DiárioErasmus #28.Jan
As aulas terminaram esta sexta-feira, dia 27. É om orgulho que digo que consegui fechar todos os trabalhos e entregá-los a tempo. Agora seria de esperar que as merecidas férias chegassem mas não vai ser o caso: os exames estão mesmo aí à porta, começam dentro de poucos dias e ainda tenho muito que estudar e que fazer.
Apesar de o tempo ser precisoso neste momento complicado do semestre, sabia que uns dias de pausa e de viagem não só me iriam saber pela vida como também me ajudariam a espairecer da roda-viva que tem sido o último mês e a preparar-me mentalmente para os exames.
Uma das minhas resoluções de Ano Novo - talvez quiçá a maior - é que este ano desafiar-me-ia a viajar sozinha. Conheço-me bem: sei que dependo muito de programações, que gosto de saber e sentir que o meu tempo é aproveitado ao máximo sempre que viajo, mas a verdade é que por vezes ando numa lufa-lufa que em vez de me relaxar ou de me tranquilizar, resulta efectivamente no contrário. Prometi-me que faria a experiência não só de viajar sozinha como também de levar um plano flexível, isto é, fazer alguma pesquisa para não andar feita barata tonta mas deixar que a cidade me surpreendesse e me fizesse entrar em sítios em que com certeza não entraria se levásse um plano rígido e inflexível.
Quando logo nos primeiros dias do ano vi viagens por menos de 5€ para Bucareste, disse a mim própria que não podia virar as costas a esta oportunidade e, num acto que para mim é de loucura, marquei duas passagens num piscar de olhos. Só depois caí em mim e pensei que teria de arranjar alojamento e pensar em transportes nocturnos já que os meus voos eram ambos muito cedo. Tudo isto sozinha: sempre que pensava, davam-me arrepios.
Andei a adiar algum planeamento até à última hora, não só por falta de um buraquinho de tempo em que pudesse sentar-me ao computador a fazer isso tranquilamente mas também porque me parecia um tanto ou quanto surreal a experiência que ia fazer.
Posso dizer que arrisquei muito: primeira viagem sozinha, voos muito cedo, uma cidade culturalmente muito diferente de tudo aquilo que tinha visto até então, transportes públicos durante a noite e alojamento em Couchsurfing. Uma experiência e pêras.
Vamos agora ao relato do meu primeiro dia de viagem!
Acordar de madrugada
Na noite anterior à partida, dormi no sofá da sala: não queria fazer barulho quando tivesse que me levantar e acordar a minha colega de quarto. O alarme estava marcado para as 3h40 da manhã pois o Aeroporto de Orio Al Serio, em Bérgamo, ainda dista uns bons quilómetros do centro de Milão e do bairro onde habito.
Preparei tudo na sala, pensei inclusivamente na disposição das malas, para que mal o despertador tocásse, fosse só levantar-me, pegar na tralha e arrancar rumo à paragem de autocarros. Dormi, inclusivamente, vestida, com a roupa que iria levar no dia seguinte de modo a poupar alguns minutos. Queria chegar à paragem com alguns minutos de antecedência de modo a não ficar logo stressada ou pior, perder o autocarro.
Levei um pouco a adormecer. Confesso que o misto de entusiamo e medo me obrigaram a dar algumas voltas no sofá. Para além do mais, sou bastante sensível ao barulho para dormir e o frigorífico estava particularmente rumuroso há hora em que me fui deitar. Mesmo assim, ainda consegui dormir umas horinhas.
Mal o despertador tocou, ativei o meu sentido de missão e despachei-me num ápice - menos de 10 minutos, o que já por si é um grande record. Cheguei à paragem e ainda faltavam alguns minutos para o autocarro nocturno até à estação Centrale. A cidade estava calmíssima àquela hora e as poucas pessoas que avistei pareceram-me ser trabalhadores que teriam de entrar muito, muito cedo ao trabalho ou que tal como eu iriam para o aeroporto e tinham voos madrugadores.
O autocarro chegou pontual. No interior, para além de mim, só existia uma outra senhora. Tudo o mais eram homens. Lembrei-me de todas as indicações que me deram durante os meus 21 anos enquento rapariga mas depois repeti para mim mesma que tinha o direito de me sentir tão segura como qualquer outra pessoa.
