musical naquele magestoso local.
Contudo, nada me preparou para a sala em si. A planta circular é levemente inclinada de modo a proporcionar um bom ângulo de visão sobre o palco, independementemente do local em que nos encontremos na sala, o que é extremamente democrático. Ninguém fica a uma distância extremamente exagerada do sítio em que se desenrola a acção, mas o espaço respira na mesma não se tornando acatitado. Gostei particularmente do jogo de candeeiros que se desenvolve sobre a boca de cena e como se insere tão bem com a restante estética da sala. No entanto, o ponto que me tirou a respiração foi o tecto. Apenas duas das lunetas são verdadeiras, todas as restantes falsas. Ao seu redor estão escritas algumas das áreas artísticas de maior relevo como a Arquitectura, a Pintura e a Literatura e outras áreas do "saber" como a Física e a Matemática. Num círcilo mais interior aparecem nomes romenos importantes que marcaram essas mesmas áreas e que merecem destaque num espaço público como este. Fiquei uns bons minutos a observar a complexidade deste tecto, enquanto o Andrei se divertia a estudar e a experimentar a acústica da sala, que produzia um leve eco e fazia retinir os rons por um breve meio segundo a mais, dando austeridade a qualquer sonzinho.
Sentámo-nos na primeira fila,a falar um pouco e aproveitar o espaço. O Andrei contava maravilhado a seu nova descoberta, na certeza de que ali regressaria em breve. Foi um belo momento de relaxmento no percurso, que me permitiu uma pausa antes de me lançar às inúmeras salas do museu mesmo ali ao lado.
Seguimos para o Museu. O Museu Nacional de Arte Romena localiza-se num edifício neoclássico monumental, austero e sem grande ormanetação mesmo em frente da estátua em homenagem ao rei Carol I. Dentro do Museu, existem duas grandes áreas: a Galeria de Arte Europeia e a Galeria Nacional de Arte Romena. Como já só tinhamos duas horas até ao fecho, optei por ir ver a Galeria de Arte Romena, pois nunca tinha visto nada do género e pareceu-me uma muito melhor escolha.
A entrada na Galeria custou 10 Lei, o que é uma verdadeira pechincha para quem tem acesso a três pisos de preciosidades, que contam de forma genérica a história da Roménia. Nas salas estão expostos desda a Idade Média até à Idade Contemporânea, peças unica e exclusivamente feitas por romenos ou dentro do território da Roménia.
O primeiro piso é dedicado apenas à Arte Medieval, sendo qualse a totalidade das peças de cariz religioso, o que enfatiza a subjugação deste territórios ao poder da Igreja Ortodoxa, um pouco como aquilo que acontecia na Europa Ocidental com a Igreja Católica. Cada sala representava uma região da Roménia: Valáquia, Moldávia, entre outras. Foi engraçado perceber que não existia grande iniciativa privada, mas sim núcleos muito restritos de cultura, que se localizavam nos mosteiros masculinos.
A Roménia esteve fechada ao mundo boémio das Artes do centro europeu até mais tarde. Nas salas do século XV e XVI ainda se podiam ver maioritariamente representações religiosas e de reis e rainhas a têmpera - pintura que usa casca e gema de ovo para criar as tintas -, técnica que já tinha sido abandonada na Europa há uns anos com a chegada do óleo no fim do século XV à Holanda.
No século XVII, finalmente, começa a ver-se alguma diferença e de repente aparecem retratos, naturezas mortas e daí em diante a Roménia parece seguir uma linha comum com os restantes países europeus. Gostei bastante desta visita, apesar de praticamente não conhecer nenhum dos artistas. Demorei cerca de duas horas no interior, o que foi o suficiente para me demorar e tirar algumas conclusões sobre aquilo que ia vendo. Ajudou-me a saber um pouco mais sobre a cultura do país e a sua história, de modo a dar nós nas pontas soltas que tinham ficado das explicações do Free Walking Tour.
Saímos mesmo à hora de fecho. Antes de terminar o dia, ainda tinha dois objectivos: primeiro, ir ao Caru' cu Bere, o pub mas conhecido da cidade, beber uma cerveja e segundo, comprar um miminho para mim - chá - e outro para o meu irmão - um livro já que ele anda a aprender romeno.