Demorei cerca de 15 minutos até à Estação Central onde apanharia outro autocarro, desta vez directo, até ao Aeroporto. Estava descansada quanto a esta parte porque já tinha feito o mesmo procedimento no Natal quando regressei a Portugal por uns dias para passar o Natal com a minha família.
Comprei o bilhete que custa 5€, entrei no autocarro e esperei que partisse. Dormi praticamente a viagem toda até ao aeroporto, que durou cerca de uma hora. Ainda bem que me lembrei de levar a minha venda de olhos, de modo que a luz não me incomodou. O autocarro não ia muito cheio, de modo que não me preocupei muito e descansei mais um pouquinho de modo a ter energia para o dia.
Rumo a Bucharest
Cheguei ao aeroporto com cerca de uma hora de antecedência, o que foi ideal. Pus-me logo na fila para a segurança para despachar esse processo o mais rápido possível. Demorei cerca de 20 minutos, não mais, porque não tive nenhuma chatice: vantagens de viajar apenas só com uma mochilinha.
A caminho da porta de embarque, avistei logo um balcão de câmbio e pensei que seria boa ideia trocar já o meu dinheiro para que mal chegasse a Bucareste pudesse entrar imendiatamente no autocarro directo ao centro da cidade, comprar os bilhetes e não me ter de preocupar com mais nada.
O que eu não sabia é que as taxas de câmbio variam muito de sítio para sítio. Aparentemente, pelo que me disseram depois, masi valia ter trocado dinheiro em Bucareste pois os meus euros seriam muito mais valorizados por ali. No entanto, acabei por não achar muito dramático, já que a moeda romena - o Lei - convertido para o Euro dá uma valente quantia. Troquei dinheiro uma única vez - cerca de 50€ - que foram suficientes para todo o fim-de-semana e ainda sobraram, depois de várias refeições fora, compra de lembranças, entradas em museus e cervejas no pub mais conhecido da cidade.
No entanto, se puderem troquem dinheiro em Bucareste. Investiguem: é capaz de haver um sítio no Aeroporto. Valerá a pena pelo que me disseram os locais.
A moeda romena - o Lei - vale cerca de 0,22 Euros (Valores de Janeiro de 2017), o que quer dizer que 40, 50€ em Lei vão render bastante. Mantive um nível de gastos relativamente controlado e constante ao longo de ambos os dias, mas não tive de me controlar tanto como quando viajo em Itália, pois tudo fica muito mais barato.
Um Free Walking Tour
Mal cheguei ao Aeroporto de Henri Coanda, passei a segurança tranquilamente, tive apenas de voltar a mostrar o meu Cartão de Cidadão Português. Segui as setas e encontrei facilmente a paragem de autocarro que me levaria até ao centro da cidade. O autocarro a apanhar é o 783 da RATB (o sistema de transporte público de Bucareste), que liga o Aeroporto aos principais pontos do centro da cidade como a Plata Romana, a Plata Universitae e termina na Plata Unrii.
Chegada a Bucareste - Janeiro de 2017
À saída existe um balcão onde se pode comprar um Active Card, cartão onde se carrega algum dinheiro para as viagens de autocarro e que custa 3,5 Lei, o que é pouco menos de 1€. Depois carreguei com 7 Lei, isto é, com duas viagens, uma de ida e outra já para o regresso ao Aeroporto. No total paguei 11,5 Lei, o que equivale a cerca de 2,5€ - uma pechincha.
A volta durou cerca de 40 minutos. O meu plano era parar na penúltima paragem, perto das Universidades, pois segundo o que tinha visto na Internet, deveria haver por ali um Posto de Turismo. A viagem foi bastante calma - do Aeroporto para o Centro da cidade passa-se por vários pontos bonitos como o Museu de História Natural ou o Museu Municipal de Bucareste. Para além do mais, fui brindada com um sol radiante mas ainda com muita neve, fruto de um grande nevão há cerca de 10 dias. A temperatura estava baixa, mas eu tinha tudo controlado: nos saldos comprei um gorro, um cachecol e um par de luvas, já a pensar no frio que iria apanhar.
Não sei o que é que aconteceu mas enganei-me e saí numa paragem à frente daquela que era suposto mas foi fácil regressar ao sítio onde deveria procurar o Posto de Turismo. Tinha impresso um mapa no dia anterior mas não tinha grande qualidade, por isso, não conseguia encontrar as ruas mais pequeninas. Ainda andei um pedacinho perdida, em busca da rua que me podia levar até ao sítio que tinha marcado mas, poucos minutos depois, perdi a vergonha e abordei um casal, muito simpático, que me deu indicações em inglês. Segui as notas que eles me deram. Pelo caminho encontrei um Memorial e aproveitei para espreitar. Era um memorial a todos os Judeus romenos e aos Roma - nome dado ao povo cigano, como conhecemos em Portugal - mortos durante a 2ª Guerra Mundial devido aos Nazis e ao Governo Romeno.
Rio Dâmbovita - Janeiro de 2017
O espaço estava aberto. No interior, vazio e escuro, o objectivo, era na minha opinião, fazer sentir a solidão e o medo que aquelas pessoas devem ter sentido durante o período em que foram perseguidas. Gostei muito desta minha primeira paragem, com um cunho muito arquitectónico. Nas laterais, em aço corten, estavam marcados os apelidos das famílias perseguidas, e ao longo das escadas vitrines onde jaziam alguns objectos comentados que explicavam aos visitantes o tipo de perseguição e trabalhos forçados que estas pessoas foram obrigadas a fazer.
Memorial - Janeiro de 2017
Segui depois o meu caminho, supostamente até à entrada da Strada Lipscani, mesmo à entrada da Cidade Velha. A neve já tinha sido retirada das estradas, mas ainda existia em grande quantidade nas bermas. Os meus sofridos ténis da Reebok portaram-se muito bem - como são impermeáveis, mesmo quando tinha de pisar neve, não ficava com os pés húmidos. Podiam é ter um pouco mais de atrito, quando tinha de passar zonas com gelo, mas safaram-me bem durante todo o fim-de-semana. Aconselho a que quem vá para sítios com neve e gelo, aposte numas botas de sola alta, com nervuras, ou nuns ténis semelhantes aos meus, sempre impermeáveis, de modo a manter o conforto durante as caminhadas.
Chegada à Cidade Velha, avistei logo as ruas históricas, os pequenos e acolhedores pubs e os músicos de rua. É um ponto, sem dúvida, a não perder na cidade. O ambiente é fabuloso, especialmente nesta altura do ano. Contudo, à primeira vista não consegui aproveitar muito visto estar um tanto perdida e frustada por não conseguir encontrar o local que procurava. Tive, então, a brilhante ideia de entrar num dos hósteis ali perto. Numa das mesinhas, mesmo à entrada, estavam dispostos um mapas gratuitos da cidade. Apanhei dois e saí novamente. Já no exterior, pus-me a olhar e a pensar como é que iria coordenar a volta da manhã, já que o Free Walking Tour que queria fazer era apenas às 15h e ainda tinha algumas horas até lá.
Uns rapazes da minha idade viram-me atarantada a consultar o mapa e ajudaram-me, num inglês muito claro e correcto. Em Bucareste, muitas pessoas não falam inglês. É importante ir preparado para não ser compreendido e a ter de usar gestos para se fazer entender. O romeno, apesar de ser uma língua latina, é praticamente impossível de perceber sem ter algumas aulas e bases. A ler já é um pouco diferente, algumas palavras são parecidas ao italiano e ao português.
No entanto, a nova geração, parece muito educada e o seu nível de inglês é, no geral, bastante bom, bem melhor do que o dos italianos da minha idade com quem tenho contactado.
Apesar de todos os esforços e de todos aqueles com quem falei, não consegui encontrar o tal Posto de Turismo. Bucareste é uma cidade que começou recentemente a ser procurada pelos turistas, especialmente porque os preços das passagem aéreas são bastante acessíveis - veja-se o caso da Rayanair - de Itália, Espanha e outros países europeus. Ainda não se veêm grandes multidões de turistas e excursões, como tenho visto em muitas das cidades italianas que tenho visitado durante este primeiro semestre de aulas.
Decidi, então, começar a minha visita pela praça das Universidades. Diz que durante a semana, muitos sãos os vendedores de livros em segunda mão que por aqui andam, mas como era Sábado, encontrei apenas um. Tive pena, já que o meu irmão é um aficcionado pelas línguas e não queria sair de Bucareste sem lhe comprar um miminho literário em romeno, língua à qual ele também já fez uma incursão.