Interior do pub Caru' cu Bere - Janeiro de 2017
Comecei pelo segundo. Dirigi-me a uma livraria, bastante bonita. Grande parte das livrarias de Bucareste combinam café e livros, o que é um detalhe muito agradável e que torna a experiência de ver os novos volumes disponíveis, muito mais agradável. Procurar um livro para o meu irmão não foi propriamente fácil, já que poucas eram as palavras que conseguia perceber das capas e contracapas. Tive de pedir ajuda ao Andrei e à simpática rapariga da loja, que ainda perdeu uns bons minutos a ajudar-me a procurar um livro que correspondesse aos meus critérios: um livro originalmente escrito em romeno, de preferência um clássico, e relacionado com literatura ou filosofia, que são os temas que mais interessam ao meu irmão. Acabei por comprar um livro escrito por um dos filósofos contemporâneos mais conhecidos no paradiga romeno chamado Gabriel Liiceanu sobre Heidegger, que acho que fará o meu irmão muito feliz. Quem quiser comprar um livro em inglês pois não percebe nada de romeno também tem imensa escolha: muitos romenos preferem, de facto, comprar e ler livros em inglês, havendo nas bancas imensa escolha.
Depois passei novamente na livraria histórica em que tinha estado no dia anterior e comprei um chá de Canela e Amêndoas torradas que me vai saber pela vida e que cheirava maravilhosamente. Já eram cerca de 19h, quando finalmente rumámos à cervejaria Caru' cu Bere, que quer dizer qualquer voisa como "O Vagão da Cerveja". O establecimento abriu no fim do século XIX, literalmente como uma carroça de onde o proprietário vendia a sua cerveja importada. Como esta não era particularmente apreciada em Bucareste, o dono do negócio começou por dar descontos aos estudantes da cidade, que ficaram particularmente satisfeitos com bebida a preços baixose tornaram o seu negócio num grande sucesso. Actualmente, o establecimento mantém a traça original, ligeiramente Art Déco, e desenvolve-se em dois pisos. É um sítio que virou turístico mas onde ainda se pode apreciar o espírito dos cafés de Bucareste e os locais em animados jantares.
Como não queríamos gastar muito dinheiro, pedimos apenas uma cerveja da casa de 300ml que nos custou a cada cerca de 8,70 Lei e partilhámos uma bela conversa. Tudoo resto era bastante caro e decidimos logo que iríamos jantar a outro local, até porque o Andrei tinha uma boa sugestão. O espaço é muito belo e aproveitei para tirar umas quantas fotos, que no fim não ficaram nada de especial devido à qualidade banal da minha máquina e á luz ténue que alumia o interior.
Pagámos e íamos a descer uma das escadas laterais, quando me deparei com dois pares, vestidos com o traje tradicional da Roménia, que começaram a dançar assim que a música começou a soar. Foi uma pequena cereja em cima do bolo e um momento de descontração antes do jantar.
Comida moldava para o jantar
Como o meu anfitrião é moldavo, decidiu levar-me a provar comida do seu país a um pequeno restaurante numa das vias principais. O espaço estava decorado de maneira moderna mas a comida era bastante tradicional. Muitas eram as opções vegetarianas e isso agradou-me. Acabei por partilhar uma tortilha e um prato de raviolis de batata - a batata e a cebola, pelo que percebi, são muito populares na gastronomia deste países. Fiquei bastante cheia e mesmo depois deste último jantar não consegui gastar os 50€ que tinha trocado no início do fim-de-semana para Lei.
De regresso a casa, estava muito frio e como era Domingo à noite, optámos por ir para casa de metro. O metro é bastante mais moderno do que o que eu pensava e pareceu-me bastante eficaz e pontual, como a restante rede de transportes. Antes de ir dormir - mais cedinho, já que teria apenas algumas horas até ao meu voo - ainda bebemos uma caneca de chá e eu provei um licor translúcido muito tradicional na roménia - tuica - que o Andrei tinha em casa.
No geral, a minha experiência foi muito positiva e, sem dúvida, que regressaria a Bucareste. Foi uma lufada de ar fresco, que me abriu o apetite para outras cidades no Leste Europeu. A minha primeira experiência de Couchsurfing enqunto surfer também correu muito bem, o que é uma lição para o futuro: caso façamos investigação e uma boa pesquisa, a probabilidade é sermos recebidos por excelentes pessoas, como foi o meu caso.
As despedidas
Acordei às 3h40 da manhã para iniciar o meu percurso até ao Aeroporto, já que o meu voo era bastante cedo - 7h00 - e estava cheia de medo de o perder. O meu host fez-me sentir tranquila e garantiu-me que os transportes nocturnos funcionavam bastante bem na cidade. O Andrei ofereceu-se inclusivamente para me levar àquela hora até à Piata Unrii, a alguns minutos da sua casa, de modo a que eu apanhásse o autocarro correcto até ao Aeroporto. Assim sendo, não houve margem para erro e correu tudo bem, chegando eu a Milão poucas horas depois, inteira, feliz, mas muito cansada! Um excelente fim-de-semana.
Galeria de fotos
Queres ter o teu próprio blogue Erasmus?
Se estás a viver uma experiência no estrangeiro, és um viajante ávido ou queres dar a conhecer a cidade onde vives... cria o teu próprio blogue e partilha as tuas aventuras!
Quero criar o meu próprio blogue Erasmus! →
Comentários (0 comentários)