Praça das Universidades - Janeiro de 2017
Os edifícios são todos monumentais, em estilo neo, e decorados ao gosto clássico da Arte Déco no exterior. A faculdade de Arquitectura já ia debaixo de olho e comecei a minha volta por aí. Tenho sempre curiosidade em ver as faculdades de Arquitectura das cidades por onde passo para poder absorver por alguns minutos o ambiente, ver como estudam e trabalham os alunos, entre outros. A Faculdade de Arquitectura em Bucareste tem a acrescentar que para além do edifício mais recente, onde me pareceu passarem-se a maior parte das aulas e das actividades, um edifício histórico, neo-gótico, muito bonito e imponente, que vale a pena verificar.
Neste não se podia entrar pois parecia que servia apenas funções administrativas, mas no mais recente sim. Do exterior, é um edifício bastante austero mas que no interior tem detalhes bastante bonitos como, por exemplo, a escadaria da entrada. A faculdade chama-se Universitatae de Arhitectura si Urbanism "Ion Mincu", para quem tenha interesse em verificar. Mesmo ao Sábado encontrei lá muitos estudantes a trabalhar afincadamente nos seus projectos - há coisas que não mudam!
De seguida, fui a uma loja de chá, dá qual falavam muito bem na Internet com o intuito de comprar um miminho para mim. A casa chama-se Deemers Teahaus e fica mesmo na esquina entre a rua do antigo edifício da Faculdade de Arquitectura e a Praça. É um espaço pequenino mas muito catita, recomendável a todos os amantes do chá. Para além das mais diferentes variedades vendidas, é também possível adquirir canecas e acessórios para coar o chá. Estive muito tentada a comprar uma caneca como lembrança, mas tive medo que se partisse pelo caminho. O chá também não o pude adquirir pelo que segundo percebi pelo bilhete deixado na porta a funcionária tinha-se ausentado por cerca de uma hora.
Continuei a minha caminhada, desta vez com destino ao outro lado da Praça. Para atraversar as grandes praças da cidade de Bucareste pedonalmente, é necessário recorrer às passagens subterrâneas que servem o metro já que não existem passadeiras ao nível da rua e atravessar uma estrada com tantas vias e tão larga se poderia tornar perigoso. Do outro lado, erguia-se o grande Teatro Nacional de Bucareste - Teatrul National Bucuresti - claramente inspirado na obra de Ronchamp de Corbusier. O edifício do teatro fica mesmo ao lado do Hotel Intercontinental e de um pequeno jardim, onde se podem ver pequenas estátuas alusivas à Revolução Romena de 1989. Do que pude ver do exterior, vale a pena uma visita a este local, jé que todos os elementos são pensados ao pormenor: os candeeiros, os bancos...
Teatro Nacional de Bucareste - Janeiro de 2017
Aproveitei o facto de no exterior existirem uns bancos públicos e de lá estarem a bater uns raizinhos de sol para almoçar a sandes que tinha feito no dia anterior. Reparei que existe muita polícia nas ruas e que inclusivamente existem alguns membros do corpo policial constantemente presentes em pontos estratégicos e mais movimentados da cidade como é o caso desta praça. Os polícias têm uns pequenos postos de vigia cobertos, muito úteis agora no Inverno, devido às rigorosas condições atmosféricas.
Uma vez comida a sandes, rumei à Praça Unrii, onde tinha de estar para o Free Walking Tour. Pelo caminho, parei para comprar um tradicional Covrigii em versão doce - isto é com maçã no seu interior. Existem muitas banquinhas que vendem estas argolinhas de massa consistente, levemente adocicada, com os mais variados recheios. Esta de maçã e canela soube-me muito bem e custou apenas 1,5 Lei! Esta é uma excelente opção para quem quer almoçar por muito pouco dinheiro e provar algo que os próprios cidadãos comem geralmente.
Parei ainda numa das maiores e mais conhecidas livrarias da cidade - de seu nome Cărtureşti Carusel. Foi recentemente remodelada e estava curiosa para ver o trabalho que por ali tinha sido feito. A livraria abriu no século XIX e sempre foi um espaço muito frequentado pelos habitantes da cidade. Conta com vários andares e uma escadaria monumental que permite a mobilidade entre os vários espaços. Há livros, CD's, LP's, DVD's, jogos - uma parafernália de coisas. Existem opções em romeno e em inglês, já que muitos romenos pelo que me apercebi gostam de ler em inglês em vez de ler as traduções. No último piso, existe um bar/restaurante muito mimoso. Os preços são um pouco mais elevados do que nas restantes livrarias das cidade, que até são bastantes, mas nada impeditivos para que está habituado a preços milaneses em euros. É possível passar lá um bom bocado, já que nos varandins existem banquinhos próprios para que os visitantes se demorem um pouco a ler.
A livraria - Janeiro de 2017
Antes do Free Walking Tour ainda tive tempo de fazer uma visita a duas igrejinhas ortodoxas a caminho da Piata Unrii. As igrejas ortodoxas tendem a ser mais pequenas do que as católicas, no geral. Mal se entra, sente-se o cheiro intenso a incenso que nunca as abandona. Nestes espaços, não existem geralmente cadeiras, já que a multidão tende a assistir à celebração de pé, homens para um lado, mulheres para o outro. Muitas são as lembranças que se podem comprar, mas a mim bastou-me observar o detalhe na decoração interior: os frescos e o trabalho em mosaico fininho.
Às três, há hora combinada, lá estava eu pronta para fazer o Walking Tour. Nesse dia, o grupo era aparentemente grande. Muitos italianos e espanhóis, alguns nórdicos. Quem nos recebeu foi muito gentil: um par de jovens romenos, que nos separou em dois grandes grupos de modo a que fosse mais fácil ouvir e fazer perguntas.
Eu fiquei num grupo cujo o guia se chamava Andrei, um rapaz nascido e criado no centro de Bucareste e que também por ali tinha estudado. Era divertido e descontraído, de modo que perguntou a toda a gente de onde vinha e estava curioso por ouvir os motivos que traziam cada um de nós a Bucareste. Logo no início, fez uma abordagem geral à cidade, falando da influência francesa e do período comunista e da famosa ditadura de Nicolae Ceausescu, que governou o país durante um bom par de anos - até 1989 - altura em que o país finalmente se reuniu e deu por terminado um regime que estava a deixar a população à fome enquanto grandes obras públicas eram erigidas em meses.
Começámos por caminhar até ao Parlamento. O Parlamento de Bucareste é o segundo maior edifício parlamentar do mundo, apenas atrás do seu correspondente norte-americano. Foi uma obra grandiosa, que custou rios e rios de dinheiro - e ainda custa devido à manutenção. À sua frente ergue-se uma gigantesca praça e uma avenida que guia até ao topo do Parcul Carol I onde se localiza o Memorial ao Soldado Indefinido, onde uma tocha de fogo brilha 24 sob 24 horas, constantemente guardada por militares.
Um dado curioso sobre este edifício é que o projecto vencedor é de uma mulher, arquitecta romena, que se esmerou na megalomania proposta. Diz-se que no subterrâneo, o Parlamento tem quase a mesma área que se pode ver pelo exterior. Em 1989, quando o regime caiu, a obra ainda não estava totalmente completa, sendo que muitas das salas e dos espaços nunca chegaram a ser utilizados.
A segunda paragem foi junto ao Manuc'Inn, a mais antiga estalagem de Bucareste. Um albergue bem ao estilo dos seus similares do fim do século XIX, muito bem preservado apesar dos anos de abandono em que foi utilizado pelos comunistas para encontros e reuniões do partido. Manuc foi um importante comerciante da cidade, que não se sabe concretamente de onde era originário. Devido a incompatibilidades com o governo de Bucareste, foi expulso e este magnífico espaço foi abandonado. Muitos anos depois, há cerca de 5 ou 10 anos, um descendente directo de Manuc reclamou o espaço, que lhe foi finalmente concedido há coisa de um par de anos e que em breve espera transformar novamente num espaço que albuergue quem visita Bucareste. Por enquanto, funciona no espaço um belo restaurante que vende comida tradicional e segundo o que nos garantiu o guia, de muito boa qualidade.
Manuc'Inn - Janeiro de 2017
De seguida foi tempo de conhecer um pouco da história do Drácula. Filho do rei de uma das regiões que hoje compõe a Roménia, Vlad Tepes foi rapatado cedo pelos Otomanos de modo a garantir a lealdade do seu pai. Durante o período que esteve cativo, foi educado nas artes da guerra e a ser um bom estratega, para que de modo a que assim que assumisse o poder se aliásse junto dos Otomanos.
A verdade é que, Vlad, uma vez chegado, decidiu tomar as rédeas e ser independente. Os Otomanos, abendo de tudo isto, mandaram um pequeno exército a Bucareste para averiguar a situação. Sabendo disto, Vlad mandou empalar todos os soldados e colocá-los no caminho para Bucareste de modo a demover os que se seguiam a estes, já que não tinha um exército, capaz em número, para os defrontar. O que é certo é que a estratégia resultou!
A cidade de Bucareste também foi recentemente povoada por muitas estátuas, todas elas sobre um tema comum: a pertença à cultura latina. Tudo isto porque Bucareste foi tida como a cidade com menos estátuas na ruas e o município quis alterar a situação. Eis alguns exemplos menos felizes!
A paragem seguinte foi a Igreja de Stravopoleos, uma das igrejas que teve de ser arrastada, literalmente, à força de animais, de modo a sobreviver às fúrias demolidoras de Nicolae Ceausescu. No interiror, ainda vivem 9 monges, responsáveis por cuidar do espaço e do seu património, já que no local se encontram também outras peças importantes de igrejas que não tiveram tanta sorte quanto esta.
Stravopoleos - Janeiro de 2017
Parámos depois para um cafézinho e para nos aquecermos antes de continuarmos o passeio. Terminámos o passeio junto de uma das Praças mais importantes da Revolução, que começou numa outra cidade romena de seu nome Timisoara, mas que antes de vingar causou a morte a muitos estudantes revoltados.
O Tour acabou por volta das 17h, mas como só tinha encontro marcado com o meu host para as 19h, tive de arranjar plano para mais duas horas. O frio já começava a apertar mas ainda fui analisar algumas das visitas que tinha pensadas para o dia seguinte: o Museu Nacional de Arte Romena e o Ateneu. Segui novamente, numa volta engraçada pelas ruas da Cidade Velha, através da Calea Vitoriae, de regresso à Piata Unrii.
Chegada ao McDonals, sentei-me a ler um pouco do meu livro e a comer umas gomas, enquanto esperava pela chegada do meu host: Andrei.
A minha primeira experiência em Couchsurfing
Pouco tempo depois do combinado, chegou o meu host: Andrei. Foi muito amigável, apresentando-se. Pedi-lhe que se sentásse um pedacinho para que pudessemos falar um pouco. Queria saber um pouco mais sobre ele e ver se me sentia confortável na sua presença. Após alguns minutos de conversa, pareceu-me que era realmente uma pessoa com princípios e ideal para me acolher.
Sugeriu que fossemos jantar a um restaurante romeno, para comermos uma sopa quente barata antes de seguirmos para casa. Apanhámos um autocarro que nos levou até ao local num ápice. No interior, já jantavam muitos locais. O espaço era acolhedor e parecia tradicional, alumiado por luzes muito ténues, acompanhando o ambiente invernal. Pedimos um caldo quente; existiam vários à escolha, só de vegetais, com pedaços de carne. Pedi o mais tradicional; veio com carne, mas não me importei já que era para experimentar algo local. A sopa custou 7 Lei, o que é menos de 2€, por uma refeição completa e com direito a pão. É uma comida muito reconfortante e saborosa. Fiquei surpreendida, não esparava de todo gostar tanto ou que a gastronomia do país me surpreendesse tanto.
De seguida, apanhámos novamente um autocarro, desta vez até à casa do Andrei. O Andrei vivia num bloco de apartamentos num bairro da periferia da cidade. Do ponto de vista arquitectónico, achei muito engraçado, porque entrei num antigo bloco dos anos 70 mandado construir pelos comunistas de modo a garantir habitação condigna à classe operária.
Apesar do espaço reduzido, fui muito bem recebida e o serão foi passado à conversa, acompanhada por um chá de camomila, vindo directamente da Moldávia, de onde o Andrei era originário e seco pela sua família.
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